Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Superman/Batman – Inimigos Públicos

"Superman/Batman - Inimigos Públicos" é a nova animação da Warner Premiere estrelada pelos heróis do Universo DC e lançada diretamente para o mercado de home-vídeo. Contando com um roteiro extremamente ralo, este média-metragem se salva graças às suas boas cenas de ação e por conta da interessante dinâmica entre a sua dupla de protagonistas, conhecidos como os melhores do mundo.

Do mesmo modo que "Liga da Justiça – A Nova Fronteira", este "Superman/Batman – Inimigos Públicos" é uma adaptação de uma HQ homônima. A obra original foi escrita por Jeph Loeb (roteirista do longa oitentista "Comando Para Matar") e desenhada por Ed McGuinness. Assim como na obra anteriormente citada, esta produção faz o possível para emular o clima da graphic novel que a originou, tanto no estilo de narrativa quanto no traço da animação.

Na trama, o maquiavélico empresário Lex Luthor, se aproveitando do clima de insegurança econômica e de depressão que assola os EUA, se elege Presidente do país, utilizando seu intelecto para salvar o país da crise financeira e reduzindo drasticamente os crimes na nação, além de aproveitar da situação para levar ao ostracismo todos os super-heróis que não se subjugarem ao governo, incluindo a dupla de protagonistas.

Superman e Batman, conhecendo muito bem com quem estão lidando, sabem que é uma questão de tempo até que Luthor mostre suas contas, estando na pior posição possível para deter o vilão. Eis que um meteoro entra em rota de colisão com a Terra. O próprio Superman sozinho daria conta dessa situação com uma mão amarrada nas costas, mas calha que o corpo celeste é formado totalmente de kryptonita, substância mortal para o Homem-de-Aço.

Atraindo o herói alienígena para uma proposta de trégua, Luthor o incrimina de um assassinato, colocando uma recompensa de um bilhão de dólares para quem lhe trouxer seu arquiinimigo, vivo ou morto. Contando com a ajuda do Homem-Morcego, a dupla terá correr contra o tempo e passar por quase todos os vilões, anti-heróis e heróis do Universo DC para desmascarar Luthor, provar a inocência do Superman e salvar o planeta.

O roteiro de Stan Berkowitz, veterano das ótimas séries animadas dos dois personagens e da Liga da Justiça, merece créditos por dar um jeito em alguns pontos bastante ilógicos da HQ original, como Luthor culpar o Superman por conta da vinda do meteoro e basear nisso a recompensa ou a associação de Metallo com a morte dos pais de Bruce Wayne, mas peca em não desenvolver muito bem os seus personagens e por manter boa parte do que tornou a conclusão da história infantil, corrida e confusa.

Não espere ver os alter-egos dos heróis em ação na película. Não vemos absolutamente nada de Clark Kent ou de Bruce Wayne na história. No entanto, Superman e Batman se chamam por suas identidades secretas e a amizade dos dois é muito bem trabalhada. É interessante ver o homem mais poderoso do mundo falando – mesmo que brevemente – de seu relacionamento com Lois Lane com Batman, dando um toque de humanidade para os dois protagonistas. Além disso, algumas "piadas internas" dos dois reforçam um clima de amizade natural da dupla de protagonistas.

Outro ponto positivo da película é o seu vilão. À medida que o filme passa, começamos a ver a loucura se apoderando de Lex Luthor, mas, desde o início, reconhecemos nele a figura de um homem incrivelmente inteligente e dotado de um potencial incrível, mas cujo ego monstruoso e sua necessidade patológica de adoração o transformaram no que há de pior na humanidade. É ótimo ver um antagonista que, apesar de completamente podre por dentro, ainda guarda certa complexidade.

Os demais personagens estão basicamente passeando na tela. Vemos dúzias de figurinhas carimbadas dos quadrinhos aparecendo na tela, mas poucas ganham um destaque efetivo. O militaresco Capitão Átomo e a heroína loira Poderosa ainda são minimamente desenvolvidos, mas a interação entre o Superman e o Capitão já fora melhor mostrada na própria série "Liga da Justiça – Sem Limites" e a relação entre a Poderosa e o Homem-de-Aço jamais fica muito bem explicada para o público que não acompanha os quadrinhos.

Durante as cenas de ação, a animação é quase perfeita. Diversos confrontos marcam o filme durante sua curta duração, destacando-se Superman e Batman contra Capitão Marvel e Gavião Negro, a batalha os personagens-título e os vilões de terceira do Universo DC e o embate entre o azulão e Lex Luthor no terceiro ato da trama. No entanto, durante as cenas mais paradas, a fluidez dos movimentos vacila por algumas vezes, mostrando uma relativa falta de cuidado do diretor Sam Liu.

Vale ainda ressaltar o ótimo trabalho de dublagem, destacando as vozes de Tim Daly (o Dr. Wilder da série "Private Practice") e Kevin Conroy como Superman e Batman, respectivamente. Ambos reprisam seus papéis nas respectivas séries animadas dos personagens, dando ao público uma sensação de continuidade. Daly dá uma voz bastante confiante e amigável ao Superman, perfeita para o primeiro dos super-heróis, enquanto Conroy, é a voz definitiva do Homem-Morcego.

No geral, trata-se de uma aventura rápida e descompromissada, mas que podia ser tremendamente mais interessante caso desenvolvesse melhor sua premissa, interessante o bastante para render até mesmo um ótimo longa live-action da dupla. Ficou apenas no potencial, mas ao menos diverte enquanto dura.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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