Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 28 de março de 2009

Um Louco Apaixonado

“Um Louco Apaixonado” se mostra uma comédia física eficiente na sua primeira hora, mas, daí em diante, o filme parece acabar cedendo exatamente à pressão de quem tanto faz questão de criticar a manipulativa indústria cinematográfica de Hollywood.

“Um Louco Apaixonado” é uma adaptação das memórias do jornalista inglês Toby Young retratadas no livro “Como Perder Amigos e Alienar Pessoas”, cujo título é, na verdade, a tradução livre do nome do filme em inglês. Na obra, Toby Young descreve, com toques de humor satírico, os cinco anos que permaneceu em Nova York trabalhando para renomadas revistas de celebridades, como a Vanity Fair. O autor critica principalmente o mundo de favores que é Hollywood, onde para se tornar famoso não é preciso ter talento, mas sim beleza e um agente publicitário influente. A película, no entanto, possui drásticas mudanças em relação aos reais acontecimentos do livro, seja pelos exageros das situações em que o personagem principal se envolve, seja pela idealização de seu romance com uma jovem jornalista.

Para começar, o nome do protagonista no filme não é Toby, mas sim Sidney Young (Simon Pegg). Desde pequeno, Sidney tinha fascínio pelo “pomposo” mundo das celebridades de seu país e sonhava algum dia poder ultrapassar livremente aquela corrente vermelha que separa o público comum dos famosos. No entanto, o acesso ao que chama de Shangri-lá parece estar garantido depois que ele recebe um convite de trabalho de um dos chefões da respeitada e premiada revista americana Sharp’s. A partir de agora, Sidney não precisaria mais se disfarçar para estar entre os famosos e nem correr depois que o disfarce era revelado, ele poderia ser ele mesmo. Mas duas características profissionais o jornalista faria questão de levar para Nova York: o seu desprezo por falsos artistas e o seu amor pelo sensacionalismo.

É desta maneira que Sidney se apresenta ao seu chefe Clayton Harding (Jeff Bridges). Trajando uma camisa com dizeres sexuais, o novato não deixa uma boa primeira impressão para o resto da redação, mas representa o que Clayton quer resgatar em sua revista, a ousadia. Há anos, a Sharp’s ganha prêmios pelo país afora, porém tudo tem um motivo: a revista deixou de polemizar e traz como capa falsas promessas de talento. Uma delas é Sophie Maes (Megan Fox), uma “ascendente” atriz em busca de reconhecimento. Agenciada pela influente Eleanor Johnson (Gillian Anderson), Sophie é tratada como uma verdadeira princesa pela imprensa. Indignado com a falta de atenção que a publicação dá a reais artistas, Sidney se recusa a seguir a linha editorial “pacífica” da revista, o que traz terríveis consequências para ele. O jornalista possui como principal trunfo americano o romance que desenvolve gradativamente com a colega de profissão Alison Olsen (Kirsten Dunst). Porém, Alison possui um segredo que pode impedir que os dois continuem juntos.

Estreante em filmes de ficção, já que tem mais experiência em documentários, Robert B. Weide dirige “Um Louco Apaixonado” com um ritmo surpreendente. Com tomadas e movimentos de câmeras rápidos, Weide consegue fazer do filme um agradável entretenimento, apesar da trama perder o foco em sua hora final. É impossível negar a semelhança do longa com “O Diabo Veste Prada”, já que ambas as histórias tratam de personagens que estão passando por experiências traumatizantes em revistas americanas. O que conta contra “Um Louco Apaixonado” é que a película não possui a acidez, nem o charme, nem o competente elenco de “O Diabo Veste Prada”.

O principal culpado pelo fracasso do filme é o roteirista Peter Straughan, em sua terceira produção. Straughan consegue criar, mesmo com alguns exageros, situações hilárias para o personagem Sidney Young, com destaque para a cena em que ele entrevista um respeitado diretor de animação. Sidney não esconde sua paixão pelo sensacionalismo e tem como principais perguntas para o cineasta: “o esquilo do seu filme é gay?” e “você é gay?”. É cômica também a sequência em que Sidney defende “Con-Air” como o melhor filme de todos os tempos.

O roteirista também demonstra com sucesso como funciona em Hollywood a criação da imagem perfeita de um artista, com suas entrevistas encomendadas e a demasiada utilização do Photoshop. Straughan, porém, parece esquecer do clima satírico do filme e o transforma em uma pouco convincente e comum história de amor. É irônico como uma película que critica a manipulação na indústria do cinema americano parece seguir pelo mesmo caminho em busca de bilheteria.

O trunfo do protagonista Simon Pegg também se limita a mudança brusca que o filme sofre. Se na primeira parte ele demonstra todo o seu talento cômico com um ritmo que só os atores ingleses possuem, na segunda ele é incapaz de lidar com a dramaticidade que o roteiro lhe impõe. Kirsten Dunst compõe melhor o seu personagem, não apostando em nenhum momento na comicidade de Alison Olsen. Com a construção distinta das personalidades de Alison e Sidney, o romance do casal acaba se tornando insustentável. O restante do elenco aposta erroneamente nas caricaturas: Jeff Bridges é o editor contraditório, Gillian Anderson é a agente publicitária mandona e Megan Fox é a jovem atriz estúpida e sensual.

Com um título que parece ridículo em um primeiro momento, mas que acaba se tornando adequado com o fim do filme, “Um Louco Apaixonado” passa de uma comédia promissora para um romance decepcionante. Apesar da referência recorrente a “A Doce Vida”, que conta justamente a história de um jornalista que revela o mundo das celebridades, a produção não possui nem um pouco da inspiração da obra máxima do mestre Federico Fellini.

Darlano Didimo
@rapadura

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