Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 14 de março de 2009

Tô De Férias

Três anos depois de seu lançamento oficial na Alemanha, seu país de origem, a animação “Tô de Férias” chega aos cinemas brasileiros com um conteúdo tão simples e educativo que nos faz lembrar dos primeiros filmes do gênero, o que não significa que ele é bom.

O filme é uma animação digital da Alemanha e mostra a pouca tradição do país em produções do gênero. O longa é dirigido por uma parceria entre Reinhard Kloss, que ainda não possui nenhum filme conhecido nacionalmente, e Holger Tappe ("A Terra Encantada de Gaya"). Embora Holger tenha um pouco de experiência em animações, em "Tô de Férias" ele demonstra que ainda tem que desenvolver e muito o seu potencial em filmes do gênero.

Os erros já começam pela tradução totalmente inoportuna do título. De "Impy’s Island" o filme passou a se chamar nacionalmente "Tô de Férias", quando deveria se chamar "A Ilha de Impy". Um erro que demonstra mais uma vez a preocupação das distribuidoras em atrair o público sem se preocupar com o conteúdo do seu produto.

O longa conta a história de uma ilha onde animais e humanos convivem normalmente até que encontram um ovo perdido há milhares de anos. O filhote que nasce do ovo é identificado pelo professor Habakuk Tibatong, líder da turma de bichos e humanos que vivem na ilha, como um implogossauro, elo perdido entre os dinossauros e mamíferos. Ele é chamado por todos de Impy. A partir do contato com esse mais novo habitante da ilha, eles começam a ser envolvidos por sentimentos nunca antes explorados que os ajudam a perceber os verdadeiros valores da vida.

Os personagens principais são da parte animal um pássaro, uma porca, um pinguim, um implogossauro, um lagarto e um elefante marinho. Da parte humana, o professor Habakuk Tibatong e um pequeno menino. Dentro do universo fantasioso do filme, todos convivem normalmente como se nada os diferenciasse. O problema é que nenhum personagem foi bem construído, o que compromete a qualidade e o desenvolvimento da história. Uma outra falha é a forma como o humor está presente, tão simples e contido que pode passar despercebido até pelas próprias crianças. Dessa forma, o filme não consegue convencer nem o seu público alvo.

As temáticas abordadas são bem simples e conhecidas pelo grande público que aprecia os filmes de animação. O sentimento de família, amizade, companheirismo, ambição, arrependimento, tudo isso aparece de forma bem explicada e educativa que qualquer professora do ensino fundamental vai querer passar para seus alunos. Agora, se eles vão aguentar assistir é outra história.

A trilha sonora merece destaque por mesclar músicas típicas de filmes do gênero com músicas lentas que mais parecem retratar um drama. Isso deu um tom estranho à animação porque ocorre uma diminuição do ritmo e uma perda de identidade. Alguns personagens gostam de cantar músicas que segundo eles são tristes, dessa forma, eles expressam seus sentimentos e angústias. Ao final, um clipe com a música "We Are Family" encerra de uma forma bem forçada a animação e, ao mesmo tempo, exalta o sentimento de família que está presente entre os moradores da ilha.

O design gráfico da animação consegue impressionar em alguns momentos principalmente nas cenas que retratam o interior de uma caverna. Isso mostra a importância de novos países investirem em filmes do gênero por incrementar novas técnicas e fugir um pouco das demasiadamente exploradas. Em alguns momentos, é impossível não ver algumas semelhanças com o filme "A Era do Gelo", principalmente no início, quando surge um pernilongo que muito se assemelha com o esquilo do outro filme.

Um longa tão educativo pode até ser bom para as crianças terem contato com alguns temas importantes, mas a forma como o longa é explicado e desenvolvido chega a ser insuportável aos olhos de pessoas com mais de dez anos de idade. E mesmo que o filme tenha como público alvo essas crianças, ainda sim acredito que muitas delas também não vão aguentar um filme tão bobo e irrelevante.

Marcus Vinicius
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