Em um novo capítulo bastante inspirado, "A Era do Gelo 3" vem para divertir crianças e adultos, contando com uma história que equilibra bem as aventuras do bando mais esquisito dos tempos glaciais, referências a vários longas de aventura clássicos e, principalmente, coração.
Esta franquia não era exatamente uma das minhas favoritas. Após um primeiro filme bastante eficiente, a série ganhou uma continuação chata e morosa, o que me deixou seriamente consternado quanto a este novo episódio. Felizmente, me enganei. O roteiro da película consegue deixar os personagens do original interessantes novamente e tornar as figuras apresentadas na segunda fita de carisma, bem como apresentar caras novas e bacanas.
A história mostra o casal de mamutes Manny e Ellie esperando seu primeiro filhote, com o macho cada vez mais preocupado com sua esposa, quase que beirando o neurótico, algo natural se considerarmos como o encontramos no primeiro “A Era do Gelo”. Enquanto o grandalhão se vê bastante ocupado preparando o terreno para sua cria, o tigre-dentes-de-sabre Diego passa por uma pequena crise, já que sente o peso da idade chegando e não se acha mais tão bom caçador quanto antes.
Entretanto, quem acaba causando os problemas que levam à aventura é – como não poderia deixar de ser – o atrapalhado Sid. Se sentindo deixado de lado por seus amigos, ele acaba saindo em busca de uma família para ele mesmo, encontrando três ovos de dinossauro. Claro que a mãe dos bichos acaba recuperando seus rebentos e levando Sid a tiracolo, cabendo a Manny e ao resto do bando salvar o atrapalhado bicho-preguiça em uma perigosa jornada ao centro da Terra, acompanhados de Buck, uma doninha extremamente hábil e maluca.
Como já é de praxe da série, enquanto acompanhamos a trama principal se desenvolvendo, também vemos Scrat em sua interminável caçada por sua preciosa noz, gerando alguns dos momentos mais engraçados da produção. No entanto, o esquilo não estará sozinho, já que uma fêmea de sua espécie, a sedutora Scratita, também quer o cobiçado prêmio. Conseguirá o esforçado – e indestrutível – Scrat vencer sua adversária ou cairá na máxima “faça amor não faça guerra”?
Durante todo o filme, o público é bombardeado por diversas referências ao mundo da cultura pop. Desde “Star Wars”, passando por “Godzilla” e até “O Virgem de 40 Anos”, a fita esconde pequenas citações (sejam visuais ou em falas) que já remetem o público a outros longas. Até mesmo o livro “Viagem ao Centro da Terra”, de Julio Verne, é utilizado, já que o cenário-título da clássica obra literária é colocado na película como base da aventura. Tais homenagens jamais tomam o lugar da trama, inseridas de maneira bastante orgânica e de modo a servirem apenas como gags, não como substitutos para a história.
Os personagens já conhecidos estão muito bem caracterizados em relação aos filmes anteriores. Manny continua como o centro emocional da franquia, com o futuro pai-coruja tendo aqui concluso o arco da perda de sua família iniciado lá no primeiro longa. Acompanhamos a jornada deste solitário amargo, passando para bom amigo, até se tornar, novamente, o chefe de uma família e isto foi extremamente importante para a franquia, pois realmente conhecemos o simpático grandalhão, simpatizamos e nos emocionamos junto a ele, que foi excepcionalmente dublado pelo talentosíssimo Diogo Vilela, que dá um show a parte.
Diego também ganha certo destaque neste terceiro filme, lidando com a questão de não ser mais habilidoso quanto antes e sua preocupação em estar “amolecendo”, algo que gera até um afastamento dele em relação aos seus amigos. Por incrível que pareça, Márcio Garcia se sai surpreendentemente bem como a voz do não mais tão selvagem felino. Por sua vez, Sid continua tão engraçado e atrapalhado como sempre, com a indefectível voz de Tadeu Melo. Sua dinâmica com a mãe-dinossauro e seus filhotes é ótima e gera bons momentos, embora por vezes chegue perigosamente perto daquela entre o Burro e a Dragão na série “Shrek”.
As figuras apresentadas no segundo filme são até melhor trabalhadas aqui. A mamute Ellie se torna mais interessante como esposa de Manny do que como aquela bizarra personagem que pensava ser outro bicho na fita anterior, mas a falta de animação de Cláudia Jimenez ao dublar a grávidíssima giganta é notável.
Já a dupla Crash e Eddie fica bem mais tolerável, até porque passam a ter um contraponto realmente cômico aqui, encarnado pela doninha-macho Buck, praticamente uma versão insana e animada de Snake Plissken (personagem de Kurt Russell em “Fuga de Nova York”) misturado com o Capitão Ahab (de “Moby Dick”), certamente a melhor novidade da história. Deve ser louvado o trabalho de dublagem de Alexandre Moreno, perfeito como o amalucado aventureiro.
No quesito visual, a fita dirigida pelo brasileiro Carlos Saldanha se apresenta muito bem, principalmente mostrando a terra selvagem na qual a trupe acaba embarcando no decorrer da história, com o cineasta criando planos realmente muito bonitos e saídas visuais bastante inspiradas (vide a caixa torácica com a noz de Scrat), além de um trabalho cuidadoso na animação – é incrível os efeitos de pelugem dos personagens.
Os efeitos tridimensionais são bem utilizados, principalmente em relação à profundidade e realmente valem o ingresso um pouco mais caro das salas 3D, com determinadas sequências ficando absolutamente incríveis nesta versão da fita, principalmente as cenas de ação no último terço da projeção. No entanto, é sensível que a tecnologia podia ter sido utilizada de maneira mais ostensiva pelo longa, que, apesar de um bom uso do 3D, não utilizou todo o potencial visual ou narrativo desta nova e importante ferramenta cinematográfica.
Apesar de um ritmo bastante rápido e adequado para uma comédia de animação, o filme escorrega em sua montagem ao apresentar dois clímaxes em seu trecho final, algo que realmente poderia ter sido evitado. No entanto, este escorregão não estraga esta divertida película que é “A Era do Gelo 3”, que consegue entreter e emocionar um público de todas as idades. Recomendado.