Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 29 de agosto de 2009

Normais 2, Os

Seis anos depois do fim da série televisiva e do lançamento do primeiro filme, o casal mais engraçado e desbocado do Brasil volta à grande tela. Em “Os Normais 2”, mais uma vez, em uma única e louca noite, Rui e Vani se envolvem em situações absurdas (nos diversos sentidos que essa palavra pode ter). Dessa vez, porém, nem o incrível timing cômico de Fernanda Torres salva a produção do fracasso, proporcionando apenas escassas risadas ao público.

A série “Os Normais” nasceu em 2001 e durante cerca de três anos se tornou a grande atração das noites de sexta-feira na televisão nacional. Os episódios tinham a duração de apenas meia hora, mas era o suficiente para que acompanhássemos histórias hilárias do casal de noivos mais maluco e sincero do País. Depois da consagração de crítica e público, veio a ideia de fazer uma versão cinematográfica, que na verdade, é, nada mais nada menos, que um episódio alongado da série.

O diferencial não estava na direção nem nas atuações, mas na trama: conhecemos como teve início o relacionamento de Rui e Vani, algo que nunca tinha sido mostrado na TV. Dessa vez, o sucesso de público continuou, mas o filme passou longe da unanimidade com a crítica. Cinematograficamente questionável, a película, no entanto, acerta em cheio em todas as suas intenções de fazer rir. E depois de um longo período sem notícias, Luiz Fernando Guimarães, Fernanda Torres, Alexandre Machado, Fernanda Young e José Alvarenga Jr. voltaram a se reunir para uma segunda versão para os cinemas da série. Mas “Os Normais 2”, além de sofrer do mesmo mal do primeiro filme, não consegue fazer o que é pré-requisito básico para “Os Normais”: rir.

Como não poderia ser diferente, a trama é bastante simples, o que importa aqui não é a história em si, mas as situações em que eles se envolvem. Depois de treze anos de noivado, Rui (Luiz Fernando Guimarães) e Vani (Fernanda Torres) passam por uma crise sexual em seu relacionamento. O sexo está se tornando cada vez mais raro e isso parece incomodar bastante Vani. Para tentar apimentar a relação, ela adere a sugestão de outras mulheres e sugere a Rui realizar um ménage à trois, ou seja, sexo a três.

À primeira vista, quem vem a mente é Silvinha (Drica Moraes), prima de Vani. A moça hesita no começo, principalmente devido a um pequeno problema no pé de Rui, para depois aceitar com certas condições. Entretanto, um acidente desastroso acaba adiando, por algumas horas, a primeira incursão do casal no universo das fantasias sexuais mais ousadas. Mas essas horas vão passando de maneira frustrada depois que várias tentativas dão errado com as mais diferentes figuras: uma bicampeã de kickboxing (Daniele Suzuki), uma heterossexual sem pudor (Cláudia Raia), uma francesa (Mayana Neiva) e uma garota de programa (Alinne Moraes). Até que a dupla consiga concretizar o seu desejo momentâneo, eles não vão medir esforços para isso, e em se tratando de Rui e Vani, tudo é possível. E tudo isso numa única noite.

“Os Normais” sempre teve duas grandes atrações: Fernanda Torres e os diálogos; e para tudo funcionar os dois itens precisam estar em perfeita integração. Em “Os Normais 2”, a atriz permanece genial no papel que a popularizou no País, mas não impede que o filme decepcione. As cenas em que Torres aparece continuam as mais engraçadas, mas poderiam ser bem mais. O problema está no roteiro de Fernanda Young e Alexandre Machado, que parece esquecer os diálogos como ponto forte da película e aposta em circunstâncias absurdas e ridículas, como quando a dupla apronta em um hospital ou quando se envolvem com uma francesa em um bar do litoral carioca. Nesta última sequência, que se passa em um luxuoso hotel, surge até um bicho preguiça, por mais medonho que isso possa soar.

Entretanto, mesmo nas cenas de diálogos, Young e Machado não fazem o filme funcionar. Todos são bastante clichês, utilizando-se de piadas comuns e sem um pingo de graça, com destaque para duas: a conversa entre as mulheres no banheiro feminino do bar e a insistente volta do personagem de Daniel Torres, cujo nome nem Rui nem Vani são capazes de lembrar. Mas a ponta do iceberg do fracasso do roteiro é a virada sentimental que ele impõe na produção já perto de seu desfecho. Subitamente, o filme deixa de ser uma comédia para passar a ser um drama dos mais intensos, com direito a ameaça de suicídio.

Já José Alvarenga Jr. dirige o longa no mesmo padrão da série televisiva, com tomadas simples e sem ritmo. Se no primeiro filme contávamos com uma história não-linear para acelerar a narrativa, neste todos os fatos são mostrados irrestritamente em ordem cronológica. O conceito de direção de arte continua respeitado, sempre com cenas em ambientes fechados, seja bar ou apartamento, confirmando a incapacidade da equipe em traduzir a linguagem da televisão para o cinema. Alvarenga vacila também nas sequências finais já citadas, em que muda a textura da câmera para um formato de maior definição, destoando do restante do filme.

Enquanto isso, não sobra muito espaço para que o talentoso elenco brilhe. Luiz Fernando Guimarães sai ileso do desafio que o roteiro lhe impõe, destacando-se em algumas poucas cenas. Já os coadjuvantes têm resultados distintos: a talentosa Drica Moraes aproveita bem o pouco tempo que tem no longa, enquanto Cláudia Raia está estupenda; Danielle Winits e Daniele Suzuki não causam nenhuma graça; já Alinne Moraes e Mayana Neiva cumprem bem a suas funções.

Assistir a “Os Normais 2” nos faz ter saudades dos bons tempos da série na TV, em que em trinta minutos nos era proporcionado uma imensa sensação de prazer e felicidade que perdurava por horas ou mais. Talvez o problema esteja exatamente aí: a ideia foi feita para ser televisionada e não cinematografada. Então é esperar que os boatos de que alguns episódios serão produzidos ainda este ano sejam verdade, porque esses personagens são muito preciosos para terem um fim tão desastroso.

Darlano Didimo
@rapadura

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