Este “Anjos da Noite – A Rebelião” foi feito tendo em vista aqueles que já são fãs da série e de RPG, que deverão sair razoavelmente satisfeitos do cinema. No entanto, os não-iniciados neste universo não encontrarão boas razões para investirem no longa.
Honestamente, não consigo entender a franquia “Anjos da Noite” e como Len Wiseman consegue reunir tantos bons atores britânicos para os filmes da série. Nomes como Bill Nighy e Michael Sheen vistos como vampiros e lobisomens se digladiando em lutas coreografadas para o público jovem, enquanto atuam paralelamente em produções como “A Garota do Café” e “Frost/Nixon”… Enfim, coisas do cinema.
Bom, pela primeira vez fora da direção de um filme da saga, Len Wiseman assina “Anjos da Noite – A Rebelião” apenas como produtor e co-argumentista, passando o comando do longa para o francês Patrick Tatopoulos, que foi designer e supervisor de criaturas dos dois filmes anteriores da série. Não é apenas essa a diferença entre esta e as fitas que a precederam. Este terceiro longa tira o foco da série dos ambientes urbanos sombrios e nos mostra como a guerra entre vampiros e lobisomens (lycans) eclodiu de vez, com a ascensão de Lucian (Michael Sheen) como líder dos seres lupinos.
Inicialmente um reles escravo do lorde vampiresco Viktor (Nighy), Lucian foi o primeiro dos lycans a ser racional. Poupado por Viktor em seu nascimento, justamente por sua habilidade de controlar seu “outro lado” e manter a aparência humana, Lucian foi escravizado e transformado em uma espécie de mascote para o aristocrata imortal, com seu sangue servindo para criar outros como ele para as fileiras vampirescas. Quando adulto, ele começou a se relacionar secretamente com Sonja (Rhona Mitra), a bela e rebelde filha de Viktor. Almejando a liberdade, Lucian se vê traído por Viktor e começa a organizar as bases para criar uma resistência lycan contra seus opressores.
Embora se passe em um período cronológico bem anterior ao mostrado nas tramas principais dos seus predecessores, este “Anjos da Noite – A Rebelião” não é totalmente auto-contido, já que alguns personagens e as origens de certas raças foram contadas nas fitas passadas e não ganham muitas explicações aqui, o que pode deixar alguns espectadores novatos bastante confusos. No entanto, o roteiro da fita é bem encaixado no que tange a narrativa da saga, servindo para aprofundar mais nas motivações de certos personagens, principalmente no primeiro filme.
Apesar de funcionar bem dentro de sua trilogia, o longa sofre por algumas falhas cometidas por seu inexperiente diretor. Tatopoulos não possui o talento estético de Wiseman para compor cenas de ação, resultando em algumas sequências excessivamente cortadas e confusas. Além disso, o cineasta acaba cometendo erros bobos, mas bastante incômodos como na questão dos olhos de Sonja, que oscilam inexplicavelmente entre azuis vampíricos e a tonalidade comum.
No entanto, as criaturas mostradas em cena são bastante detalhadas, com a fotografia sombria do competente Ross Emery conseguindo dar cobertura aos efeitos digitais da fita. Apesar da citada edição caótica de algumas cenas de ação, a montagem realizada pelo já calejado Peter Amundson (“Hellboy” e “Mandando Bala”) e pelo não tão conhecido Eric Potter é bem sucedida ao dar ritmo à fita, fazendo com que ela ganhe velocidade, algo adequado ao ar de aventura e rebeldia pretendido pelo texto. Além disso, o visual do longa é bastante impressionante, apesar da pouca variedade de ambientes – grande parte da produção se passa em meio ao castelo de Viktor.
Boa parte do elenco sai bem em sua tarefa em dar vida a esses personagens irreais. Bill Nighy cria um vilão interessante com seu Viktor, bem melhor explorado aqui do que nos dois filmes anteriores da série, carregando bem o arco trágico deste antagonista. O talentoso Michael Sheen, por sua vez, se vê um tanto prejudicado no seu trabalho. Embora convença como o revolucionário Lucian, mostrado como um ser oprimido que finalmente chega a seu ponto de ebulição, o ator perde créditos nos momentos mais românticos de seu personagem, graças à inexpressividade de seu par, Rhona Mitra, com certeza o elo fraco do cast.
Anteriormente, a franquia contava com uma heroína forte e relativamente carismática que era a Selene vivida por Kate Beckinsale. Neste longa, Mitra não consegue salvar sua Sonja de parecer uma reles menina birrenta com um caso de paixonite, jamais conseguindo convencer muito em seu amor por Lucian, que é justamente o mote de toda a trama. Apesar de linda, Mitra é humana e tem seus defeitos, como um sinal próximo ao lábio, encoberto por uma mecha de cabelo posicionada e por truques de câmera. Essa teimosia em esconder uma coisa tão boba na moça acaba vazando para o público, algo que compromete levemente a imersão deste na história.
O mais interessante é que uma mera ponta de Selene no filme consegue ter mais impacto do que todas as cenas de sua contraparte no filme, em um efeito que lembra muito a participação de Vin Diesel em “Velozes e Furiosos 3 – Desafio em Tóquio”. Ora, a personagem era o ícone da franquia e sua substituição por uma genérica sem carisma ceramente prejudicou este terceiro episódio.
“Anjos da Noite – A Rebelião” irá agradar ao público fã da saga – e dos RPGs da Nightwolf -, pois consegue dar uma nova visão e um bom pano de fundo para os eventos dos dois outros filmes da série. No entanto, suas falhas e o excesso de informações necessárias para a melhor compreensão do seu universo poderá afugentar os não-iniciados, que se sentirão bastante perdidos neste fogo cruzado entre vampiros e lobiso…, digo, lycans.