Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Pacto Secreto

O filme começa de maneira arrebatadora. Um longo plano sem cortes, onde vemos jovens em uma casa em festa, nos apresenta ao cenário em que toda a trama irá se passar. A sequência é realmente empolgante. No entanto, também é enganadora, porque ela faz crescer ótimas expectativas no público. Bastam vinte minutos para ficar notório que estamos diante de um filme de suspense comum, mas ainda dá pra se divertir.

A película é nada menos do que uma mistura dos mais famosos filmes de suspense do final dos anos 90. De “Pânico” (1996), o longa pega emprestado a ideia do assassino fantasiado, cuja identidade é revelada apenas no fim. De “Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado” (1997), temos jovens “gostosonas” e, principalmente, uma história de vingança de algum crime que os protagonistas cometeram, mas negaram assumir. O que muda? Apenas os rostos dos atores e a arma do assassino, além de um tom cômico que é inserido.

Na centro da trama, temos cinco amigas: Cassidy (Briana Evigan), Jessica (Leah Pipes), Chugs (Margo Harshman), Claire (Jaime Chung) e Ellie (Rumer Willis). Todas elas fazem parte da irmandade Theta Pi, juntamente com a sexta integrante Megan (Audriana Pautridge), que, no entanto, em um futuro muito próximo, deixará de fazer parte do time. Durante uma festa na casa das garotas, a “trupe” traça um plano para punir o namorado de Megan devido a uma traição cometida: a jovem fingirá passar mal e morrer depois que o companheiro a droga sigilosamente. Porém, toda a brincadeira assume um caráter sério depois que o garoto, enganado pela situação, mata verdadeiramente a namorada com uma chave de roda.

Assustadas com a tragédia, elas decidem guardar o segredo e jogam o corpo da garota em um poço de uma região bem isolada da cidade, assim como a arma do crime e o celular da vítima. A única que parece querer desrespeitar os princípios de sigilo e solidariedade de uma irmandade é Cassidy. Ela tem maus pressentimentos, os quais são confirmados oito meses depois, justamente na data de formatura de todas elas. Um assassino encapuzado e com uma chave de roda afiada passa a atormentá-las e ameaça matar uma por uma naquela noite caso não contem a verdade para a polícia. Ele tem provas de que sabe quem cometeu o crime e não irá poupar sangue para manter sua promessa.

Releitura de “The House on Sorority Row” (1983), “Pacto Secreto” começa empolgante. Um longo plano nos faz passear pela casa, mostrando a diversão dos jovens em noite de festa. A futilidade é inerente a todos, por mais que alguns saibam fingir melhor do que outros. O visual do filme logo impressiona. A fotografia dessaturizada e os intensos closes dão o tom. Mas a direção ousada de Stewart Handler, em seu segundo longa-metragem, é desfavorecida pelas inúmeras falhas no roteiro de Josh Stolberg e Pete Goldfinger. O argumento não consegue criar um suspense atraente, sempre optando por situações absurdas.

Todas as caricaturas dos personagens estão ali: a megera rica, a maníaca por sexo, a tímida e a mocinha. Mesmo de personalidades absolutamente diferentes, elas são amigas, para pouco depois descobrirem que não se gostam tanto assim. A relação entre elas até que nos diverte, principalmente quando o roteiro sacrifica a trama principal e cria cenas satíricas que exploram as divergências que todas possuem. No entanto, quando o assassino é posto à caça das garotas, o filme cai de rendimento. De maneira bastante clichê, cada uma vai sendo morta. A primeira, como não poderia deixar de ser, é a que recebe menos atenção na história, e assim por diante… Até que ficam apenas as duas que mais se odeiam, ou seja, não é tão difícil de adivinhar o que acontecerá na trama.

Por mais que o diretor consiga criar um certo suspense nas cenas das mortes, em especial a do banheiro, o argumento prejudica na originalidade. É engraçado observar como, mesmo ocorrendo em uma casa lotada de gente, as sequências dos assassinatos acontecem em locais isolados, em que ninguém é capaz de encontrar o corpo. Além disso, inúmeros furos de roteiro são deixados ao longo da produção. Não sabemos quem machucou o ex-namorado de Megan, nem os motivos que levam um falso suspeito a agir como assassino, e muito menos, por que a irmã de Megan, Maggie (Caroline D’Amore), insiste em querer acompanhar as Theta Pi. Mas o maior problema está relacionado a revelação da identidade do criminoso. Primeiro devido a facilidade em saber de quem se trata e segundo porque os motivos para a sua atitude não convencem nem ao mais inocente dos espectadores.

Recheado de jovens bonitas, o elenco até que está bem para um filme do gênero. As protagonistas Briana Evigan e Leah Pipes sustentam o longa com um talento revelador. As duas fazem escolhas distintas para compor o papel, mas possuem a mesma eficiência. Se Evigan opta pela discrição, Pipes escolhe o exagero, rendendo as cenas mais engraçadas do longa, como quando se depara com a amiga Megan em uma situação, digamos, de penúria em um banheiro da casa. Já Rumer Willis, filha de Bruce Willis, desperdiça muitas oportunidades de mostrar que não tem apenas sobrenome de referência e faz de Ellie uma garota mais insuportável do que Jessica. Já o restante do quinteto exerce bem sua função caricatural na película. Apenas Caroline D’Amore, como a irmã inconveniente e atirada de Megan, está desastrosa.

Toda a história de “Pacto Secreto” gira em torno de uma circunstância cômica que virou trágica, e essa é a tônica de todo o longa. Assim como na trama, tudo parece ser uma grande brincadeira. O roteiro explora tão exageradamente todos os clichês de filmes de suspense que pela metade da película nos questionamos se o seu objetivo é realmente dar sustos na plateia. Mesmo sem saber o seu tom certo, de sátira ou terror, “Pacto Secreto” não é das piores pedidas no cinema. Umas boas risadas vexatórias são recompensadoras.

Darlano Didimo
@rapadura

Compartilhe

Saiba mais sobre