Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 14 de março de 2009

Jogo entre Ladrões

Tendo como principal chamariz para o público o seu elenco de destaque, “Jogo entre Ladrões” é mais um filme de roubo “enlatado” mandado diretamente de Hollywood. Porém, mesmo com a sua fórmula comum e desgastada, a produção ainda diverte.

Quando Gabriel Martin (ou “Gaby”), personagem interpretado por Antonio Banderas, finge, durante uma festa, ser o cineasta Jules Dassin, concluímos que “Jogo entre Ladrões” sabe da sua condição de se tratar de um filme de roubo e, aliás, dos menos originais. Dassin se tornou mundialmente conhecido por realizar produções de qualidade deste gênero, dentre elas o respeitado "Rififi" (1955), que conta a história de um homem recém-saído da prisão que planeja assaltar uma grande joalheria. Mais recentemente, o cinema americano tem produzido inúmeros filmes com a temática, alguns bons, outros ruins. A franquia “Onze Homens e um segredo”, “Armadilha”, “O Plano Perfeito” e “Efeito Dominó” estão entre as boas referências. Já entre os fracassos estão “Um Plano Brilhante” e “Ladrão de Diamantes”.

A maioria desses filmes possui, como já exemplificado acima, sinopses semelhantes: cidadãos já envolvidos no mundo do crime que recrutam novos alunos, para que juntos eles realizem um roubo histórico, impossível de ser concretizado por um ser humano comum. E não vai ser “Jogo entre Ladrões” que vai destoar desta máxima. A trama conta a história de Gaby, um ladrão de Miami que acaba de se mudar para Nova York. Ele conhece, durante um assalto no metrô da cidade, em que “passa a mão” em alguns diamantes, Keith Ripley (Morgan Freeman), um criminoso conhecido pela polícia local, principalmente pelo tenente Weber (Robert Forster).

Ripley precisa de um parceiro para efetuar um de seus planos mais ambiciosos: roubar dois ovos Fabergè, que estão protegidos por um esquema de segurança intransponível. Ele acaba de perder seu amigo de longa data Victor Korolenko e, para pagar sua dívida com a máfia russa, necessita capturar as duas relíquias. No processo de planejamento do roubo, Gaby conhece, “coincidentemente”, a bela Alexandra (Radha Mitchell), que não é nada mais nada menos que a filha de Victor e afilhada de Ripley. Os dois iniciam uma relação amorosa, mesmo sem o consentimento do padrinho da moça. No entanto, Alexandra acaba se tornando refém dos russos, que ameaçam matá-la caso o serviço não seja executado com sucesso.

Para não ficar na “mesmice”, a trama de “Jogo entre Ladrões” apresenta como clímax uma série de reviravoltas, que lembram outro filme atuado por Morgan Freeman, “O Procurado”. Porém, apesar de não sabermos quais exatamente serão essas mudanças, o espectador já tem consciência de que elas ocorrerão, e não precisa ser nenhum gênio para tomar essa conclusão. Essa estratégia hollywoodiana costumava funcionar há alguns anos, mas depois que se tornou rotineira, não tem mais o mesmo efeito. Para construí-la adequadamente, é necessário que a dubiedade esteja sempre presente em cada ato dos personagens, o que não ocorre aqui.

A direção do longa é de Mimi Leder, uma das poucas mulheres no ramo. Responsável por obras como “Impacto Profundo” e “O Pacificador”, Leder não realizava um filme desde 2000, quando fez “Corrente do Bem”. Nesse período, dirigiu várias séries americanas como “The West Wing” e “Vanished”. Em “Jogo entre Ladrões”, ela demonstra ter técnicas no comando das câmeras. Por meio de cortes rápidos, aceleração e desaceleração de imagens, a diretora impõe ritmo à narrativa, principalmente em algumas cenas que envolvem diálogos e flashbacks. Porém, esquece de aplicá-las exatamente nas cenas em que esses recursos são mais necessários, as de ação. A sequência de abertura do filme não empolga, assim como a do roubo dos ovos Fabergè.

O roteiro de Ted Humphrey possui como principal característica a falta de originalidade. Estreante nos cinemas, ele apenas repete as fórmulas de sucesso de outros filmes. Além disso, Humphrey esquece de inserir elementos cômicos, os quais são muito comuns em longas desse gênero. Isso ajudaria a dar um charme especial a película. Não convence também algumas questões relacionadas ao momento do furto: como uma segurança tão especializada acredita em um mero telefonema afirmando que o metrô vai estar em obras nos próximos dias, como justificativa para os eventuais barulhos? Como uma máquina de identificação pergunta “você está com fome?” do nada? Por que demorou uma hora para a polícia receber o recado de que o alarme do local do roubo tinha sido acionado de forma inexplicável? Além desses furos e erros, o roteiro ainda possui uma clara imitação de uma frase de “Obrigado por Fumar”, em que o protagonista Nick Taylor diz: “Jordan faz cestas. Manson mata pessoas. Eu falo. Cada um tem seu dom”.

A principal razão para assistirmos ao filme é Morgan Freeman. Apesar de sempre parecer interpretar o mesmo personagem, o ator nunca erra. Mesmo que seu papel não seja o mais espetacular, a sua postura imponente, o seu olhar misterioso e a sua voz marcante elevam o nível de qualidade de algumas cenas. Já Antonio Banderas não consegue ser o enfrentamento adequado para Freeman. É interessante observarmos como não desenvolvemos nenhum tipo de sentimento por Gaby. Radha Mitchell, que já demonstrou seu talento em “Terror em Silent Hill” e “Melinda e Melinda”, faz da mocinha Alexandra um personagem mais maduro e controverso.

Contando com uma trilha sonora eletrizante composta Atli Örvarsson, “Jogo entre Ladrões” deve figurar entre aqueles filmes de roubos sem muito destaque na última década. Apesar de sua história ser facilmente esquecida depois da projeção, o longa ainda representa 90 minutos de entretenimento. Afinal, quem não gosta de ver como dois homens comuns conseguiram executar o seu plano infalível e roubar o precioso objeto?

Darlano Didimo
@rapadura

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