Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 02 de maio de 2009

Recém-Chegada

A nova comédia de Renée Zellweger não traz tantos atrativos a não ser o carisma da protagonista em uma história que tenta ter charme, mas se revela como outra qualquer. Quase nada divertido, "Recém-Chegada" segue clichês e não encanta.

Na trama, Lucy Hill (Renée Zellweger) é uma executiva de Miami que trabalha para uma empresa de alimentos e sonha crescer dentro de sua profissão, até se tornar presidente da companhia. Durante uma reunião com outros executivos, todos homens, ela acaba se oferecendo para resolver o problema de produção e renda de uma fábrica em Minnesota. Como toda boa mulher da cidade, ela é vaidosa, sempre está bem vestida e tem um cabelo descolado. Habituada com a correria de Miami, Lucy agora precisará aprender a se virar na cidadezinha cujos habitantes tem seus próprios costumes. Em Minnesota, Lucy recebe a ajuda de Blanche (Siobhan Fallon) para se instalar e conhece Ted (Harry Connick Jr.), um viúvo que representa o sindicato de trabalhadores locais. Entre eles, nada dá certo, mas onde existe ódio também tem uma pitada de amor.

O roteiro escrito pelos desconhecidos Ken Rance e C. Jay Cox investe na premissa de mostrar o estranhamento de uma mulher bem relacionada e urbana ao se aproximar de um universo que ela, de cara, não se encaixa. Em Minnesota, Lucy passa a se relacionar com pessoas simples, de sotaque carregado e que formam uma boa vizinhança. Desacostumada a esse assédio interiorano, Lucy é tomada pelo profissionalismo e tenta driblar as diferenças de sua personalidade com a dos habitantes para conseguir resolver os problemas da fábrica o mais rápido possível. Se os roteiristas investissem mais nesse argumento sem cair em clichês, principalmente ao gerar um caso amoroso para a protagonista, o longa poderia ter sido melhor desenvolvido. Desde o início, e até desde o trailer do filme, sabemos que ela viaja, tenta se encaixar na cidade e se apaixona pelos moradores, sendo um deles seu grande amor. Mais clichê impossível.

Com isso, Rance e Cox não saem das pequenas esquetes que aparecem para dificultar a vida de Lucy, apelando inclusive para piadas físicas e pouco inspiradas, atrapalhando quase sempre o desempenho cômico de Zellweger. São poucos os momentos em que o público é conquistado e ri da história, que logo se perde na tentativa de criar um argumento amoroso para Lucy. Tudo acontece no filme de forma muito rápida e, consequentemente, pouco convincente, já que não temos ideia de passagem do tempo e do envolvimento que Lucy com os moradores. Isso prejudica no ato final, quando ela precisa tomar decisões para salvar a fábrica de ser fechada. O também desconhecido Jonas Elmer não faz muito como diretor. Ele apenas registra as aventuras de Lucy de uma forma comum, pouco atrativa e sem grandes ambições.

É fato que Zellweger tem talento para comédias, provado nas duas produções da personagem Bridget Jones. A atriz ficou tão famosa por estes longas que, querendo ou não, alguns de seus maneirismos remetem sempre à destrambelhada Bridget. Em "Miss Potter", Zellweger conseguiu se ausentar parcialmente de Bridget, mas em "Recém-Chegada" isso não foi tão bem sucedido. Mesmo assim, a atuação não fica extremamente prejudicada, a não ser pelos poucos recursos que Zellweger tem em termos de roteiro para fazer o público rir. Por outro lado, a atriz incorpora uma mulher decidida e que, mesmo "patricinha", tem seu valor profissional. Tudo bem que não é mais tão atrativo mostrar que as mulheres hoje dominam um mundo teoricamente masculino, mas neste filme fica gostoso de ver como ela dialoga com um grupo de trabalhadores homens.

Sobre o elenco, Harry Connick Jr. não faz muito além de inicialmente brigar e odiar a protagonista, para mais tarde se aproximar dela como mulher. Siobhan Fallon também fica no comum ao encarnar Blanche, trazendo um pouco dos costumes femininos e da religiosidade das mulheres de Minnesota, servindo como contraponto para Lucy. Já J.K. Simons tem pouco tempo em cena, vivendo Stu de uma forma rigorosa e pouco acessível ao público, não funcionando de maneira adequada quando precisa aparecer no ato final da película.

"Recém-Chegada" se prejudica ao criar uma abordagem própria que se desconstrói, em maior ou menos proporção, durante a película. Ainda assim, sua trilha sonora deixa o filme "bonitinho" e nada mais. Sem grandes pretensões, o longa passa rápido, não conquista como deveria, mas também não chega a irritar. É do tipo de filme que "tanto faz". No mais, que foi bom ouvir "20th Century Boy" e dois versos de "I Will Survive", ah foi!

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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