Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 15 de fevereiro de 2009

Sexta-Feira 13 (2009): Jason Voorhees está de volta e é pra ficar

“Sexta-Feira 13” traz novamente às telonas, e em grandioso estilo, o psicopata Jason Voorhees, que sem qualquer suspense mostra o real motivo de sua existência: sangue. Espetacular desde o início, o longa “mata” as saudades dos fãs do ícone pop e revela aos mais jovens o real significado de um maníaco com uma máscara de hóquei e um facão nas mãos.

Há muito tempo a data sexta-feira 13 não soa tão especial quanto esta. Conhecida no mundo todo, a franquia “Sexta-Feira 13” retorna aos cinemas após dez filmes, desde sua estréia, em 1980. Criado por Sean S. Cunninghan e cultuado por muitos, Jason Voorhees, um dos símbolos máximos do horror cinematográfico, foi ressuscitado este ano. A produção encabeçada pela Platinum Dunes, de Michael Bay, em parceria com os produtores Brad Fuller e Andrew Form, resultou em um magnífico slasher – estilo de horror – que honra o espírito da série e dá o gancho para um novo recomeço.

Precursor do terror moderno, Jason foi o responsável por abrir as portas para eternos sanguinários, como Freddy Krueger, de “A Hora do Pesadelo”; Chucky, de “O Brinquedo Assassino”; e Pinhead, de “Hellraiser”. Eterno na mente daqueles que acompanharam a saga e aproveitaram cada morte como se fosse a primeira, com certeza sentirão neste a mesma sensação e calafrio que a trilha “ki, ki, ki… ma, ma, ma” tanto medo os incitou durante a década de 80. Ou mesmo se lembraram da inconfundível voz da clássica Pamela Voorhees (Betsy Palmer), mãe de Jason, sussurrando o marcante “his name was Jason”. Sem mencionar as mortes tradicionais e inesquecíveis, como os corpos que caem quando alguém se aproxima ou as janelas quebradas por cadáveres arremessados. Saudosismos a parte, toda uma mitologia foi revista e adaptada aos novos costumes pelos olhares mais do que treinados do diretor Marcus Nispel, também responsável pelo remake de “O Massacre da Serra Elétrica”, em 2003.

Para esse percurso de adaptação, alguns momentos da história original foram alterados. Algumas modificações casuais, como a morte de Pamela Voorhees acontecendo à beira do lago Crystal, “substituiu” uma das choupanas do enredo clássico. Outras mais drásticas, porém necessárias aos novos tempos. Um assassino que sempre caminha a passos lentos e alcança suas vítimas por mais que elas sejam velocistas, já é um conceito bastante defasado. Jason (Derek Mears) é um caçador. Ele corre, salta, prepara armadilhas e é ferido. Aqui, o assassino é mais humano, não é aquele zumbi imortal que com o tempo esqueceu o motivo de sua vingança.

Claro que alguns ingredientes permanecem inalterados, até porque se não foram criados pela série, se tornaram parte da identidade dela. Temos o retorno dos adolescentes estereótipos: o nerd japonês, o playboy loiro, a boazinha com rosto angelical, o herói musculoso, o usuário de drogas, a vadia e o rapper. Este último, personificado por Lawrence (Arlen Escarpeta), até chega a brincar com a situação em uma das cenas. Clara referência ao garoto Reggie (Shavar Ross), o “destemido”, de “Sexta-Feira 13: Um Novo Começo”, um dos personagens mais queridos na série.

O argumento principal continua sendo a vingança de Jason pela morte de sua mãe. Ainda garoto, em 1957, Jason se afoga no lago Crystal, ou acampamento sangrento, como passou a ser chamado posteriormente. Revoltada, sua mãe procura vingança matando os monitores do lugar, culpando-os de não prestarem atenção suficiente em seu filho. Sua cabeça é decepada na frente do garoto e desde então a sede de vingança sempre aumenta. Mais dramático impossível. Retornando ao presente, um grupo de amigos vai acampar nas proximidades do lago e lá se deparam com a monstruosa figura, que os ataca sem qualquer piedade.

Semanas após o ocorrido, outro grupo de jovens vai para próximo do lago passar um final de semana consumindo drogas e fazendo sexo. Como clichê que é clichê é eterno, Nispel e os produtores acertam ao trazerem novamente para o público as lindas jovens nuas, marca registrada desde o primeiro longa da série. Ainda no caminho, estes se esbarram com Clay Miller (Jared Padalecki), outro jovem que vem ao local em busca de sua irmã Whitney (Amanda Righetti), integrante do primeiro grupo e desaparecida desde então. Nem é necessário comentar o que acontece com essa nova turma.

Eletrizante desde o início, a narrativa é dinâmica e prende o público a cada susto. A câmera de Nispel em conjunto com a frenética edição de Ken Blackwell dá a pitada de mestre ao filme, que nas horas tensas amedronta e nos momentos de suspense ressalta com grandes closes o maníaco ou mesmo o belo cenário. E como todo filme de terror que se preze, o áudio é fundamental. O experiente Steve Jablonsky dosa na medida certa a sonoridade ambiente com o som que possui a única função de assustar. Outro aspecto que também tem destaque é o roteiro. Escrito pela dupla Damian Shannon e Mark Swift, ambos de “Freddy vs. Jason”, o script segue sem derrames a linha narrativa que o slasher se propõe a provar. A fantasia e o terror estão equilibrados. Jason mata quando deve matar e os diálogos são ditos nos momentos certos.

Sobre as mortes, um ponto a mais para Nispel e os roteiristas. Já que o que move a máquina é o sangue, as cenas de ataque foram bem dirigidas e variadas. Ao todo são 13 os “empacotamentos” que foram planejados de forma criativa e consciente. Claro que menção às mortes clássicas não poderia faltar. O saco de dormir presente no sétimo filme, o furador de gelo do segundo e a flecha (menção ao arpão) do terceiro representam as mais inesquecíveis.

Derek Mears, que também é dublê e lutador profissional, encarnou com maestria a alcunha de matador. Com seus quase dois metros de altura provocava medo ao simples fato de estar em cena. Sua boa forma e disposição refletiram no misto de guerreiro com figura assustadora, o que concedeu o nível de humanidade e veracidade abandonado nos últimos longas da série clássica.

Outro que merece destaque é o ator Jared Padalecki. Vindo da série “Sobrenatural” e experiente no gênero por já ter atuado em “Cry Wolf – O Jogo da Mentira” e no remake de “A Casa de Cera”, Padalecki é o perfeito representante do galã musculoso em seus também quase dois metros. No entanto, engana-se quem apenas o julga como tal. O ator cumpre bem seu papel e revela-se uma grande promessa para o cinema. Destaque para a luta protagonizada pela dupla, que como de costume seria rápida e somente o vilão atacaria, desta vez as forças estão equilibradas.

Desde o ótimo retorno de “O Massacre da Serra Elétrica”, o cinema de horror slasher não havia batido um marco desta magnitude. Um ícone no inconsciente social é homenageado da forma mais sincera. Em “Sexta-Feira 13”, Jason Voorhees veste o terno de gala e comemora seus quase trinta anos com o público que jamais o abandonou. E fica o recado: se por acaso alguém for passar o final de semana em algum acampamento próximo a um lago, e moradores, policiais, ou mesmo bêbados o alertarem sobre o perigo, escute-os e volte para a casa.

Pablo Cordeiro
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