O mais novo filme do tão querido mutante da Marvel passou por problemas de pirataria e até com a tão temida gripe suína. E aí, valeu a pena? Bom, se a intenção era aproveitar a onda de entretenimento dos filmes blockbuster do verão, valeu bastante a pena. Mas se o propósito era ter, no mínimo, algo semelhante ao que Bryan Singer apresentou nos dois primeiros filmes da franquia “X-Men”, não deu nem um pouco certo.
Na verdade, talvez o grande problema do filme – problema esse que o longa “Crepúsculo” também enfrentou -, seja a sua auto desvalorização. O filme tem força incrível, ótimos personagens, um bom elenco, grandes efeitos especiais, mas parece que não quer ser nada mais que “sintético”. Desde um prólogo fraquíssimo, até a planos que mais parecem um filme da série “Carga Explosiva”, o longa parece querer nos reafirmar o tempo todo que é do personagem de Hugh Jackman, mesmo não havendo necessidade alguma de fazê-lo.
A película se passa antes da franquia “X-Men”, mas utiliza-se de elementos interessantes para fazer essa ponte entre as histórias. A trama conta a jornada de Wolverine/Logan/James (Hugh Jackman), desde sua infância, até pouco antes dos acontecimentos de “X-Men”. Fala sobre o descobrimento de suas habilidades – algo que soou de maneira bastante estranha -, de sua participação no exército e posteriormente em um grupo de assassinos formado por mutantes, idealizado por William Stryker (Danny Huston).
Nesse grupo também estava Victor (Liev Schreiber), que é irmão de Logan, e compartilha de habilidades semelhantes. Quanto Victor começa a sair do controle, Logan decide abandonar o time e viver sua própria vida. Entretanto, após seis anos distante desse mundo, Stryker o encontra para avisá-lo que Victor estava perseguindo os ex-companheiros, e que ele poderia ser o próximo. Após o assassinato de sua mulher, Wolverine vai em busca de vingança.
O roteiro do filme é pautado na superficialidade. Não há densidade emocional, nem mesmo a violência que deveria. Lembro-me de ter ouvido boatos, logo quando o roteiro vazou na internet há mais de um ano, de que o filme era muito bem escrito além de aproveitar, fisicamente falando, o que o personagem podia oferecer. Bobagem. O roteiro não é bom, não há diálogos interessantes e, apesar de mostrar mais a ação do personagem, não é nada parecido do que poderia ser apresentado.
A direção é fraca e se salva somente em determinadas sequências de ação. Algumas câmeras são de muito mau gosto, com zoom inapropriado e planos ruins. Isso sem contar na sua intenção de transformar o filme em algo “bacana”, com cenas decadentes como a da luta com Blob. O diretor Gavin Hood, apesar de falhar constantemente, conduz cenas de ação interessantes, como a da primeira atuação da equipe de mutantes, e consegue transformar o filme em algo legal, com os poucos recursos de cineasta que detém.
O elenco é um destaque legal para o filme. Hugh Jackman reafirma que tem competência suficiente para encabeçar um projeto de grandes proporções como esse, ainda que o personagem não exija o nível de atuação que ele teve em “Fonte da Vida”, por exemplo. Liev Schreiber também tem grande talento e sua interação com Jackman em tela é muito interessante. Taylor Kitsh mostra carisma ao interpretar Gambit e é bem provável que o vejamos por aí a partir de agora. Danny Huston não chega aos pés de Brian Cox na pele de Stryker e os demais têm atuações regulares e bons personagens, mas são deveras inexplorados.
O efeitos do filme oscilam, onde em determinadas cenas eles são ótimos, e em outras são ridículos, como na cena do banheiro em que Logan testa suas garras. Mas no geral, a parte técnica consegue ter um desempenho de qualidade. A fotografia também é desnivelada e não mantém um bom desempenho. Já a trilha sonora é um completo desastre. Ela não acerta hora alguma e chega a comprometer alguns bons momentos do filme.
“X-Men Origens: Wolverine” é um filme irregular. Tem acertos sim e mostra-se um bom filme de ação. Contudo, peca justamente por não passar disso. A Fox transformou o filme em sua mina de ouro dessa temporada e provavelmente consiga êxito em sua proposta, por trazer às telas justamente o que o grande público gosta de ver. Porém, diante do quanto os filmes baseados em histórias em quadrinhos vêm evoluindo, e até mesmo se comparado aos demais filmes da franquia “X-Men”, deveria ser vergonhoso levar isso aos cinemas, munido de tantas expectativas, sem no mínimo uma boa reformulação.