Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 13 de junho de 2009

Minhas Adoráveis Ex-Namoradas

7 minutos. Este foi exatamente o tempo pelo qual "Minhas Adoráveis Ex-Namoradas" foi engraçado. Não foi nem no começo ou no final da fita, mas em seu miolo que o oásis de humor estava escondido.

Nesta comédia romântica estrelada por Matthew McConaughey e Jennifer Garner, foi o coadjuvante Michael Douglas quem tentou salvar a pátria, enquanto Charles Dickens se debatia desesperadamente em seu túmulo, vendo seu "Um Conto de Natal" ser transformado em uma película disforme e sem charme ou graça.

Tirando de cena o rabugento milionário Ebenezer Scrooge e colocando em seu lugar o mulherengo e insensível fotógrafo Connor Mead (Matthew McConaughey), o longa mostra seu misógino protagonista sendo avisado pelo espírito de seu falecido tio e mentor Wayne (Michael Douglas) de que ele será visitado pelos fantasmas de suas namoradas do passado, presente e futuro.

Elas irão ensinar a Connor a valiosa lição de que o amor verdadeiro existe e que está logo na sua frente, na figura de sua primeira paixão, a romântica médica Jenny (Jennifer Garner). Claro que isto vai acontecer às vésperas de uma ocasião importantíssima, que seria o casamento do irmão de Connor, Paul (Breckin Meyer), e que as situações insanas nas quais nosso pobre personagem principal se mete irão colocar a cerimônia em sério perigo.

Nisso, temos todos os clichês do gênero passando pela tela em velocidade vertiginosa, como o bolo em vias de ser destruído, as damas de honra taradas, o noivo fazendo besteira, as brigas entre os parentes e, é claro, o casal principal com seu vai-não-vai. No entanto, no meio disso tudo – literalmente, no meio mesmo – vemos algumas deliciosas cenas que explicam como Connor se tornou o cafajeste que é e suas "aulas" com o mestre Wayne sobre a arte de levar mulheres para a cama.

É nesse breve espaço de cenas, que mostram um jovem sensível e apaixonado se tornando um galinha de primeira linha, que o filme ganha um ar de novidade e de graça, além de garantir risadas verdadeiras. Muito disso se deve a dois fatores: a presença energética de Michael Douglas nessas sequências, que deixam o ator livre para se tornar um Gordon Gekko do sexo (mais ou menos a imagem pública que ele gosta de projetar) e pelo fato de que McConaughey aparece apenas o necessário neste trecho do filme.

Toda vez que Connor é mostrado em suas versões mais jovens (Devin Brochu na infância e Logan Miller na adolescência), o personagem parece mais real, interessante e simpático junto ao público. Mas basta McConaughey ganhar a frente da tela que todo esse efeito vai pelo ralo, já que o ator mais parece estar posando para um comercial de perfume do que atuando.

É claro que o personagem irá se redimir de suas más ações durante o filme, após aprender suas lições com seus fantasmas. Mas, além de o intérprete jamais conseguir transmitir nenhuma emoção junto à plateia, falhando em mostrar, de modo convincente, o arrependimento de Connor para o público, o "aprendizado" ocorre muito rápido e não sentimos realmente que ele aprendeu nada durante sua jornada.

Jennifer Garner está apática no filme. Sem um décimo do carisma que apresentou em outras produções do gênero, como "De Repente 30", a atriz não possui química nenhuma com seu par romântico em cena. Garner parece estar atuando em um drama pesado pois, pela sua expressão facial, parece que ela vai derramar um vale de lágrimas a qualquer momento. Para piorar, a bela foi terrivelmente fotografada em sua participação, com o longa conseguindo deixá-la quase "feia" (mas só quase).

O fantasma das ex-namoradas de Connor, a extremamente oitentista Allison Vandermeersh (Emma Stone), acaba sendo uma surpresa agradável. Não por acaso, é ela quem guia o protagonista durante o já citado trecho mais inspirado do filme. Graças à atuação amalucada, mas não exageradamente caricatural, de Stone, a imprevisível Allison rouba várias cenas durante o tour que proporciona ao seu assombrado, principalmente quando este chega à idade adulta e passamos a ver – ó céus… – dois McConaughey's na tela.

Em contrapartida, o fantasma das namoradas presentes, que ganha a forma da secretária de nosso "herói", Mel (Noureen DeWulf), consegue ser quase tão insuportável quanto o Sr. Mead, enquanto o fantasma das namoradas futuras é uma garota linda de se ver, mas que não abre a boca para falar nada e só faz apontar para os cantos. O geralmente engraçado Breckin Meyer mal tem diálogos no filme, enquanto os veteranos Robert Forster e Anne Archer apenas pagam o aluguel como os pais da noiva. Forster, aliás, possui uma cena na qual tenta descrever o amor, que é embaraçosa de tão ruim.

Após duas comédias bastante interessantes ("Meninas Malvadas e "E Se Fosse Verdade"), o diretor Mark Waters escorrega feio aqui, com planos pouco inspirados e sem arrancar boas interpretações de seu elenco. Além disso, o visual do filme parece mais o de uma série de TV de segunda e a fotografia da produção é exageradamente escura. O único aspecto técnico do filme que se destaca é sua montagem ágil, com o longa tendo um ritmo bastante agitado e passando rapidamente. Pelo menos a tortura acaba depressa.

Fraco feito café da semana passada, "Minhas Adoráveis Ex-Namoradas" é uma película chata que pode valer uma conferida em DVD apenas pelos seus pucos momentos realmente engraçados, sustentados quase que totalmente por Michael Douglas, como um personagem que realmente merecia um veículo melhor. Faça um favor a seu relacionamento e não leve sua cara-metade para assistir esta bomba nos cinemas.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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