Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 15 de agosto de 2009

Arraste-me para o Inferno

Pense um pouco a respeito de quantos diretores de filmes de terror fazem um trabalho tão competente ao ponto de serem lembrados por seus trabalhos. Se você não é fanático pelo gênero, provavelmente não conseguirá dizer mais do que dois ou três nomes.

Sam Raimi provavelmente não irá figurar entre os mais lembrados, graças à franquia blockbuster “Homem-Aranha”, projeto no qual está envolvido desde 2002. No entanto, antes dessa série e de filmes de menor destaque, o início da carreira do americano foi marcada pela trilogia “Evil Dead” (traduzida como “A Morte do Demônio” ou “Uma Noite Alucinante”), que acabou se tornando um clássico cult apesar do baixo orçamento e dos efeitos artesanais (ou justamente por isso). Depois de flertar com o gênero do suspense em 2000 com “O Dom da Premonição”, Raimi está de volta ao que faz de melhor.

Reciclando e reutilizando grande parte dos clichês dos filmes de terror, em “Arraste-me Para o Inferno” o diretor mantém intacto seu estilo. Assinando o roteiro em parceria com seu irmão Ivan, os Raimi contam a história da determinada Christine Brown (a carismática Alison Lohman), uma analista de créditos de um banco em Los Angeles que compete com o novato Stu (Reggie Lee) por uma vaga para assistente de gerência e que, para provar ser capaz de tomar decisões difíceis, decide negar uma extensão de crédito para a hipoteca da casa de Sylvia Ganush (Lorna Raver), uma medonha senhora. Sentindo-se humilhada, a velha amaldiçoa um botão do casaco da garota, liberando uma terrível entidade chamada Lâmia.

Ao assistir a introdução do filme, onde os nomes dos realizadores e da equipe surgem enquanto ilustrações macabras em folhas de livros antigos aparecem e desaparecem, é fácil perceber as semelhanças entre os filmes mais antigos, nos quais os créditos principais são revelados no início do longa, e não no final. Mas, para firmar seu ar de terror de décadas passadas, Raimi conta também com a trilha sonora de Christopher Young, que dá ganhos cada vez maiores em suas melodias quando estamos diante de uma cena de tensão. A mixagem de som segue a mesma linha, apostando na combinação de som alto e imagem horripilante para arrancar os quase sempre previsíveis sustos da plateia de espectadores.

Outro aspecto que reafirma seu estilo e o diferencia dos demais é a utilização dos recursos de efeitos especiais. Em uma época em que os filmes de terror apelam para o estilo gore-splatter, onde vísceras, sangue e inimagináveis mutilações predominam e fazem questão de se tornarem cada vez mais reais, Sam Raimi ressurge com o terror trash e é muito bem sucedido ao usar com moderação os efeitos especiais e ainda apostar em maquiagens, sombras, vultos e angulações de câmera para arrepiar o público.

Como resultado, “Arraste-me Para o Inferno” se torna um terror estilizado, garantindo bons sustos e também boas risadas, pois o diretor consegue satirizar seu próprio estilo, fazendo os sacrifícios de animais e gosmas nojentas tornarem-se um artifício de comédia.

A atuação de Alison Lohman acaba se tornando um show à parte, com a garota empenhando-se ao máximo em trazer para as telas o retrato da caipira Christine, que ora banca a clássica protagonista de filme de terror proferindo os mais afiados gritos, ora torna-se cúmplice do humor negro da história.

Provando sua competência no gênero que o consagrou, Sam Raimi explora com sabedoria a construção dos personagens e da trama que os cercam, amarrando a narrativa, tornando-a coerente e explorando os muitos finais possíveis para esse novo clássico do gênero.

Marina Alves
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