Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 10 de abril de 2009

Território Restrito

O drama "Território Restrito" retrata a vida de pessoas que precisam urgentemente de um "green card" para permanecerem nos EUA e para isso elas são capazes de tudo. Além disso, o longa lembra muito o premiado “Crash - No Limite” e uma boa parte de sua genialidade.

Escrita e dirigida por Wayne Kramer (“No Rastro da Bala”), a obra aborda o problema da ilegalidade de imigrantes nos Estados Unidos. Estes se vêem em situações que os obrigam a fazerem coisas absurdas em busca de um documento que demonstre sua legalidade nesse país. O longa também mostra situações em que esses imigrantes sofrem vários tipos de preconceitos, o que o aproxima mais ainda com o filme Paul Raggis.

Mais uma vez, a ideia do título é alterada. No original é “Crossing Over”, termo usado para indicar a etapa da recombinação genética como metáfora para a ideia de um imigrante se tornar semelhante a um nativo. No longa essa metáfora também ocorre, mas visualmente por meio de ruas e avenidas que se cruzam. A versão nacional chamada de “Território Restrito” prefere um título mais simples e objetivo aos seus interesses comerciais.

No elenco encontramos importantes nomes como Harrison Ford, que interpreta um agente que prestou juramento para proteger as leis de imigração da nação americana; Ashley Judd, que faz a advogada de defesa da imigração; e Ray Liotta, o marido dela, o julgador de solicitações Cole Frankel. Vale lembrar também a participação da brasileira Alice Braga.

Muitas cenas abordam os vários tipos de preconceitos existentes no atual cenário mundial, mas uma em especial merece ser destacada. Uma jovem menina imigrante, durante a apresentação do trabalho da escola, defende os motivos pelos quais os terroristas do ataque de 11 de Setembro realizaram tal ato, o que só podia causar uma grande polêmica na qual a menina é bastante repreendida, mas o que comove é que ela não desiste e continua firme com sua posição.

É comovente ver como as coisas acontecem e o que os imigrantes sofrem para poder conseguir legalização em um país tão rico e prepotente. Eles são julgados, humilhados, como se já não bastasse sair de seu país de origem, ainda são alvos de ataques. A justiça não é a palavra chave, embora devesse ser em qualquer lugar do mundo. O patriotismo deles que é tão explorado no filme chega a ser irritante quando comparado as suas atitudes.

É importante destacar o ótimo trabalho de edição de Arthur Coburn, que conseguiu um excelente resultado ao introduzir cortes essenciais ao desenvolvimento da obra, deixando buracos que só viriam a ser preenchidos em um momento mais oportuno. A fotografia de Jim Whitaker proporciona ao espectador um ambiente intrigante e realista que são bem marcantes. Acrescente uma bela trilha sonora e uma criativa direção de arte.

Dentre todas as semelhanças com “Crash – No Limite”, a principal diferença está no roteiro. Enquanto o do vencedor do Oscar é completo e espetacular, este não consegue tanto êxito assim. Essas falhas existentes no enredo deixam não só a sensação de que faltou algo a ser dito, mas também de que faltou ousadia, já que o roteiro em muitos momentos apresenta-se superficial e previsível. Entretanto, esses erros não comprometem totalmente o seu resultado final. O que se pode dizer ao final da sessão é que os 140 minutos valeram a pena.

Marcus Vinicius
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