Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 09 de maio de 2009

Um Ato de Liberdade

A luta pela sobrevivência é retratada em “Um Ato de Liberdade” de uma forma profunda e real. Um longa que, além de impressionar por tamanha carga realista, consegue divertir, surpreender e, principalmente, emocionar e dar um grande exemplo sobre o que é ter esperança.

Dirigido pelo experiente Edward Zwick ("O Último Samurai"), o drama conta a história de três irmãos que, durante a Segunda Guerra Mundial, precisam fugir da perseguição nazista aos judeus e, para isso, eles se escondem em uma floresta muito conhecida por eles desde a infância. Ao tomarem conhecimento dos atos corajosos desses irmãos, muitos povos juntam-se a eles nessa luta pela liberdade, o que torna essa luta mais difícil e muito mais heróica. Algumas atitudes tomadas geram descontentamentos e muitos conflitos internos capazes de demonstrar a profundidade do drama que todos estavam envolvidos.

O clima predominante na obra é o dramático, entretanto em muitos momentos surge um humor como se servisse para aliviar e o público poder respirar. Isso é espetacular. O longa proporciona um momento que une alegria e uma esperança tímida de que aquela luta teria um final se não feliz, pelo menos tardio, uma vez que muitas vezes os próprios personagens dizem que o principal objetivo deles é continuarem vivos. Já não importa mais a felicidade, nem a busca pela realização de sonhos, o que importa agora é atrasar a morte que nessa obra nunca foi tão inevitável.

Daniel Craig nunca esteve tão à vontade em um papel como na pele de Tuvia, líder dos fugitivos e um dos três irmãos. Como todo líder, seu personagem passa por diversas situações em que suas decisões são de extrema dificuldade e risco. Ele assume esse papel com firmeza e convence principalmente quando demonstra não saber o que fazer. Muitas dessas dúvidas são devido às palavras de seu irmão Zus (Liev Schreiber), que parece sempre estar contra os ideais de Tuvia, uma característica bem típica de irmãos criados juntos. Jamie Bell é o terceiro irmão Asael Bielski e também o faz de maneira eficiente e segura. Ele demonstra a grandeza que seu personagem assume em vários momentos.

A trilha sonora é reconhecidamente brilhante. Indicada ao Oscar e ao Globo de Ouro, ela transmite a profundidade que a cena deve e consegue alcançar. Momentos de dor, de felicidade e de até os dois juntos, em duas cenas que passam simultaneamente em que numa mostra um tiroteio e na outra uma festa de casamento. É sensacional essa fusão em que a trilha tem um importante papel de unir e dar harmonia aos momentos totalmente distintos. Vale ressaltar também quando Tuvia está atordoado devido a uma bomba e a trilha transpassa exatamente isso.

E os acertos não param por aí. A fotografia de Eduardo Serra também é muito interessante. O tom é mantido do início ao fim, do inverno ao verão, do clima de guerra ao clima de ligeira paz, de tristeza ao de dor. Os trabalhos de figurino e de edição também merecem aplausos. Os efeitos especiais não conseguem o mesmo brilhantismo dos outros aparatos técnicos do drama. Tudo é muito artificial e comum em filmes desse tipo. Um fato curioso é que nenhuma explosão atinge alguém. Os tiros até atingem, mas em raras cenas. Em determinados momentos, Daniel Craig parece estar em um de seus papéis anteriores, o de James Bond, por conseguir passar intacto em meio a tanto tiro.

Um importante momento do drama é quando o papel de Tuvia de liderar a fuga dos judeus é comparado ao ato de Moisés que conduziu seu povo e o liderou em uma das fugas mais famosas da bíblia quando este dividiu as águas do mar vermelho para que seu povo passasse por terra seca e fugisse dos egípcios. Primeiramente isso é feito de modo humorístico, mas, no decorrer do filme, essa metáfora ganha mais força chegando ao seu ápice quando os mesmos precisam atravessar um grande pântano. É de arrepiar a forma como isso foi desenvolvido no decorrer do longa e ainda mais interessante é como foi relacionado.

O que foi um ato de liberdade para Tuvia e seus Irmãos, para o público foi um verdadeiro espetáculo de realidade e emoção que, ao longo dos 137 minutos, pode até perder um pouco da força, mas no final tem seu reconhecimento como um grande filme repleto de acertos. Uma produção em que a emoção e a realidade são traduzidas da melhor forma possível.

Marcus Vinicius
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