Seguindo basicamente a fórmula certa para um filme-testosterona, "Velozes e Furiosos 4" tem a moral questionável, roteiro ralo e personagens esquemáticos, mas que compensa em suas cenas de ação altamente bem realizadas.
É fácil ficar no território conhecido, principalmente em uma franquia que não é exatamente apoiada em sua originalidade, como é o caso da série “Velozes e Furiosos”, que já nasceu como uma versão de “Caçadores de Emoção” trocando o surf pelos carros tunados. Assim, o diretor Justin Lin, que também comandou o episódio anterior, resolveu apostar no óbvio neste quarto capítulo da franquia, visando agradar o público que tornou a “saga” um sucesso.
Trazendo de volta o elenco principal do original – algo que ele já ensaiava desde o longa anterior – este “Velozes e Furiosos 4” coloca na cena o carisma de Vin Diesel, cenas de ação cuidadosamente amalucadas, uma trilha sonora que mais lembra uma festa de hip-hop e mais mulheres se esfregando que em um pornô lésbico, tudo na medida para enlouquecer os fãs adolescentes da franquia, pontuando o filme com momentos que os farão aplaudir em alto e bom som durante a projeção.
A história da fita ignora solenemente o segundo filme da série, “+ Velozes + Furiosos”, não por coincidência o único que não contou com Vin Diesel no elenco. O longa, aliás, já abre com o personagem do astro, Dom Toretto, em ação, orquestrando um roubo a um caminhão tanque junto à sua gangue, que inclui sua namorada Letty (Michelle Rodriguez) e seu grande amigo Han (Sung Kang), um dos protagonistas de “Velozes e Furiosos 3 – Desafio em Tóquio”. Com a polícia em sua cola, o trio decide se separar, com Han indo se aventurar no Japão e Dom saindo com destino ignorado.
Algum tempo depois, morando na República Dominicana, Toretto recebe uma ligação de sua irmã, Mia (Jordana Brewster), que o avisa de uma trágica morte, evento este que o leva de volta aos EUA em busca de vingança. Enquanto isso, Brian O’Conner (Paul Walker), agora um agente do FBI, procura pistas sobre um dos maiores traficantes de drogas atuando no país, um homem conhecido apenas como Braga. Os caminhos de O’Conner e Toretto inevitavelmente se cruzarão, colocando esses dois homens novamente correndo lado-a-lado, após eventuais brigas e desentendimentos para eliminar um pouco de testosterona.
O roteiro da fita não passa, é claro, de uma grande desculpa para criar mirabolantes cenas de ação automobilística que desafiam todas as leis da física. E é aqui que a franquia “Velozes e Furiosos” se destaca em relação às dezenas de genéricos criados após o lançamento do original, graças ao nível das acrobacias que só podem ser feitas com um orçamento decente e capacidade técnica para criar sequências emocionantes, comandadas com eficiência por Lin.
Além disso, como já conhecemos aqueles personagens, esse fino vínculo acaba por colocar um pouco de investimento emocional da audiência nessas cenas, algo que as imitações baratas não conseguem, até pela falta de carisma e presença dos atores que participam da grande maioria dessas produções. Neste sentido, a persona cinematográfica de Diesel, como o eterno anti-herói durão, e de Paul Walker, o mocinho canastrão com um pendor para a indisciplina, ajudam bastante.
Quanto aos demais atores já conhecidos da franquia, Michelle Rodriguez basicamente entra e sai de cena rapidamente, Jordana Brewster tem apenas o trabalho de parecer bonita e Sung Kang só aparece para fazer uma ligação entre esse filme e o anterior – no qual o seu personagem havia, inclusive, morrido.
É até um pouco complicado analisar o trabalho do restante elenco porque… bem, basicamente cada um ali não está trabalhando em uma produção artística, mas em uma linha de montagem, contando com suas funções específicas. É nos coadjuvantes que realmente se nota que o texto joga estereótipos de personagens na tela, esperando que o público não note a falta de originalidade do roteiro enquanto é distraído por frases de efeito, mulheres se agarrando e cenas de ação – o que dá muito certo, considerando a intenção da película.
Tem-se o capitão (Jack Conley) que, eventualmente, fecha a investigação do protagonista, o agente mauricinho (Shea Whigham) que entra em conflito com o herói e que só serve para fazer idiotices, e a novata que fica apenas no computador. Já os vilões são maus e caricatos, sendo estes grandalhões e impiedosos (Laz Alonso) ou maquiavélicos e gananciosos (John Ortiz). A exceção, como sempre, vai para a capanga bonitinha (Gal Gadot), que acaba ajudando os “heróis” no fim das contas.
No entanto, o que mais me incomodou no filme foi a moralidade distorcida deste, que valida condutas como liberar testemunhas ilegalmente, surrar colegas de trabalho do nada e até realizar uma fuga da prisão como se fosse o maior dos atos de camaradagem! É como se o longa dissesse que é “cool” quebrar leis e regras, e quem fizer isso será recompensados com carrões e mulheres. É uma ótima mensagem para a juventude, aliás…
Um fato interessante é que o filme se utiliza de uma linguagem que remete a dos jogos da franquia de games “Need For Speed”, com alguns gráficos que aparecem na tela lembrando bastante alguns indicadores do jogo. O paradoxo está no fato de que a série “Velozes e Furiosos” influenciou bastante os jogos mais recentes desta marca, em uma troca bastante bizarra entre essas duas mídias.
E é isso que este novo filme da “saga” é, no fim das contas: um game de corrida bem feito, com um roteiro ralo e moralmente questionável (para se dizer o mínimo), mas razoavelmente divertido para o seu público e perfeitamente esquecível para a audiência comum.