Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 25 de abril de 2009

Eu Odeio o Dia dos Namorados

Não se engane! Apesar de “Eu Odeio o Dia dos Namorados” possuir como atores principais Nia Vardalos e John Corbett, tratar-se de uma comédia romântica açucarada que não chega nem aos pés do megasucesso “Casamento Grego”. Se você gosta de dar altas gargalhadas e se emocionar com a história do apaixonado casal principal, esta não provavelmente não é a melhor opção nos cinemas.

Em 2003, a até então desconhecida Nia Vardalos conquistou plateias do mundo todo. Protagonista e roteirista de “Casamento Grego”, ela ajudou a contar uma das histórias mais simples e gostosas da última década nas telonas. Afinal, quem não se lembra do mal-humor hilário do patriarca Gus Portokalos, das histórias bisonhas da tia Voula e dos inúmeros membros da família chamados Nick? Com um orçamento modesto, o filme conseguiu arrecadar mais de 350 milhões de dólares pelas bilheterias mundiais.

O sucesso trouxe para Vardalos inúmeras propostas, como a versão televisiva da película, mas nenhuma conseguiu sequer chegar perto de igualar o feito de “Casamento Grego”. Seis anos depois, a atriz tenta resgatar o público que já foi capaz de atrair uma vez, com uma produção com várias semelhanças à película que a revelou, começando pelo casal principal. No entanto, não é dessa vez que ela vai emplacar outro sucesso.

“Eu Odeio o Dia dos Namorados” tem como personagem principal Geneviève (Nia Vardalos), uma proprietária de uma floricultura adepta de um estilo de relacionamento no mínimo inusitado: os pretendentes só podem acompanhá-la por no máximo cinco encontros e nada além. Geneviève não acredita no amor e, por isso, só quer ter relações que durem até onde ambos não se machuquem sentimentalmente. Segundo ela, a regra é: “no primeiro encontro, flerte bastante; no segundo, frio na barriga; no terceiro, o encontro arrasador; no quarto, seja divertida e surpreenda; e no quinto, torne-se inesquecível. Quando o romance acaba, é hora de partir para outra”. Seguindo à risca o que também recomenda, ela possui uma vida que considera perfeita. Entretanto, alguém vai fazê-la repensar os seus princípios.

Greg (John Corbett) é um homem sem compromissos que adquiriu recentemente um restaurante na mesma rua da floricultura de Geneviève. Interessado em se integrar com a vizinhança, Greg acaba a conhecendo, e a ligação entre os dois é quase instantânea. Dentre os locais que visitam durante os divertidos encontros estão uma estranha galeria de arte, um bar com karaokê e o próprio apartamento de Greg. Mas o envolvimento entre eles é tão intenso, que as saídas esporádicas têm tudo para se tornar uma constante pelos próximos anos.

Como se não bastasse estrelar e escrever o roteiro do filme, Nia Vardalos também o dirige. A estreia na função, entretanto, não merece grandes elogios, apesar de se tratar de uma fita em que a direção não é o seu maior destaque, mas sim as atuações, os diálogos e a trilha sonora. O seu maior erro é a pouca variação de cenários do longa, sendo ele quase totalmente rodado em ambientes internos, o que prejudica na veracidade e na linguagem cinematográfica do filme.

É legal reparar como sabemos que a floricultura de Geneviève é próxima ao restaurante de Greg, porém nunca sabemos a exata distância entre os dois estabelecimentos, porque eles sempre aparecem separadamente. Vardalos acerta ao escolher músicas pop americanas contagiantes para compor a trilha, mesmo não selecionando nenhum tema marcante para o romance do casal, o que podemos exemplificar através de sucessos como “Um Lugar Chamado Notting Hill” e “Um Amor Para Recordar”.

Como roteirista, Vardalos peca pela falta de originalidade. Temos uma história comum que possui como maior preceito a comédia, apesar de o romance estar sempre presente. Não podendo explorar o confronto de culturas que abordou muito bem em “Casamento Grego”, Vardalos cai no lugar comum. A composição estereotipada de seus personagens coadjuvantes se constitui um total absurdo, porque possuímos todas as caricaturas possíveis ao lado da protagonista: os amigos carentes em busca de um grande amor, os empregados gays e a mãe atirada.

Além disso, a teoria dos “5 encontros” da personagem principal nunca nos convence, tanto que só ela acredita na doutrina, mas acaba a destruindo depois. Dentre os diálogos pouco inspirados, encontra-se a vergonhosa situação em que Geneviève e Greg são postos ao se reencontrarem inesperadamente em uma lanchonete do bairro: a série de “como vai você?” é nada menos que ridícula. Mas é a circunstância que leva ao clímax do filme que nos faz desistir dessa trama tão desinteressante. O desentendimento em torno do número de encontros que já ocorreram é absolutamente imaturo.

Os atores principais até que conseguem gerar novamente uma química interessante e é isso que salva o longa do total desastre. No entanto, quando estão separados, os dois possuem resultados distintos. Enquanto Vardalos exagera na pose e nos sorrisos em frente à câmera, Corbett aposta no charme discreto e contido e faz de Greg um mocinho até simpático. A grande decepção de “Eu Odeio o Dia dos Namorados” é a falta de um coadjuvante hilário tão comum em comédias românticas. Alguns tentam desesperadamente, mas eles não possuem nem talento nem frases adequadas para dizer e conseguirem se sobressair.

“Eu Odeio o Dia dos Namorados” pode ser enquadrado na lista de comédias românticas que vão ser esquecidas facilmente pelo público. Sem nos levar sequer a um esboço de lágrimas e a míseras risadas, o filme é incapaz de resgatar um pouco da diversão que “Casamento Grego” nos trouxe. Com isso, o fenômeno causado por Nia Vardalos há seis anos foi um caso isolado. É uma pena!

Darlano Didimo
@rapadura

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