Blockbuster assumido, "G.I. Joe - A Origem de Cobra" acaba sendo um filme leve e divertido, bem melhor que outros exemplares desta temporada. Mesmo com furos de roteiro muito visíveis, o público vai ter nostálgicos flashbacks da época que brincava com os bonecos e veículos dos Comandos em Ação, lá nos idos dos anos 1980/90.
Fazendo uma pequena observação, na minha cabeça “G.I. Joe – A Origem de Cobra” se chama “Comandos em Ação”. Não é uma rusga legal entre a Hasbro e a Estrela que vão me furtar este pequeno prazer. Bom, sendo bastante direto, os fãs dos Comandos podem ficar tranquilos, já que o diretor Stephen Sommers não destruiu a infância de ninguém com este filme (alô “Dragonball Evolution”), tratando o longa acertadamente como uma brincadeira de meninos gigantesca, realizando um pipocão bastante eficiente, embora pontualmente problemático.
A trama se passa “em um futuro não muito distante”, onde os soldados da OTAN Duke (Channing Tatum) e Ripcord (Marlon Wayans) são encarregados de chefiar o transporte de um perigoso armamento, criado pelo industrial armamentista McCullen (Christopher Eccleston), para a organização. No caminho, eles são emboscados por uma força inimiga altamente armada, liderada pela ex-noiva de Duke, Ana (Sienna Miller), agora chamada de Baronesa. Salvos em cima da hora por um grupo internacional de soldados de elite, os Comandos (ou G.I. Joes), a dupla resolve se juntar à equipe para descobrir o que quase os matou e destruiu sua unidade. Mal sabe Duke que, no centro de tudo, está uma figura de seu passado.
O roteiro fez a boa escolha de mostrar os Comandos já em ação, meio que nos colocando na pele dos dois recrutas. As origens de certos membros-chave são apresentadas aos poucos, mas não esperem grandes desenvolvimentos de personagem. A equipe principal é bastante diversificada, contando com o estrategista e “braço-forte” Heavy Duty (Adewale Akinnuoye-Agbaje); a bela, inteligente e hábil Scarlett (Rachel Nichols); o especialista em comunicação Breaker (Saïd Taghmaoui); e o silencioso e mortal ninja Snake Eyes (Ray Park), além do líder General Hawk (Dennis Quaid).
Para alegria dos fãs, boa parte dos heróis está bem caracterizada, embora haja algumas diferenças. O grande problema vem do visual um tanto quanto padronizado do grupo, que embora seja mais condizente com um grupo militar, mas que pode desagradar os puristas. No entanto, estes irão adorar ver Snake Eyes (quase que idêntico ao original) agindo – embora eu tenha sentido saudades do lobo que acompanhava o bonequinho do ninja.
Enquanto Snake Eyes beira a perfeição e o restante do elenco faz um bom arroz-com-feijão, com Christopher Eccleston é uma figura que esbanja arrogância e prepotência ao último grau. O ninja mercenário Storm Shadow (Byung-hun Lee) rouba a cena todas as vezes em que aparece, com suas lutas contra Snake Eyes sendo os pontos altos da projeção. A Baronesa de Sienna Miller é sensualidade pura, possuindo uma boa química com Channing Tatum e fazendo com que eu me perguntasse onde é que eu me alisto para a organização maligna, além de deixar o público masculino babando com sua cat fight com Scarlett. E é melhor não se falar muito do obscuro Doutor (Joseph Gordon-Levitt) e do dissimulado ”bom companheiro” Zartan (Arnold Vosloo) para não estragar certos detalhes do filme.
O próprio texto do longa já indica um acertado pendor para o lado mais caricatural, vide as tags da franquia “Um verdadeiro herói americano” e “Saber é metade da batalha”, aparecendo apenas para os fãs, referências às diversas fases dos Comandos (inclusive à recente Sigma 6) e diálogos que lembram mesmo o dos personagens do desenho da série clássica. Entretanto, escorrega feio ao explorar pouco aquele que deveria ser o antagonista principal do filme. Furos como soldados geneticamente sem medo entrando em pânico ou uma visita a um laboratório em Paris que não faz o menor sentido passam batidos, mas o tempo limitado de tela dado ao Comandante Cobra realmente incomoda, com o vilão-título do filme ganhando apenas sua origem e só.
Stephen Sommers encara o projeto sem muita pretensão, sendo esta sua grande arma. É com a intenção de apenas “brincar com os bonecos” que o cineasta comanda o filme de um modo bem leve e com um ritmo frenético (mas nada ao nível de Michael Bay), encaixando cenas de ação bem coreografadas e que claramente não foram feitas para ser realistas, com a violência presente na fita sendo bem cartunesca.
A direção de arte e o design de produção captam bem esse espírito, com os ambientes e armamentos jamais tencionando apontar para a realidade e sim para os bonecos de outrora. Existem falhas técnicas, com os efeitos derrapando aqui e ali e o excesso de cenários e figuras digitais acabam por prejudicar um pouco a fotografia da fita que, por momentos, fica excessivamente “plástica”.
Já deixando bem claros os ganchos para eventuais continuações, “G.I. Joe – A Origem de Cobra” divertirá seu público-alvo e tem suas falhas bem escondidas pela sua aura de simplicidade. Claro que existem histórias bem mais maduras e complexas sobre os Comandos em outras mídias, mas Sommers não insulta os fãs com esta produção que possui um clima ingênuo que pode até trazer certa nostalgia para os saudosistas.