Efeitos especiais cada vez mais impressionantes, som ensurdecedor, cenas de ação eficientes, trama rasteira e mais nostalgia. Esta continuação mantém exatamente o mesmo nível de diversão do primeiro filme, porém desta vez sem contar com o fator novidade ao seu favor.
Em 90% dos casos de uma continuação, ela tem como vantagem em relação ao seu antecessor não precisar mais apresentar os personagens e contextualizar o mundo onde eles vivem, abrindo espaço para maior desenvolvimento da trama e situações diferentes. Mas, se tratando do frenético e agoniado diretor Michael Bay, a situação é diferente. Enquanto o primeiro “Transformers” se mostrou divertido durante a apresentação daqueles exóticos alienígenas robóticos e a difícil adaptação do nerd Sam Witwicky com as mulheres, que do nada se vê como centro de uma guerra intergaláctica, esta continuação sente falta exatamente daqueles momentos para descontrair e respirar.
Como o público já sabe o que está por vir, a medida do diretor é unicamente pegar os fatores explosivos do original e elevar à quinta potência. E na tentativa de manter um nexo no andamento dos fatos, utiliza-se o mesmo molde do primeiro filme. Ruim? Dependendo do público, sim. Mas a grande massa que curtiu o desenho e os brinquedos durante a infância, aprovou o longa de 2007 e, principalmente, tem a consciência de estar indo assistir a um filme de Michael Bay e não espera mais do que isso, aprovará o resultado.
A trama se passa dois anos após a batalha entre os Autobots e os Decepticons, quando Sam Witwicky (Shia LaBeouf) enfrenta a ansiedade de entrar na faculdade. Isto significa que ele terá que morar separado de seus pais, Judy (Julie White) e Ron (Kevin Dunn), deixar a namorada Mikaela Banes (Megan Fox) e ainda explicar a situação ao seu amigo e protetor Bumblebee, já que pretende levar uma vida normal de agora em diante.
Paralelamente, o governo cria a Nest, uma agência comandada pelo capitão Lennox (Josh Duhamel) e o sargento Epps (Tyrese Gibson), que trabalha secretamente em conjunto com os Autobots no trabalho de defesa dos humanos. Enquanto isso, um perigoso vilão, Fallen, planeja retornar a Terra. Sam faz o melhor que pode para se adaptar à vida na universidade até que, repentinamente, ele é perturbado por visões que brilham em seu cérebro como raios. Os Decepticons logo ficam sabendo o que Sam ainda não sabe: somente ele possui a chave para o resultado da luta entre o mal e o supremo poder do bem.
O roteiro escrito por Roberto Orci, Alex Kurtzman (dupla de “Star Trek”) e Ehren Kruger (“Pânico 3”, “A Chave Mestra”), pega como base todas as subtramas presentes no longa de 2007: estão lá uma nova história mística por trás de tudo; um objeto de poder que precisa ser encontrado a qualquer custo; a parte do exército lidando com as imposições burocráticas do governo estadunidense; os hackers (que neste são substituídos por blogueiros que anseiam em dar notícias bombásticas em primeira mão) responsáveis por momentos cômicos; os pais do superprotegido Sam deixando-o em situações constrangedoras; enfim, está tudo lá novamente. A diferença grave é que agora nada mais é novidade. Situações como Bumblebee tocando músicas variadas intimidando Sam perante uma mulher já foram momentos de ápice e agora não surtem o mesmo efeito. Sem falar que Bay exagera em simplesmente tudo. Por exemplo: qual a necessidade da cena da mãe de Sam tendo um surto maconheiro na chegada do filho à universidade?
Já falei em exageros? Se no primeiro tínhamos 14 robôs, permitindo a identificação dos fãs com cada um, agora temos nada menos que 46 (somente da Industria Light & Magic, fora muitos figurantes). Não apenas veículos, mas qualquer equipamento eletrônico, de torradeira a microondas, e até mesmo pessoas (!) se transformam em robôs. Por isso, em meio a tanta máquina em seguidas cenas de ação, chega um ponto que é impossível identificar quem é quem, quem já morreu ou quem ainda está vivo. Com isso, muitos perdem espaço, como acontece novamente com o líder Optimus Prime, cuja importância em espírito é muito bem frisada, mas não em presença. Megatron, vilão principal do original, neste filme mal o reconhecemos em meio a tanta confusão visual. Isso, é claro, deve-se muito aos vícios intermináveis de direção de Bay – e aqui, bem mais agravantes – que mistura milhões de tomadas e cortes supersônicos em pequenas frações de segundo. Impossível chegar a um certo ponto da projeção sem ficar tonto.
