Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 07 de fevereiro de 2009

Noivas em Guerra

O que era para ser uma comédia romântica acaba não sendo nem engraçado nem romântico. "Noivas em Guerra" mostra durante 90 minutos várias tentativas frustradas de fazer um filme divertido, porém se encaixa em mais um clichê da indústria que sequer diverte. Completamente dispensável.

A trama é narrada por Marion St. Claire (Candice Bergen e sua voz pouco convencional), uma mulher poderosa no universo dos casamentos novaiorquinos. Ela conta, desde a infância, a história das amigas Liv (Kate Hudson) e Emma (Anne Hathaway), que sempre sonharam com o dia em que subiriam ao altar e trocariam votos de felicidade eterna. Os detalhes de ambos os casamentos eram rígidos, incluindo realizá-los no Plaza Hotel, um dos lugares mais badalados de Nova York. Já adultas, Liv é uma advogada irredutível e respeitada por sua equipe. Ela namora Daniel (Steve Howey). Emma é uma professora de grande coração que geralmente não sabe dizer "não" aos abusos profissionais de Deb (Kristen Jonhston), sua colega de trabalho. Emma namora Fletcher (Chris Pratt). A vida das amigas é feliz e saudável até que elas são pedidas em casamento e precisam disputar por uma data no Plaza Hotel, pelos convidados, pelos adereços, enfim, por tudo.

A trama foi concebida pelos pouco experientes Greg DePaul e Casey Wilson, que decidem ter a temática de casamento como atrativo do longa. Somado a isso, eles possuem a presença das atrizes Kate Hudson e Anne Hathaway, especialmente esta última, em uma fase grandiosa em sua carreira. Porém, não basta ter duas estrelas no elenco para contar uma boa história, basta criatividade e senso de humor. O simpático "Vestida Para Casar" mostra que, mesmo com os clichês básicos do gênero comédia romântica e do subgênero "casamento", é possível se utilizar de artifícios e boas piadas para entreter o público. Em "Noivas em Guerra", DePaul e Wilson não saem do lugar comum. Eles mostram, pelos olhos de uma narradora que pouco importa na película, a amizade avassaladora de Liv e Emma, e o sonho de ambas em se casar com os namorados.

De repente, à vista do primeiro problema que poderia atrapalhar a cerimônia de ambas, elas começam a se confrontar fisica e psicologicamente, como se aqueles anos de amizade nem existissem. Tudo bem, o ego delas ficou ferido ao perceber que nem Liv nem Emma estavam dispostas a abrir mão do que queriam pela amizade. Porém, o que poderia ser resolvido facilmente acaba sendo um vulcão na vida delas. Oras, se elas são tão amigas, por que não casarem no mesmo dia, se utilizando do espaço que elas tanto sonharam, com os mesmos convidados, os mesmos arranjos, buffet e tudo mais? Se a amizade delas era tão verdadeira e desde o berço, elas provavelmente aceitariam e ficariam feliz em se casar na mesma ocasião. Quando isso é proposto por Daniel e Fletcher, elas não dão o braço a torcer. Lógico, se isso acontecesse, o filme acabaria com meia hora de projeção.

A partir daí, elas viram gladiadoras em busca de machucar a outra. Aquela amizade cheia de sorrisos agora dá espaço a ofensas e trapaças. É exatamente aí que aparece o maior problema: a falta de situações que façam o público reagir com o que está sendo visto em cena. Os clichês acontecem aos montes, enquanto outros momentos 'novos' viram escatologia. Emma fica com a pele dourada e Liv com o cabelo azul. Emma dá doces para Liv, que em momento algum realmente engorda para usar o clichê do 'vestido não cabe em mim'. Nada, nenhuma novidade na trama.

O pior de tudo é esperar por novas motivações e pela inteligência das personagens. Já que elas se conhecem tão bem, poderiam inclusive fugir dos clichês e se confrontarem de forma mais pessoal, como acontece na sequência final no casamento de Emma com um vídeo constrangedor sendo exibido. A falta de idéias dos roteiristas permeiam a projeção e fazem com que o momento "mais engraçado" seja com um grito pouco natural de "bitch" em cena. O resto pouco importa.

Para completar a inexperiência dos roteiristas, o diretor Gary Winick, responsável pelos regulares "A Menina e o Porquinho" e "De Repente 30", não tem facilidade com a narrativa do longa, abusando dos contraplanos mal feitos, além do infortúnio de uma edição ineficaz. Porém, se Winick pode ser lembrado neste filme é por saber conduzir, ao menos, as duas protagonistas. Winick arranca principalmente de Kate Hudson uma naturalidade que há muito tempo a atriz não cedia às telonas.

Já Anne Hathaway sabe dosar a personalidade, ora sendo apagada, ora se revelando mais ousada. As duas possuem boa química juntas e talvez isso seja a única motivação para assistir ao longa, já que suas personagens são escravizadas pela falta de criatividade da história. O restante do elenco não passa de meros coadjuvantes cujas vozes não importam muito e nem interferem na trama principal. Nem a própria narradora tem esse poder.

"Noivas em Guerra" não cativa, muito menos proporciona bons momentos ao espectador. É daqueles filmes que sabemos o começo, meio e fim, por justamente não nos apresentar a uma história nova, ainda que utilize um tema batido. A sensação final é do mau uso do talento de Kate Hudson e Anne Hathaway e da perda de tempo do espectador.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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