Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 12 de setembro de 2009

Juízo Final

Repleto de clichês e más atuações, "Juízo Final" é a típica baboseira que nem chega a ser muito apocalíptica que, mesmo possuindo uma ou duas cenas de ação mais movimentadas, pode levar o público ao sono.

Chegando aos cinemas nacionais com quase um ano e meio de atraso, esta produção poderia muito bem ter sido lançada em vídeo. Escrito e dirigido por Neil Marshall, "Juízo Final" mostra o Reino Unido – mas precisamente a Escócia – sendo atingido em 2008 por um vírus mortal chamado Reaper, altamente contagioso. Com as tentativas de conter a epidemia falhando, o governo resolve cercar toda a área afetada, deixando as pessoas de lá à própria sorte, mas não antes de uma única criança sobrevivente ser colocada em um helicóptero militar.

Anos mais tarde, aquela menininha tornou-se a Major Sinclair (Rhona Mitra) uma agente de elite do exército britânico. Sendo tutorada por um membro do alto escalão militar (Bob Hoskins), ela é enviada de volta ao seu local de origem depois que a praga aparece misteriosamente em plena Londres.

A missão dela e de sua equipe é de encontrar os sobreviventes do surto original, descobertos não tão recentemente pelo governo, e trazer uma cura para a doença, tendo como única pista o trabalho do Dr. Kane (Malcolm McDowell), um cientista que trabalhava em uma vacina para o vírus. Para isto o grupo terá de passar pelas duas facções que tomaram conta do lugar: um grupo de punks anarquistas e um clã medieval.

Nesta sinopse acima, já temos elementos de "Extermínio" e "Mad Max", dois ótimos filmes de "fim da civilização", que lidam com metáforas para a sociedade, possuem um enredo inteligente, personagens marcantes, cenas de ação interessantes e funcionam muito bem em seus respectivos gêneros, coisas que esta película passa longe de ter.

A situação já começa ruim com a protagonista do longa, Sinclair, vivida por uma Rhona Mitra que parece interessada em qualquer coisa, menos na trama. A atriz pode ser até bonita, mas sua interpretação de Sinclair é fraca, tornando a personagem um clichê ambulante de mulher-soldado, basicamente um clone da Ellen Ripley da franquia "Alien". Não é a primeira vez que Mitra falha em convencer em um filme de ficção, vide o recente e igualmente fraco "Anjos da Noite – A Revolução". O roteiro ainda inventa um olho biônico para a personagem, que deve entrar no rol das bugigangas mais idiotas da história do cinema.

O grupo da protagonista jamais é desenvolvido propriamente, com o espectador mal tendo tempo de saber os seus nomes, ou mesmo ganhando algum motivo para se importar com suas eventuais mortes. As únicas figuras que ainda ganham algum tempo de cena são os vilões do filme, mesmo se apresentando absolutamente caricaturais. O punk canibal Sol, vivido por Craig Conway, parece uma mistura infantil de Hitler, Sid Vicious e Faustão, gritando todas as vezes que é contrariado, com o seu ator causando mais nojo do que medo quando entra em cena.

Os políticos Canaris e John Hatcher são encarnados pelos atores David O'Hara e Alexander Siddig através dos estereótipos respectivos do canalha pomposo e do líder fraco, com suas ações maquiavélicas jamais sendo de nenhuma surpresa para o público e suas motivações bastante óbvias e genéricas.

Já o Kane vivido pelo carismático Malcolm McDowell chega até a despertar algum interesse quando surge, mas a credibilidade de seu personagem cai por terra graças ao roteiro do filme, que o coloca em uma situação absurda demais a se considerar, principalmente se o público parar para pensar um pouco em toda a parafernália que o grupo liderado por este possui.

O prólogo do longa mais parece uma cena do primeiro ato de "Resident Evil 2 – Apocalypse", não capturando a atenção do público para a história vindoura, que não é lá muito bem desenvolvida, repleta de clichês e furos, bem como de soluções vindas do nada – vide a ridícula aparição de um carro Bentley no horroroso terceiro ato da película. O visual dos grupos visto em cena não sai do lugar-comum e as cenas de ação, em sua maioria, não passam de perseguições genéricas, contando até com uma luta a lá "Gladiador" em uma arena entre a heroína e um cavaleiro medieval (!).

A trilha sonora do longa investe em músicas de rock pesado britânico que não empolgam muito e a fotografia do filme é clara demais, jamais criando qualquer atmosfera mais pesada ou mesmo auxiliando nas sequências mais movimentadas. No geral, este "Juízo Final" não passa de uma bobagem despropositada com uma conclusão estúpida e sem sentido ou criatividade.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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