No segundo filme da série, Michael Bay segue a mesma linha de seu antecessor, apesar de tirar Optimus Prime da jogada. Mas todo o resto está lá: muitas explosões, robôs, velocidade e nenhum espaço para o raciocínio.
A turma de Optimus Prime está de volta e agora com diversas adições inusitadas e totalmente descartáveis. A trama começa dois anos após o término do primeiro filme, e nesse futuro próximo os Autobots se tornaram, vamos dizer, brinquedinhos especiais de uma força tarefa americana destacada para lidar com “Decepticons” perdidos pelo globo, mais precisamente nos EUA. Eles vivem em harmonia e camaradagem com os humanos, até que um Prime traidor, Fallen, resolve acabar com a festa dos “Autobots” ressuscitando o vilão morto do primeiro filme, Megatron (com a voz de Hugo Weaving). Ele quer encontrar a chave que ligará uma máquina que foi escondida nas pirâmides do Egito há centenas de anos. Tal engenhoca é capaz de sugar nosso sol, usando-o assim de suprimento para sua espécie mecânica.
Mas o único que tem as coordenadas hieroglíficas marcianas que revelam o local exato da chave é Sam Witwicky, jovem descendente do capitão Archibald Witwicky, peça chave no primeiro filme, lembra? O jovem agora vai para a faculdade tentando ser um cara normal, mas acidentalmente adquire este conhecimento ao tocar em uma pequena lasca da “AllSpark” do primeiro longa, lasca essa que havia permanecido em seu agasalho do “dia D” (o dia em que tudo aconteceu, dois anos antes). A chave ainda o ajudará a resolver um grande problema com seu amigo Optimus e servirá para dar continuação a mais uma sequência do filme.
Basicamente a trama do filme é essa. Pobre e constrangedora. As soluções de Bay para resolver os “problemas do roteiro” são fantásticas, como por exemplo, na cena em que, ao chegarem ao Egito, encontram o provável local onde está a tão procurada chave: um castelo cravado em uma montanha (com certeza o mesmo local de “Indiana Jones e a Última Cruzada”). Depois de uma rápida checada, eles não imaginam onde a chave poderia estar. Nesse momento, se inicia uma briga entre “os gêmeos” Skids e Mudflap – duas novas adições robóticas do filme que são mais do que desnecessárias, realmente indigestas e não trazem nem 10% do carisma de Bumblebee, por exemplo. Por fim, eles iniciam essa briga sem motivo aparente e um local secreto é revelado. Este é apenas um dos muitíssimos momentos em que o roteiro é literalmente empurrado pela barriga.
Outro elemento clichê é o vilão almofadinha, que representando o presidente Obama traz o personagem mais idiota e alienado do longa. Temos também o amigo chorão e os soldados americanos com consciência cívica e robótica, um verdadeiro delírio. O time de atores fica perdido em meio a um humor exagerado e uma ação sem cérebro. Shia LaBeouf, que é um bom ator e tem um ótimo timing de comédia, deveria reavaliar papéis como esse para sua carreira (apesar de estar preso moralmente a Bay, por ele o ter revelado).
Megan Fox como a personagem Mikaela não apresenta nada além de sua grande beleza, coisa que temos as pencas no cinema. O destaque acaba sendo dos pais de Sam, Judy e Ron, interpretados por Kevin Dunn e Julie White. Eles ganham muito espaço nesta sequência e são protagonistas de algumas boas cenas de humor, mas também das piores, assim como John Turturro, pagando todos seus pecados e quebrando novamente um galhão para Bay ao participar deste exemplar de disparidades. Turturro pode estar queimado depois de filmes como “Zohan – O Agente Bom de Corte”, mas ainda é Turturro, ou seja, tudo que ele faz no filme, mesmo que errado, está certo e a obra ganha um pouco.
Misturando de forma excessiva este humor descarrilado e histérico, com cenas de ação convulsivas, o filme perde a identidade. Não existe um só momento de seriedade. Tudo soa brega e beirando a canastrice, o que é fortalecido pela trilha “juvenil” permeando as cenas românticas do casal – momentos estes que se baseiam praticamente em uma disputa de quem irá dizer “Eu te amo” primeiro -, isso porque o personagem de Shia LaBeouf se sente inferior a de Megan Fox, o que incrivelmente faz sentido, mas que não deixa de soar ridiculamente banal, devido a direção forçada e estereotipada de Bay. Outro problema são as falas. Dignas de uma máquina, elas são citadas com toda pompa pelos honrados robôs do filme e sempre em tom de continuação.
Mais uma vez os efeitos especiais são impressionantes. Porém, novamente o diretor não se utiliza deles de forma sábia. Quando usados a distância, demonstrando a transformação de veículo para máquina, a perfeição é muito grande e realmente chama a atenção, mas nas cenas de ação, para dar movimento frenético, tudo é aproximado e mais fechado, o que automaticamente provoca em seu público uma miopia instantânea. Você coça seus olhos, pisca algumas vezes, mas não resolve. Tudo perde a definição. Um emaranhado de metal brilhante rodopia perante as câmeras e nós só conseguimos entender o que está acontecendo, mas não conseguimos apreciar os detalhes.
“Transformers: A Vingança dos Derrotados” traz algumas cenas de ação bem interessantes, mas que são desperdiçadas devido a falta de consistência de todo o resto. Talvez com mais tempo e mais roteirização, fosse possível ter um resultado totalmente diferente, mas, com um game pronto para sair no mercado e uma linha de brinquedos estimulante para a garotada, a palavra “planejamento” acabou sendo riscada do mapa.