Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 14 de março de 2009

Dia dos Namorados Macabro

Para o deleite dos fãs que gostam do gênero, "Dia dos Namorados Macabro" é puro entretenimento. Nada mais do que isso, o longa se junta à lista das refilmagens que resgatam um pouco dos bons filmes de terror atualizados para um público mais comercial, porém que não deixa de admirar um esguicho de sangue.

Quando o "Dia dos Namorados Macabro" original foi filmado, eu não era nem nascido. Ao crescer, ele vez por outra passava na televisão e, ao contrário de outros filmes, não marcou minha infância. Então prefiro dizer que não lembro da história original e nem quis alugar para fazer comparações com esta refilmagem. Foi uma boa ideia, considerando que o filme de 2009 entrega de cara que sua principal inovação foi ser filmado em 3D e que, provavelmente, muito da trama perderia a graça se eu lembrasse do enredo e suas resoluções. Cheio de pegadinhas no enredo, o longa é essencialmente slasher e, como esperado, além das mortes bizarras, há nudez gratuita e muitos, mas muitos momentos engraçados. Engraçados no sentido de ser tosco, não de comédia romântica. E isso é um elogio.

A trama começa com flashes de jornais falando sobre um acidente em uma mina na cidade de Harmony. O jovem Tom Hanniger (Jensen Ackles) teria causado um acidente no qual matou cinco pessoas e deixou uma delas, Harry Warden (Richard John Walters), em coma permanente. No ano seguinte, no Dia dos Namorados, Harry acordou no hospital onde estava internado e matou 22 pessoas com uma picareta, mas foi morto em seguida. Dez anos depois, Tom volta à cidade de Harmony após a morte de seu pai para resolver protocolos e vender a mina. Daí ele precisa enfrentar os traumas do passado, que incluem sua ex-namorada Sarah (Jaime King) e o atual marido dela Axel (Kerr Smith), além de uma nova onda de assassinatos que parecem estar interligados.

Recentemente, "Sexta-Feira 13" ganhou um novo projeto para o cinema. Boa parte dos fãs gostou da homenagem a Jason e sua máscara de hockey, bem como sua eficiência em não poupar ninguém. Outros filmes já mostraram assassinos em série se vingando das pessoas ou matando-as gratuitamente, sempre com alguma marca física que os identifique. Em "Dia dos Namorados Macabro", o assassino veste uma misteriosa roupa e máscara de minerador, deixando sua respiração amedrontar qualquer possível vítima. Este longa não se diferencia muito dos outros com temáticas semelhantes, mostrando apenas mais um louco que mata por prazer. Então o que teria de interessante no longa? O sangue, os miolos, as falsas piadas, o nonsense, os gritos.

Harry aparece e desaparece facilmente. Quando aparece, o diretor Patrick Lussier ou opta por dar susto no público, bem como a primeira aparição do personagem, ou então de descansar sua lente sobre ele, revelando ao espectador que Harry está ali, ao mesmo tempo que as vítimas desconhecem isso. É o típico de pânico que se causa na audiência somente por mostrar que ele está ali pronto para matar qualquer um. "Dia dos Namorados Macabro" é, acima de tudo, uma diversão. Pessoas se defendem das maneiras mais esquisitas, batem no assassino com panelas, são jogadas no teto de maneira bizarra e a picareta de Harry entra por qualquer canto do corpo das vítimas.

Além da nojeira, ver aquilo tudo é uma diversão. A criatividade da carnificina lembra bastante o que Darren Lynn Bousman fez na série "Jogos Mortais", mas sem revirar tanto o estômago como esta franquia faz. A direção de arte, maquiagem e efeitos visuais nem sempre conspiram a favor desses momentos para torná-los chocantes, mas o que basta é ver como Harry matará sua vítima e se deliciar com o pavor delas. Não é que o público precise ser sádico, mas o filme pede por um olhar mais descontraído, bem como na refilmagem de "Sexta-Feira 13". O que é trash nem sempre é ruim, principalmente quando uma equipe técnica quer causar várias reações no público, e é isso que "Dia dos Namorados Macabro" faz: vai facilmente do cômico ao pavoroso.

Talvez a principal diferença do original para a refilmagem seja a técnica 3D aplicada na película. No Brasil, as poucas salas projetoras deste formato certamente causam maiores sensações no público, já que o diretor Patrick Lussier traz ótimos momentos com essa técnica. Infelizmente, boa parte do público, assim como eu, deve se contentar com a projeção normal, mas mesmo assim é uma boa pedida. Lussier tem boas resoluções de drama e tensão, favorecendo a ânsia pelos momentos-chave e aplicando falsas pistas do desenrolar da trama. Apesar disso, ele escorrega algumas vezes em mostrar que os personagens estão vendo algo importante para a narrativa, mas esquece de mostrar ao público. Lussier apela menos ao susto de áudio, característico dos recentes filmes de terror, transformando-os em sustos físicos e pavor. Aliás, há muito tempo eu não assistia a um filme no cinema que arrancava gritos da plateia. Verdade ou exagero, gritar e ficar tenso é sempre um bom sinal.

O roteiro de Todd Farmer e Zane Smith não perde tanto tempo ressaltando a data do Dia dos Namorados como principal incentivadora da trama, já que isso nem importa muito. Porém, o texto escorrega apenas ao estender a resolução do ato final, mas que não incomoda tanto pela boa atuação do elenco. Aliás, não é preciso ser um bom ator quando se é presa de um assassino em um filme de terror. Sabendo correr, gritar e fazer careta é o que importa. Porém, aqui encontramos um elenco até razoável. Tanto Jensen Ackles quanto Kerr Smith conseguem dosar bem a dualidade de seus personagens, o que favorece no ato final e nas pegadinhas impostas pelo roteiro. A bela Jaime King muitas vezes se encontra inexpressiva, mas não chega a atrapalhar tanto o andamento do longa. O restante apenas "se vira", com destaque para Betsy Rue e sua sequência gratuita de nudez cômica.

A onda de refilmagens de terror pode trazer uma surpresa: uma visão mais atual e melhorada do que se considera tomar susto e sentir medo. Não que isso seja uma coisa fantástica, mas sacia a falta de boas histórias do gênero no cinema. A volta de "Dia dos Namorados Macabro" confirma que tem como se divertir e ficar com nojo ao mesmo tempo, apesar de ainda pecar como película.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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