Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 16 de março de 2009

Jogo entre Ladrões

Nos últimos anos, a sessão "Super Cine" da TV Globo se especializou em exibir filmes de suspense, alguns bons, mas bem fraquinhos em sua grande maioria. Este "Jogo Entre Ladrões" tem toda a cara desta conhecida sessão de filmes e não pertence à categoria dos exemplares efetivos do gênero, mas tem lá seus momentos graças à química de seus dois protagonistas.

Filmes de ladrões são divertidos, mas complicados de serem feitos. Ora, longas como "Um Golpe à Italiana" ou "Onze Homens e Um Segredo" (o original e o remake) tinham de ser charmosos o suficiente para que não nos importemos com a moral dúbia de seus protagonistas e inteligentes o bastante para que admirássemos a inteligência destes. Já o exemplar mais recente do gênero, "Jogo Entre Ladrões", tem a metade do charme que pensa e é bem menos inteligente do que imagina.

O filme mostra o "jovem" larápio Gabriel Martín (Antonio Banderas) sendo recrutado pelo experiente Ripley (Morgan Freeman) para um trabalho aparentemente impossível: roubar dois ovos Farbegé de uma joalheria de segurança máxima. Porém, sempre ocorrem complicações. A primeira vem na forma do obstinado policial Weber (Robert Forster), obcecado em capturar o personagem de Freeman há anos.

A outra dificuldade se apresenta nas curvas da advogada russa Alex Korolenko (Radha Mitchell), afilhada de Ripley e filha de seu ex-parceiro, além de ser a mulher que desperta uma irresistível atração em Gabriel. Como sempre, há também um vilão, o mafioso Nicky (Rade Serbedzija), homem que contratou o veterano ladrão para o "serviço" e que fará de tudo para ver o contrato cumprido, colocando Alex inevitavelmente em perigo.

O roteiro, escrito por Ted Humphrey, tenta se mostrar brilhante jogando reviravoltas a cada 10 minutos, sendo que a frequência destas aumenta absurdamente na última meia-hora do filme, chegando até a incomodar, principalmente por tais eventos. Até mesmo pelos próprios personagens não serem lá muito originais, faz com que quase nenhuma dessas guinadas sejam surpreendentes, matando boa parte da diversão do filme.

Morgan Freeman já viveu figuras dúbias muito mais interessantes em fitas como "Xeque-Mate" e "O Procurado". Antonio Banderas, por sua vez, não é nenhum George Clooney e vive um personagem idêntico ao que interpretou em "Mais do que Você Imagina" (filme que, por sua vez, já era uma bomba). E, vamos e convenhamos, o quase cinquentão Banderas já não convence muito como um ladrão garotão. No entanto, os dois possuem um bom entrosamento, dando certo ritmo aos diálogos entre Ripley e Gabriel, com a relação dos dois sendo o maior ponto forte do filme – e talvez o seu único.

Assim, temos a dupla de protagonistas atuando basicamente no piloto automático, algo que já derruba qualquer projeto. Quanto ao vilão do filme, Nicky, Rade Serbedzija faz um trabalho bem cadenciado, condizente com a grande "virada" do personagem. Já Robert Forster é apenas o "policial chato" do filme, sem ganhar um pingo de tridimensionalidade no decorrer da película.

Por sua vez, a talentosa Radha Mitchell aparece basicamente como objeto sexual, se saindo muito bem como a advogada Alex ao seduzir o personagem de Banderas, principalmente em uma cena no quarto. No entanto, embora os dois possuam certa química mais física, o romance per si não engrena, até por conta de uma repetitiva gag envolvendo a falta da habilidade de dedução por parte dele, com essa linha sendo tudo, menos "engraçadinha".

Em matéria de direção, o filme também não apresenta muita criatividade. Comandado por Mimi Leder, diretora mais experiente com produções para TV do que em grandes películas (seu trabalho anterior foi "Corrente do Bem"), a cineasta não realiza nada novo com relação às sequências de roubo ou de ação. A de maior destaque no filme é uma versão sem graça ou sensualidade da sequência de alarmes laser de "Armadilha". Em relação ao ritmo do filme, Leder não inova nada, mantendo a estrutura básica de apresentação-dificuldade-roubo-reviravolta-epílogo.

Até mesmo a trilha sonora do longa sofre de falta de imaginação. Em suas faixas orquestradas, o compositor Atli Örvarsson aposta em – veja só – temas latinos para Gabriel. Quando o personagem aparece pela primeira vez, jurei que estava ouvindo a trilha de "A Máscara do Zorro". Já nas músicas, para ter uma ideia, quando os personagens visitam uma boate russa, começa a tocar uma canção da banda T.a.t.u.. O maior problema é que toda vez que o filme tem como cenário a tal boate, sempre está tocando a mesma música da dupla.

Sem ser surpreendente ou original, "Jogo Entre Ladrões" se torna um mero passatempo para dias chuvosos e chatos ao invés de um eficiente filme de ladrões. No entanto, graças à interação entre Morgan Freeman e Antonio Banderas, o longa se salva de ser uma bomba completa e se torna apenas um filme fraco e que desperdiça um elenco promissor.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

Compartilhe

Saiba mais sobre