Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 25 de agosto de 2009

Veronika Decide Morrer

O nome de Paulo Coelho finalmente surge nas telonas. O autor brasileiro, que já vendeu por volta de 100 milhões de cópias de livros ao redor do mundo, agora tem “Veronika Decide Morrer” no cinema, filme que não economiza ousadia para tentar proporcionar as mesmas sensações obtidas na leitura do livro. E consegue.

Veronika é uma bela mulher que não encontra mais motivo para viver. Ela então decide pelo suicídio, mas para sua surpresa ela não consegue e, mais do que isso, acorda em uma clínica e descobre que tem pouco tempo de vida. Aos poucos, Veronika vai descobrindo novamente a vontade de viver e a importância de cada momento de sua vida, chamando de milagre. O que impressiona não é história que até pode ser considerada bem óbvia, mas sim o seu desenrolar com o auxílio dos aparatos técnicos que casam perfeitamente na obra.

O elenco é encabeçado por Sarah Michelle Gellar, que finalmente consegue afastar sua imagem da caçadora de vampiros. É notório o esforço da atriz em tentar expressar exatamente a peculiaridade de sua personagem, uma vez que a mesma não hesitou em fazer cenas bem constrangedoras como quando Veronika se excita só em olhar para um rapaz que, assim como ela, também estava internado. O esforço valeu a pena e a atriz consegue ter um de seus melhores desempenhos no cinema.

O longa é dirigido pela desconhecida Emily Young, que consegue desempenhar um eficiente trabalho ao dosar toques de ousadia com elementos fundamentais do livro como a complexidade de Veronika. Além disso, a diretora não caiu nos principais vícios que as obras do tipo acabam seguindo. Ela evita que o filme seja totalmente uma versão auto-ajuda e ainda consegue impor uma profundidade bem apropriada para a obra, mantendo também um ritmo interessante que muito agrada por prender o espectador.

A fotografia também não fica por baixo e é o grande destaque da película. Ela proporciona um verdadeiro espetáculo visual ao mostrar através de imagens únicas um universo complexo de sensações que são traduzidas da melhor forma possível. O principal momento é quando Veronika descobre o gosto pela vida e assim percebe como tudo em sua volta é lindo e real, sensação que consegue ser perfeitamente captada pelos espectadores.

A trilha sonora de Murray Gold é, no mínimo, espetacular. A sutileza é responsável não só pelo bom andamento das cenas, mas também por engrandecê-las ao ponto de ditar o ritmo de cada uma. Destaque para as cenas em que Veronika toca piano. Angústias, incertezas, medos e desejos causam um estado de êxtase à personagem. Sensacional.

Os poucos cortes existentes deixam a história um tanto cansativa e lenta e ofuscam o desenvolvimento de uma parte da obra. Um outro fator que também não deu para entender foi a participação de David Thewlis que, embora tenha uma grande importância na história, é apenas mais um na obra. Em alguns momentos até surgem cenas em que o Dr. Black demonstra um pouco de profundidade, mas nada muito relevante e suas cenas acabam sendo quase descartáveis.

"Veronika Decide Morrer" agrada principalmente ao traduzir as palavras do autor brasileiro adequadamente. Paulo Coelho deve estar feliz com o bom resultado da película, levada ao cinema de uma forma bem profunda e eficaz.

Marcus Vinicius
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