Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 11 de julho de 2009

Proposta, A

Em “A Proposta”, Sandra Bullock volta a aparecer em mais uma comédia romântica. Desta vez acompanhada de Ryan Reynolds, a atriz ajuda a contar mais uma história do gênero, em que o mocinho e a mocinha passam por diferentes situações até se apaixonarem. Sem apresentar nenhuma novidade na trama, o filme serve apenas como um entretenimento instantâneo.

Hollywood possui um roteiro padrão para comédias românticas, que é seguido à risca pela maioria dos cineastas, principalmente aqueles desprovidos de originalidade e ousadia. Como princípio mais do que básico, as películas devem ter um final feliz acima de tudo, já que o público alvo destes filmes (os adolescentes) não aceitaria ou estranharia um desfecho diferente. Aqui a grande “sacada” não está no que irá acontecer, mas quando e onde. Nas comédias românticas, os protagonistas são pessoas absolutamente diferentes, que possuem desprezo um pelo outro. No entanto, uma série de situações (em grande parte engraçadas) os aproxima e fazem com que os dois se conheçam melhor. Mas quando tudo leva para a inevitável união dos mocinhos, um acontecimento trágico os separa, o qual serve apenas para que ambos concluam que não conseguem viver um sem o outro. E o fim todo mundo já sabe. Em “A Proposta”, todos esses elementos são respeitados. E o problema do filme está exatamente aí, pois a previsibilidade prejudica o desenvolvimento da trama e faz do longa mais uma obra esquecível do gênero.

No centro da fita, temos Margaret Tate (Sandra Bullock), uma das chefonas de uma editora de livros nova-iorquina que é conhecida pela sua antipatia com os colegas de trabalho. Ela é também muito odiada pelo seu assistente-executivo, Andrew Paxton (Ryan Reynolds), que é diariamente recomendado pela família a deixar o emprego. Entretanto, Tate se vê em uma encruzilhada ao saber que será deportada dos Estados Unidos e será enviada de volta a sua terra natal, o Canadá. Para preservar o emprego e conseguir o green card, ela tem a imediata ideia de armar um falso casamento com seu assistente, deixando-o embasbacado. Forçado a aceitar a proposta, Andrew leva a então “noiva” para conhecer a família em Sitka, Alasca.

A partir de então, o casal fará de tudo para manter o segredo guardado, com a intenção de receber a aprovação dos pais de Andrew. Inicialmente, o fingimento leva os dois a se odiarem ainda mais, para que posteriormente um aprofundamento da sua relação os faça notar o quanto são parecidos. No entanto, a imigração está na cola de ambos, assim como a bela ex-namorada de Andrew, Gertrude (Malin Akerman), e a espevitada vovó Annie (Betty White). Cabe aos dois agora decidirem se continuam com a simulação e enganem a família ou revelem tudo prezando pelo mútuo respeito que nasceu entre ambos no período.

A primeira parte de “A Proposta” é tomada por situações cômicas e é nesse ínterim que o filme funciona. Todas as cenas iniciais que se passam no escritório e as que levam o casal ao Alasca são bem construídas, apesar de não serem estupendas. A relação dos dois não chega a ser exagerada, por isso se torna crível o desenvolvimento desse convívio. O fato de Andrew Paxton ser o único herdeiro de uma família rica é outro acerto, pois seria ainda mais clichê se a película explorasse as discrepâncias financeiras dos dois. Isso também já impossibilita uma idealização ainda maior do romance. Além disso, temos pais e avós humanos, que não estão ali apenas para fazer gracinhas. Mesmo a avó Annie, que tem uma clara função cômica no longa, protagoniza sequências que deixam a risada de lado e prezam pela emoção.

Entretanto, falta ao filme originalidade e, principalmente, uma resolução menos “água com açúcar”. Tentar transformar Margaret em uma espécie de Miranda Priestly, de “O Diabo Veste Prada”, é o mais evidente dos “plágios” da película. Outro é tirar a história da cidade e levar para o campo, coisa de deu certo em “Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada”. Depois disso, não seria surpresa dizer que “A Proposta” foi escrito por um roteirista estreante na função: Pete Chiarelli. Ele faz da fita uma daquelas em que cada frase dita se tornará motivo para uma sequência engraçada posteriormente. Por isso, quando a mãe de Andrew cita, “por acaso”, que o cachorrinho da família não pode deixar as dependências da casa porque ele pode ser atacado por uma águia, sabemos que o bichinho conseguirá sair e que as bizarras (e até boas) cenas que se seguirão envolverão a “fresca” personagem de Bullock.

Se Chiarelli acerta a mão ao desenvolver um desentendimento entre Andrew e seu pai, erra bastante ao criar uma espécie de departamento de imigração americano anti-privativo e adepto de um método ridículo de investigação. Mas a maior falha do roteiro é não criar situações que justifiquem a união de Margaret e Andrew. Tudo seria bem mais plausível se o rapaz tivesse terminado com a sua ex-namorada, já que há razões suficientes para isso. Os dois demonstram gostar um do outro e parece não haver nenhum empecilho evidente para que eles terminem juntos.

Responsável por “Ela Dança, Eu Danço” e “Vestida para Casar”, Anne Fletcher dirige o filme apoiando-se nas performances dos atores. Sem demonstrar talento com técnicas de câmera ou ritmo de narrativa, a diretora conta um elenco competente. Bullock mostra que sabe o que fazer em comédias românticas e nos proporciona mais uma boa performance. O seu par da vez, Ryan Reynolds, ainda está longe de possuir o timing cômico de Bullock, mas também não está mal.

O destaque do elenco vai para todo o resto da família Paxton, principalmente a mãe. Mary Steenburgen, ganhadora de um Oscar, rouba várias cenas como uma mãe amorosa e ciente da falta que o filho faz ao morar em Nova York. Craig T. Nelson, o pai, e Betty White, a vovó, são o exato oposto um do outro, mas possuem a mesma eficiência. Se ele traz a seriedade e rispidez, ela é uma grande brincalhona. Sobra para Denis O’Hare, o agente da imigração americana, o papel mais ridículo do longa, e ele acaba aceitando a caricatura.

Com uma parte técnica dispensável, principalmente sua trilha sonora (componente essencial de uma comédia romântica), “A Proposta” proporciona risadas isoladas, sustentando-se em seu bom elenco, mas apenas isso. Sem mais atrativos, o filme é esquecido rapidamente ao fim da projeção.

Darlano Didimo
@rapadura

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