Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 10 de outubro de 2009

Golfinho – A História de um Sonhador, O

Baseado no best-seller de Sérgio Bambarén, que também foi responsável pela produção do filme, “O Golfinho - A História de um Sonhador” é mais uma animação que ainda acredita que simplicidade, inocência e pureza são capazes de agradar o público infantil. Para crianças menores de 5 anos, o filme deve ser sensacional. Já para os maiores, a paciência vai ser exigida.

A animação da vez conta a história de Daniel Alexandre Golfinho que vive com seu bando em uma lagoa separada do mar e, por ordem de seu líder, ninguém pode sair do local para evitar possíveis confrontos com os predadores que ali vivem. É impossível não lembrar de filmes semelhantes e perceber o que vai vir pela frente. Isso mesmo, alguém irá atravessar esse limite. E o corajoso só poderia ser ele, o simpático golfinho Daniel. Cheio de sonhos, ele parte para a aventura mais perigosa de sua vida e encontra o companheiro perfeito, Lulito, uma lula com um espírito aventureiro que irá ajudá-lo nessa grande jornada.

O peruano Eduardo Schuldt assina seu terceiro longa-metragem de animação e, mesmo que esta apresente uma boa evolução em relação aos trabalhos anteriores, a obra ainda está longe de atingir a qualidade das animações que dominam as bilheterias mundiais. A simplicidade da obra chega a ser irritante, uma vez que até as próprias crianças podem achar a história boba. É importante perceber que as crianças de hoje desejam, cada vez mais, agilidade e grandes efeitos visuais, e fugir disso é um risco, que muitas vezes até vale a pena correr, desde que a história compense, o que não ocorre aqui.

O golfinho Daniel, que é dublado pelo ator e apresentador Marcos Mion (“Um Show de Verão”), tem uma função semelhante a do peixinho Nemo. Sua coragem o impulsiona a vencer a barreira imposta em sua comunidade e correr, ou melhor, nadar atrás dos seus sonhos, da onda perfeita. É bom destacar o carisma do golfinho que conquista até os mais impacientes com a história. Dessa forma, percebe-se o que salva o longa é o seu personagem título.

Temáticas como a amizade, sonhos, aventuras e medos estão o tempo todo presente na obra como um elo de identificação do público. O que é estranho aqui é a tentativa frustrante de seguir o modelo das grandes animações ao impressionar o público com efeitos que, na verdade, retratam a real distância entre esta obra e as demais do gênero. Ora, o mais interessante seria usar tal diferença para mostrar algo novo e alternativo, e não tentar impressionar com efeitos que nos padrões atuais não representam nenhuma novidade.

A trilha sonora mescla composições feitas para a obra, com sons próprios do fundo do mar. A combinação disso consegue entrar em boa sintonia e, assim, pode ser considerado um de seus atrativos. Sequências com música sempre encantam as crianças, ainda mais se o ponto central da cena for um golfinho carismático que decide ir em busca de seus sonhos e para isso tem que enfrentar grandes perigos. E com esse recurso não há modernidade que ofusque o resultado da cena. Identificação pura por parte do público.

É importante ressaltar que o filme é uma co-produção entre Peru, Itália e Alemanha, e por isso, deve haver um estranhamento geral com a qualidade técnica do filme. Essa diferença muito se deve a falta de experiência do Peru em obras do gênero. Assim como em “Tô de Férias”, filme produzido na Alemanha e lançado este ano aqui, a diferença de qualidade é perceptível a qualquer um que conheça o mínimo sobre o gênero.

No final das contas, temos uma história que, ao contrário do que o trailer vende, não tem nada de extraordinária e tão pouco traz alguma novidade em seu argumento. A única diferença é o interesse do diretor em vender o longa como um verdadeiro clássico do gênero, o que está longe de ocorrer. Um filme que vai abusar da inocência das crianças e, principalmente, da paciência dos pais.

Marcus Vinicius
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