Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 21 de fevereiro de 2009

Pantera Cor-de-Rosa 2, A

“A Pantera Cor-de-Rosa 2” consegue manter o nível de sua primeira sequência, o que não significa dizer que se trata de um filme de qualidade. Na verdade, a produção repete os mesmo erros, com sua história previsível e sem graça.

O atrapalhado inspetor Jacques Clouseau (Steve Martin) volta três anos depois para, desta vez, integrar um “time dos sonhos” de detetives de diferentes partes do mundo que investigam os roubos de um vigarista internacional conhecido como Tornado. O famoso ladrão é acusado de roubar relíquias de inúmeros países, como a Magna Carta inglesa e a espada do imperador do Japão. Não demora muito para que Tornado também tome posse de um dos mais famosos símbolos da França, o diamante Pantera Cor-de-Rosa.

A partir de então, o grupo de investigadores composto pelo italiano Vincenzo (Andy Garcia), pela bela Sonia (Aishwarya Raí), pelo inglês Pepperidge (Alfred Molina) e pelo japonês Kenji (Yuki Matsuzaki) parte em sua missão, sempre com a contribuição desajeitada de Clouseau. O inspetor continua contando com a parceria de seu fiel assistente Ponton (Jean Reno) e o comando do inspetor-chefe Dreyfus (John Cleese). O seu tímido caso amoroso com a secretária Nicole (Emily Mortimer) também é retomado nesta sequência, mas, agora, Clouseau possui um obstáculo maior para conquistá-la: a concorrência de Vincenzo.

Todo o conceito do filme, no entanto, gira em torno das situações cômicas em que o protagonista é capaz de se meter, deixando a história policial de lado. E, em “A Pantera Cor-de-Rosa 2”, Steve Martin acentua (se é que era possível) os trejeitos de seu personagem, deixando-o ainda mais caricatural. Diferente do contido Clouseau consagrado do mestre Peter Selers, o de Martin exala um ar de arrogância, sempre com seu nariz empinado e seu estereotipado “biquinho” francês. Algumas sequências perdem o humor justamente devido aos seus exageros, como na cena em que o inspetor tem seu cabelo lavado com xampu.

A direção e o roteiro também contribuem para o fracasso do filme. O desconhecido Harald Zwart demonstra toda a sua inexperiência no comando do longa, deixando o filme sem ritmo e sonolento, apesar de seus míseros 93 minutos. Ele também erra ao repetir as cenas exageradas de “A Pantera Cor-de-Rosa” em que o inspetor voa por cima de Paris em mais uma de suas trágicas perseguições.

Já o roteiro de Scott Neustadter e Michael H. Weber, que possui a contribuição do próprio Steve Martin, aposta erroneamente nos diálogos, os quais estão sem inspiração. Escapam justamente as cenas de comédia física, como na que Clouseau é observado por um circuito de câmeras e na que tenta salvar uma série de garrafas de vinho de quebrarem em um requintado restaurante de Roma. É inexplicável também a inclusão dos filhos de Ponton pelos roteiristas, o que serve apenas para quebrar a dinâmica do filme.

Já em relação ao elenco, a película é um verdadeiro desperdício de talento. O único que se destaca é John Cleese, que substitui Kevin Kline no primeiro filme. Ele faz do inspetor Dreyfus um personagem tão engraçado que chega a ofuscar Steve Martin quando os dois contracenam. É uma pena que apareça tão pouco na tela. Jean Reno está mais uma vez bastante apagado como o único real ator francês da produção.

Emily Mortimer não consegue convencer como Nicole, além de não desenvolver química alguma com Martin. Já os respeitados Andy Garcia, Alfred Molina, Lily Tomlin e Jeremy Irons não têm tempo nem oportunidade para revelar toda a sua capacidade artística. Chega a ser constrangedor vê-los interpretando personagens tão insignificantes. Porém, eles jamais chegam a decepcionar.

A trilha sonora volta a contar com o clássico tema composto por Henry Mancini. Seria impossível acompanhar as trapalhadas de Jacques Clouseau sem a sua tradicional música. Mas apesar de terem sido feitas versões mais agitadas do tema, o seu charme se perde pela forma descuidada com que o filme é tratado.

Dirigido ao público infantil, “A Pantera Cor-de-Rosa 2” possui piadas bobas e um desfecho que pode ser adivinhado nos primeiros quinze minutos. O filme não obtém êxito nem em seu objetivo de proporcionar boas risadas na audiência. Não seria rígido classificá-lo como um forte concorrente para o “Filme Sessão da Tarde” do ano. É lamentável que Steve Martin esteja desperdiçando todo o seu talento em franquias fracassadas como essa.

Darlano Didimo
@rapadura

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