Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 05 de fevereiro de 2009

Sim Senhor!

Simpático e divertido, "Sim Senhor!" é uma ótima opção para quem estiver interessado em apenas relaxar por uma hora e meia e rir com as piadas e gags de Jim Carrey.

Parece que a maioria dos cineastas que produzem as chamadas "comédias" andam em extremos. Ou a fita tem de flertar com outros gêneros e se distanciar um pouco da comédia pura ou ser o produto de idiotas que acham que piadas sobre gases, peitos e bundas são engraçadas. Felizmente, existem exceções nesse sentido, com películas que investem na simplicidade de suas histórias (não confundir simples com idiota) e no carisma de seus atores para fazerem rir. Este é o caso de "Sim Senhor!", uma fita que não possui a mínima intenção de ser mais do que é: uma produção divertida.

O sempre ótimo Jim Carrey vive, mais uma vez, um cara comum em uma situação complicada. Seu personagem, Carl, é um homem que está estagnado profissionalmente e que passou por um divórcio complicado, ainda nutrindo sentimentos por sua ex-esposa, Stephanie. Durante este período meio depressivo de sua vida, tudo o que ele quer é ficar só em casa, assistindo DVDs em seu sofá, rejeitando qualquer proposta de seus amigos para sair, sempre com desculpas esfarrapadas na ponta da língua.

Certo dia, ele recebe uma estranha visita no horário de almoço no seu trabalho como bancário de Nick, um antigo colega que ele não via há tempos. Carl descobre que Nick adotou uma filosofia pouco usual de vida, dizendo "sim" para quase tudo que aparece em seu caminho. Após uma noite especialmente difícil, o protagonista resolve aceitar o convite do amigo para assistir a uma palestra do "guru do sim", Terrence.

Durante o evento, Carl acaba fazendo um "pacto" com o universo, se comprometendo a dizer "sim" para todas as oportunidades que aparecerem em seu caminho. Assim, ele acaba embarcando no período mais emocionante da sua vida, encontrando tipos estranhos e reencontrando o amor na figura de Allison, uma desencanada cantora por quem se apaixona. Se "Sim Senhor!" tem um problema, este é que tudo acaba dando muito certo para Carl após sua entrega à filosofia do "sim".

Lembrando de outros longas da filmografia de Jim Carrey como "Todo Poderoso" ou "O Máskara", vemos que, quando as coisas começam a parecer dar certo para ele, algo surge para atrapalhar, sempre em um contraponto natural ao que causou a vantagem para ele em primeiro lugar. Já aqui, a despeito do enorme potencial cômico para bizarrices com as afirmativas eternas de Carl, poucas coisas ocorrem para atrapalhar a vida do protagonista, quase como se o filme estivesse vendendo o estilo de vida nele mostrado. Desse modo, com exceção da vizinha idosa tarada e do forçado envolvimento do FBI que marca o início do ato final do filme, não existem muitos conflitos e revezes para o personagem na película.

No entanto, as diversas situações nas quais Carl se envolve são divertidíssimas. Desde a carona ao mendigo, passando pela briga no bar até a genial sequência do suicida, todas farão o espectador rolar de rir na cadeira do cinema. Muito disso se deve ao desprendimento de Jim Carrey a qualquer senso do ridículo (no melhor sentido da frase). Seja em papéis dramáticos ou em comédias puras, o ator literalmente se joga no personagem, não tendo nenhum receio em fazê-lo.

O melhor ainda é que Carrey compreende que o filme só é tão bom quanto seus coadjuvantes. Assim, temos o estabelecimento de uma ótima química entre o ator e Zooey Deschanel, que empresta seu charme e talento musical à Allison, fazendo desta um irresistível interesse amoroso para Carl. A garota, aliás, mistura espontaneidade e charme, típicos das personagens vividas pela atriz em sua filmografia (exceção clara sendo sua participação no pavoroso "Fim dos Tempos").

Outro que se destaca, mesmo com pouco tempo de cena, é o eterno General Zod, o inglês Terence Stamp. Vivendo o "guru do sim", Stamp empresta ao personagem sua forte presença em tela e, bom, seu sotaque (como foi bem notado pelo próprio filme), para fazer de seu personagem uma figura extremamente carismática e bastante convincente em suas palestras.

Mas quem rouba a cena mesmo é o estreante neo-zelandês Rhys Darby como o divertido e meio deslocado chefe de Carl, Norman. Com um visual que praticamente grita "INGLÊS!!", Darby encarna Norman como o típico nerd, que pouco se relaciona com as pessoas fora de seu mundo, por isso é interessantíssimo vê-lo interagindo com Carl, principalmente em suas "festinhas" (note que ambas são com franquias conhecidas da Warner Bros., estúdio que produz o filme).

Já a direção de Peyton Reed é bastante tranquila, deixando espaço para improvisos ocasionas de Carrey e fazendo com que o elenco pareça bem a vontade em cena. Após investir em um filme com um clima vintage em "Abaixo o Amor" e outro um pouco mais yuppie em "Separados Pelo Casamento", Reed se vê em uma película com uma proposta mais despojada aqui em "Sim Senhor!", com isso se refletindo em planos mais convencionais, mas nem assim deselegantes, vide a sequência do anfiteatro.

O que também chama muito a atenção é a trilha sonora do filme, supervisionada por Jonathan Karp, que inclui além das músicas da "Munchausen by Proxy", banda fictícia liderada por Zooey Deschanel/Allison, um pouquinho de Jim Carrey em uma versão acústica de "Jumper" e até "Separate Ways (Worlds Apart)" do Journey, que é o toque do celular de Carl, com esta também tocando na apoteótica e sempre necessária sequência na qual o mocinho corre atrás de sua amada para se desculpar.

Jim Carrey vem alternando em sua filmografia recente entre filmes mais desafiadores e projetos mais tranquilos, como este. Assim, o ator consegue agradar a gregos e troianos, ou aos fãs da boa comédia e de um cinema mais intelectual, logrando um relativo sucesso em ambos os campos. "Sim Senhor!" não é uma exceção, divertindo seu público e sendo uma garantia de boas risadas, sem chamar a audiência de idiota. Recomendado.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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