Em 2007, todos estavam atônitos para ver cada robô, como eles seriam nas telas, se soariam ou não reais. Agora, já sabemos da qualidade técnica e o que divertiu muito antes agora perde o impacto. Mesmo assim, nem de longe o valor é todo perdido. É importante frisar: estamos lidando com um filme sobre alienígenas robôs. Não tem como cobrar algo sério, tampouco roteiro profundo com implicações na sociedade. Não adianta ficar questionando por que Sam ficou “dominado” apenas depois de tocar uma lasca de Allspark, apesar de no primeiro ele pegar no cubo inteiro; ou por que precisam passar por um processo gigantesco para conseguir evitar o vilão de executar seu plano destrutivo; ou cobrar explicações do por quê de apenas um Prime poder destruir o vilão Fallen. São detalhes que, para a grande população que cresceu vendo esses seres estranhos, não são relevantes, e no fundo querem ver é a ação comendo solta. E não pensem que estou chamando o espectador de burro, mas essa é uma visão de quem cresceu assistindo desenhos animados, lendo quadrinhos e brincando com bonecos, e agora está lidando com uma adaptação.
Os efeitos especiais estão mais eficientes do que nunca. Se o primeiro não levou o Oscar, esta é mais uma chance. As transformações estão cada vez mais convincentes, principalmente por acontecerem no meio das batalhas. As cenas de ação também não pecam, apesar dos vícios de Bay. Não tem como não se impressionar com a grandiosidade (literalmente!) de cenas brutais, que se desenrolam desde o início da projeção. A primeira vez que vemos a Nest em ação é de uma brutalidade grande, difícil de ver igual no cinema sendo protagonizada apenas por seres virtuais. Sem falar que muitas surpresinhas aos fãs estão lá presentes aos montes, como a aparição do robô gigantesco Devastator, formado por sete veículos diferentes, além de uma certa “transformação” envolvendo Optimus Prime durante o clímax.
Além disso, novos elementos são bem enxertados durante os longos (e por incrível que pareça, novamente não cansativos) 148 minutos, como o divertidíssimo robô ancião Jetfire e a engraçada dupla de pequenos robôs gêmeos, Skid e Mudflap, que não param de discutir entre si. O humor, apesar de soar algumas vezes repetitivos, continua sendo uma vertente positiva, principalmente através do personagem Leo (muito bem vivido por Ramon Rodriguez, substituindo o hacker chato vivido por Anthony Anderson no primeiro), o blogueiro colega de quarto de Sam, e que certamente muitos geeks de plantão irão se identificar com ele. E quem novamente dá as caras é o Agente Simmons, vivido por John Turturro. Se o personagem era exagerado antes, agora está duas vezes mais e sua participação é encaixada à força, quase que no grito. Mas esse é seu potencial: o caricatural extremo, se assemelhando a um típico personagem cartunesco, sempre divertido.
No elenco humano, novamente Shia Labeouf se mostra eficiente como Sam Witwicky. Ele apresenta uma grande evolução de maturidade do personagem na transição entre os dois filmes, porém, deixando claro que no fundo ainda é um nerd cheio de si por namorar uma mulher exuberante e se mostra perturbado por ser uma peça importante para a salvação da humanidade. Megan Fox novamente mostra que é tão atrativa visualmente quanto atriz inexpressiva. Chega a ser forçado o modo como ela é exposta apenas para exibir o belo corpo, como em sua primeira tomada em cima de uma moto e uma desnecessária cena em que troca de roupa em pleno jardim apenas para arrancar uma declaração de Sam. Os oficiais do exército vividos Josh Duhamell e Tyrese Gibson estão apenas corretos, marcando novamente presença como os “machões justos” da história. Vale ressaltar uma ótima participação de Rainn Wilson (o Dwight do seriado “The Office”) como um divertido e egocêntrico professor.
Em geral, “Transformers: A Vingança dos Derrotados” traz aquilo tudo que um fã da série pode esperar. Como não dá para inovar demais (pelo menos com Michael Bay no comando), infelizmente, a tendência é que a eficiência só caia a cada episódio. O que é uma pena, pois um terceiro filme é quase inevitável. Enquanto isso, sempre é um bom programa para esquecer os problemas através de show visual, muita pancadaria e barulhos, perdão pelo trocadilho, quase de outro planeta. Nos anos 80, a Hasbro jamais imaginaria que suas criações tomassem tal proporção, para a alegria dos fãs, e desprezo dos admiradores do “cinema-cabeça”.