Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 29 de agosto de 2009

Normais 2, Os

Rui e Vani, a dupla mais engraçada que já passou pela televisão brasileira em uma produção seriada, voltam seis anos depois do sucesso de "Os Normais - O Filme". Sempre afiados e com o humor irretocável, "Os Normais - A Noite Mais Maluca de Todas" utiliza com êxito as fórmulas que fazem o seriado ser querido e referência de comédia até hoje. Sendo assim, não tem como não "despirocar" de rir.

Em 2003, o diretor José Alvarenga Jr. levou o texto de Alexandre Machado e Fernanda Young para as telonas ao mostrar como Rui (Luiz Fernando Guimarães) e Vani (Fernanda Torres) se conheceram. No longa, cada um ia casar com seus respectivos parceiros, quando tudo dá errado e eles passam o dia juntos, culminando em uma grande paixão. Em "Os Normais 2", o casal está junto há 13 anos, dos quais alguns já são de noivado. Entediada da vida a dois que levam, Vani resolve apimentar a relação e sai com Rui à procura de um ménage à trois. Durante os poucos 75 minutos do longa, a dupla passa por situações constrangedoras e hilárias.

A principal diferença entre os dois filmes está no primeiro ser uma comédia romântica melhor identificada, enquanto este é apenas uma comédia de situações. Daí, temos um retrocesso interessante do segundo filme ao sitcom apresentado pela Rede Globo, o que pode aparentar ser apenas um episódio estendido do seriado. Entretanto, Alvarenga Jr., assim como fez em "Os Normais – O Filme", sabe que a história será contada no cinema e mescla com sucesso as características lúdicas, físicas e verbais dos personagens, presentes no seriado, e as situações que eles vivem com a linguagem do cinema. Ao mesmo tempo que o diretor se utiliza de locações visivelmente feitas em estúdio (exceto a sequência da praia, por exemplo), que dá um toque de sitcom ao filme, ele não se importa em usar recursos como a tela verde para recorte e inclusão de efeitos visuais ou o exagero, características vistas em alguns episódios do seriado.

Por outro lado, Alvarenga Jr. não faz apenas televisão em "Os Normais 2". Ele realiza a primeira sequência do longa dando mais movimentação à câmera e criando em cima de uma situação quase imaginária. Na sequência final da praia, o diretor assume os grandes enquadramentos e o melodrama mais cinematográfico. Neste meio a meio, Alvarenga Jr. realiza um filme cujo objetivo maior é satisfazer os fãs que até hoje sentem falta de Rui e Vani, o que é correto a partir do momento que o novo público não é excluído. Aqui, todos são bem vindos, porque as situações vividas pelos protagonistas são comuns, até certo ponto realistas e fazem rir de qualquer jeito.

A temática do desgaste dos relacionamentos é clichê, mas o longa ganha justamente por trazer um desgaste questionável na vida de duas figuras que foram feitas uma para a outra. Como não concordar com o gráfico que Vani faz no espelho do banheiro sobre sexo e tempo? O roteiro não quer ensinar como manter a chama da paixão acesa, nem quer fazer com que o espectador pense muito sobre isso, mas quer apenas entreter com o bad day da vida de dois malucos. É tanto que, em um determinado momento, a personagem de Drica Moraes amedronta os protagonistas dizendo que, com um ménage, a vida do casal não seria a mesma. O momento dramático dura pouco e Vani, a mais preocupada com isso, sai da situação por cima.

É isso que o roteiro oferece ao público e é isso que o diretor e o elenco dão. Se existe alguma falha grave em "Os Normais 2" é por não transgredir mais do que já foi feito antes, sem a ambição de trazer novidades. Machado e Young optam por continuar "despirocando" seus personagens e fazer o público rir, investindo em diálogos rápidos, humor acidérrimo e piadas físicas que funcionam. Até os escrachos são bem solucionados pelos roteiristas e pelo diretor, já que qualquer situação ali poderia simplesmente ser destruída por uma equipe que não captasse a essência do que foi "Os Normais".

Juntamente a esta equipe técnica competente, o talento de Luiz Fernando Guimarães e Fernanda Torres continua proporcionando momentos impagáveis, principalmente os de Vani. O destaque é sempre de Torres, que neste filme enlouquece de todos os jeitos possíveis. O elenco também é composto por estrelas da televisão nacional, como Drica Moraes, Claudia Raia, Alinne Moraes, Daniele Suzuki, Danielle Winits e Daniel Dantas. Ao contrário de "Os Normais – O Filme", em que Marisa Orth e Evandro Mesquita tinham maior participação devido ao plot do filme, aqui o elenco secundário é realmente secundário, sem a necessidade de maior interação com os protagonistas. Todos aparecem para resolver um fragmento da narrativa. Assim, o elenco global não tira a atenção de Rui e Vani, que são as verdadeiras estrelas e com quem o público quer e precisa se importar.

Em um determinado momento, Vani reclama que Rui nunca mais a levou ao cinema e que tinha uma boa comédia de quiprocó em cartaz e é isso que define "Os Normais 2". Um filme para fãs ou iniciantes, com momentos incríveis de diversão e risada garantidas. Como qualquer episódio, sempre fica um gosto de quero mais ao final da projeção. E se você disser que nunca passou nem perto de alguma dessas situações constrangedoras que são vividas por Rui e Vani no momento da paquera ou de um relacionamento, comece a se questionar se você está levando a vida com prazer e diversão.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

Compartilhe

Saiba mais sobre