Sendo bastante honesto, cheguei para a sessão de "17 Outra Vez" com as piores das expectativas. Não compreendo o hype em volta de Zac Efron, não gosto da franquia "High School Musical" e o trailer não havia me deixado lá muito animado. Nos primeiros cinco minutos de projeção, o longa dava sinais que corresponderia às minhas baixíssimas expectativas, mas surpreendeu positivamente após isso.
A história da fita segue a premissa básica das tramas de mudanças de corpos – que, de tão corriqueiras, já constituem quase um gênero à parte. Mike O’Donnell, em sua juventude (Efron), tinha o mundo aos seus pés. Líder do time de basquete de sua escola, ele estava prestes a conseguir uma bolsa de estudos para a faculdade graças aos seus talentos esportivos.
No entanto, minutos antes de sua partida decisiva, sua namorada, Scarlett (Allison Miller), diz a ele que está grávida, fazendo com que ele imediatamente largue a partida e saia para cuidar de sua amada. Vinte anos depois, um amargurado Mike, agora vivido por Matthew Perry, acabou de ser largado por Scarlett (Leslie Mann), que está prestes a se tornar sua ex-mulher e preso em um emprego que odeia.
Vivendo com seu rico amigo nerd Ned (Thomas Lennon), o protagonista se vê ignorado por sua filha mais velha, Maggie (Michelle Trachtenberg), e distante de seu caçula, Alex (Sterling Knight), ambos estudando em sua antiga escola. Em uma visita ao lugar, ele conhece um idoso zelador e acaba tentando salvar a vida deste em uma aparente tentativa de suicídio. Após este bizarro incidente, Mike se vê misteriosamente rejuvenescido. Aproveitando esta segunda juventude e com uma mãozinha de Ned, ele irá tentar se conectar e ajudar seus filhos, bem como acertar as coisas em sua vida, colocando-a no caminho que ele sempre quis.
O roteiro da produção, escrito por Jason Filardi (do fraquíssimo “A Casa Caiu”), não preza muito pela originalidade. O espectador mais atento irá detectar várias cenas e situações diretamente tiradas de filmes como “De Volta Para o Futuro”, “Mais Estranho Que a Ficção”, “Quero Ser Grande” e até mesmo de “High School Musical”, justamente para aproveitar a legião de fãs de Zac Efron, ansiosa por ver o ator dançando de uniforme de basquete.
No entanto, este é o tipo de produção que não necessita tanto de inovação, dependendo fundamentalmente do carisma de seus personagens e do timing cômico de seu elenco, sendo estes os pontos fortes do filme. Zac Efron vive dois personagens distintos no filme. Inicialmente, ele interpreta Mike O’Connell aos 17 anos, cheio de segurança e exalando confiança, sendo depois substituído por Matthew Perry, que vive brevemente o derrotado personagem em sua idade adulta. É interessante notar que, mesmo com pouco tempo de cena, Perry demonstra todo o ressentimento e melancolia de Mike, mas sem deixar de ser engraçado.
Depois disso, Efron volta em cena vivendo O’Connell com mente de adulto e corpo de adolescente, tendo de reproduzir os trejeitos do personagem feito por Perry pouco tempo antes. O desafio do jovem é bem complicado, mas ele se sai bem, conseguindo mimetizar os trejeitos do eterno Chandler com certa leveza. Nota-se nas inflexões usadas por Efron que ouve realmente um esforço – bem sucedido – neste sentido. Aliás, é bom notar que o ator possui bom humor suficiente para brincar com os rumores e fofocas sobre sua sexualidade, algo que acaba rendendo uma ótima cena.
A família O’Connell também aparece muito bem representada. Leslie Mann faz um par estranho e engraçado com a dupla Efron/Perry, tendo bastante química com os dois, especialmente com o primeiro, com quem divide a maioria de suas cenas. Michelle Trachtenberg tem a ingrata tarefa de ser a adolescente chata, mas consegue arrancar algumas risadas durante suas cenas em uma festa.
Já Sterling Knight se sai bem como o atrapalhado Alex, com a relação entre ele e seu “velho” se desenvolvendo de maneira bastante natural. Aliás, é interessante notar que a dinâmica entre Efron e os filhos de seu personagem lembram bastante aquela entre Michael J. Fox, Lea Thompson e Crispin Glover no primeiro “De Volta Para o Futuro”, contando até com uma versão do famigerado Biff!
Mas quem definitivamente rouba a cena todas as vezes que surge na tela é Thomas Lennon como o nerdíssimo Ned. Este abastado gênio da informática leva o público às gargalhadas com seu jeito estabanado e em suas tentativas de conquistar a diretora da escola de Mike, vivida pela ótima Melora Harding (a Jan da série de TV “The Office”). A relação deles possui dois momentos, cada um mais hilariante que o outro. Diria até que esse plot merecia um filme próprio de tão divertido.
O diretor Burr Steers conduz o longa de um modo leve, reconhecendo que se trata de um projeto bem menos ambicioso que o eficiente “A Estranha Família de Igby” ou suas participações nas séries “Amor Imenso” e “Weeds”. Apesar de escorregar feio nos primeiros minutos do longa, que mais parecem uma nova continuação de “High School Musical” por conta das coreografias musicais exageradas, o cineasta logo alcança um ritmo adequado para a película.
Steers se sai bem nas sequências mais agitadas, como a da luta de sabres de luz (sério!) e trabalha bem as cenas mais intimistas, principalmente naquelas envolvendo Mike e Scarlett, e na boa cena na arquibancada entre o protagonista e sua filha. A fita ainda possui uma cinematografia eficiente e uma trilha sonora que encaixa bem com a proposta.
Agradável e divertido, “17 Outra Vez” possui um clima bastante oitentista, sendo uma diversão nostálgica para os cinéfilos daquela época e um prato cheio para as fãs de Zac Efron. Não se deixe enganar pelo começo pouco convidativo do filme e confira sem muito medo esta comédia.