Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 02 de maio de 2009

A Festa do Garfield: é capaz de assassinar a infância de muitos adultos

Poucas vezes fiquei tão irritado ao assistir a uma animação quanto com este "A Festa do Garfield". Esse "filme" foi escrito pelo próprio criador do personagem, Jim Davis, e consegue destruir tudo o que torna o personagem-título carismático.

Sou fã do personagem Garfield. Assim como ele, adoro comentários sarcásticos, lasanhas, sábados preguiçosos e realmente odeio os dias de segunda-feira. As tirinhas de jornal do gato laranja, escritas e desenhadas por Jim Davis, o criador da franquia, eram ácidas e diretas ao ponto e sempre me levam às gargalhadas. E qualquer uma das tais historinhas, em seus três quadrinhos, possui mais conteúdo do que “A Festa do Garfield”, que desvirtuou tudo o que levou o felino a ser interessante.

Situado em um universo nos quais os carros liberam bolhas de sabão através de seus canos de escape e onde as tirinhas de jornal são fotonovelas (sério!), a trama principal da fita coloca um egocêntrico Garfield tentando vencer novamente o concurso de talentos do estúdio onde trabalha – o qual estampa em sua fachada um retrato imenso do gato e de seu parceiro, Odie.

No entanto, o protagonista acaba brigando com sua parceira de número, Arlene, que é jogada diretamente nos braços do novo gato-alfa do pedaço, o “latin lover” Ramon. Tendo apenas um dia para bolar um número novo para sua apresentação, Garfield pega Odie a tiracolo e parte em uma jornada para encontrar a “lendária água engraçada” e se tornar… engraçado de novo.

De gato do subúrbio sarcástico e glutão, Garfield se tornou um dos seres mais egocêntricos e chatos da história de qualquer mídia. Não temos um pingo de simpatia pelo personagem em nenhum momento da projeção, o que é fatal para qualquer projeto desse gênero. Para piorar, o universo do longa jamais convence o espectador, com postes brotando do chão e com todos os animais falantes e inteligentes, exceto o cãozinho Odie – que, aliás, é o único personagem que escapa de se tornar uma sombra sem graça de si mesmo.

O roteiro, escrito pelo próprio Jim Davis, é repleto de clichês, como reencenações de filmes famosos, lições de moral extremamente datadas e um final idêntico ao de “Scooby-Doo – O Filme”. Se fosse para fazer um “Ctrl+C/Ctrl+V” de outro projeto, ao menos escolhesse copiar o texto de algum que fosse bom.

Para piorar, o visual do filme e sua própria animação são horrendos, com os personagens e locações tendo um design pobre e com figuras excessivamente “duras”, jamais transmitindo qualquer sensação de fluidez em seus movimentos. Assim, os diretores Mark A.Z. Dippé e Eondeok Han não conseguiram fazer com que o longa ao menos fosse agradável aos olhos.

A película tem uma duração bem curta, contando com apenas 79 minutos. No entanto, essa duração passa como uma tartaruga, sendo quase como uma tortura para o espectador acompanhar a projeção toda. O maior mistério em “A Festa do Garfield” é descobrir por que a Playarte lançou essa produção nos cinemas, enquanto em todo o mundo ela foi lançada direto em DVD.

Capaz de assassinar a infância de muitos adultos e de irritar qualquer criança com o mínimo de senso crítico em formação, “A Festa do Garfield” é muito pior do que as fitas live-action da Fox (que já eram ruins), sendo recomendado apenas para os pais que queriam deixar seus filhos de castigo. Não imagino punição pior para pequenos mal-criados do que ver… isto.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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