“Crepúsculo” mais parece uma mistura de histórias de vampiros e “Malhação” com um toque de “Smallville”, sendo um filme desenhado apenas para fazer garotas apaixonadas pelo ator principal suspirarem. Passe longe.
Muito barulho por nada. É isso o que se pode ser dito sobre a adaptação para o cinema do fenômeno literário “Crepúsculo”. Enquanto garotas de todas as idades suspiram pelo vampiro-galã Edward, ao se remover o fanatismo em relação à franquia o que sobra é um filme fraco e cansativo, que mais parece uma mistura das novelas globais “Vamp” e “Malhação”, com uma pitada de “Smallville”. Admito logo duas coisas: sou homem e não li nem uma página da obra que originou a película, o livro homônimo escrito por Stephenie Meyer, algo que me coloca em uma posição incrivelmente neutra em relação ao frenesi provocado pela saga do amor proibido entre um vampiro e uma humana adolescente.
Na fita, temos a jovem Bella Swan (Kristen Stewart), uma estudante do colegial que se muda de um estado ensolarado, onde morava com a mãe, para a casa do pai que não vê há muito tempo, que fica em uma cidadezinha próxima à Washington, um município frio e sempre recoberto de nuvens. Chegando ao colégio local, ela acaba tendo uma atração à primeira vista por um jovem pálido chamado Edward Cullen (Robert Pattinson), filho do médico local e que sempre anda na companhia de seus irmãos adotivos.
A despeito de uma inesperada fuga do rapaz em relação a ela, é óbvio que os dois estão irresistivelmente atraídos. Certo dia, ele demonstra uma velocidade e uma força super-humanas para Bella ao salvá-la de um carro desgovernado. Intrigada com o incidente, ela começa a investigar e descobre que Edward, seus irmãos adotivos e pais são vampiros, mas “vegetarianos”, se alimentando apenas de sangue de animais.
Com este romance “proibido” sendo o mote da série, já sabemos que não se trata da mais original das obras, vide o casal Angel e Buffy do seriado “Buffy – A Caça-Vampiros”. Tudo bem, o plot não precisa ser original para dar origem a uma boa história. Mas, espere, temos uma rivalidade entre vampiros e lobisomens também. Hum, isso me cheira a “Anjos da Noite”, mas vamos em frente. Na relação entre o casal principal, um deles tem o dom de ler as mentes alheias, menos a do seu par… alguém aí falou “True Blood”?
Ah, o rapaz super-poderoso tem receio em desvirginar sua namorada humana, acho que algo parecido aconteceu com Clark Kent na quinta temporada de “Smallville”. Para completar, os Cullen mais parecem uma versão yuppie da família Weasley da saga “Harry Potter”, contando até com uma versão vampiresca do quadribol! Ou seja, aparentemente quase todos os traços de tramas existentes em “Crepúsculo” já foram mostrados em outras histórias e de maneiras mais interessantes.
O roteiro do filme ainda resolve se entupir de diálogos ridículos, como o do “cordeiro e o leão” travado entre Bella e Edward, as trezentas mil vezes que o jovem vampiro pede para a sua amada se afastar – para, dois minutos depois, ele ir atrás dela de novo – ou aquele no qual o casal principal decide não transar. Aliás, o sexo é um tabu para os protagonistas do filme, com o vampiro-galã se refreando o tempo todo para não penetrar sua amada, seja com as presas ou com o insira-seu-eufemismo-favorito, enquanto ela parece não desejar outra coisa. Mas, como bons jovens americanos, eles devem esperar até a continuação para que a menina possa sentir Edward dentro dela – de qualquer um dos jeitos.
Para piorar, não bastassem as trezentas histórias copiadas, o filme ainda conta com um elenco de fazer “Malhação” corar de inveja, com quase todo o cast secundário passando em brancas nuvens. Dois atores se destacam negativamente logo de cara. O primeiro é Peter Facinelli, que deve ter esgotado o estoque de água oxigenada em Hollywood para viver o Dr. Carlisle Cullen. Quando o personagem apareceu pela primeira vez, pensei que se tratava de um vilão tentando se passar por mocinho por conta do tom de voz canastrão de Facinelli, mas depois notei que se tratava de má atuação mesmo.
Já o segundo “ator” cujo desempenho me chamou atenção foi Cam Gigandet que, depois de viver vilões bombados em “Quebrando Regras” e na série de TV “The O.C.” interpreta aqui… um vilão bombado! Com um só diferencial, ele é tão malvado, perigoso e relevante que os outros personagens têm de nos contar o quão malvado, perigoso e relevante ele é, pois o filme simplesmente não mostra! Brilhante, não?
Aí temos o nosso casal principal. Enquanto Kristen Stewart faz o que pode para dar a Bella um mínimo de tridimensionalidade, sendo ajudada nessa tarefa pelo ator Billy Burke que, vivendo o pai da garota, divide com ela as únicas cenas dramáticas dignas de nota na fita, Robert Pattinson parece querer apenas posar para a câmera e virar um novo símbolo sexual para a mulherada. Em certo momento do filme, ele diz que tudo nele fora desenhado para que as mulheres se sintam atraídas por ele. Sério, preciso dizer o quão ridículo isso soa?
Parece que até mesmo a diretora do filme, a competente Catherine Hardwicke, esqueceu de comandar a película para mostrar a beleza de seu ator principal. Sinceramente, no plano no qual Edward está convenientemente na frente de um pássaro empalhado para dar a impressão de que ele possui asas angelicais eu quase saí do cinema! Fora que a película simplesmente não possui ritmo e não prende o espectador se este não for uma garota suspirando pelo galã em treinamento, pois não há nada interessante na tela em momento algum. Sem contar que a desatenção da diretora aos detalhes é gritante, vide a palidez mal-maquiada dos Cullen, com a equipe de produção aparentemente esquecendo de que os pescoços e membros dos atores aparecem em cena em dados momentos. Sem contar uma cena entre o casal principal na qual esquecem por inteiro a palidez do rapaz.
Com interpretações ruins, efeitos especiais medíocres (vejam só Edward correndo ao redor do carro para abrir a porta para Bella!), uma trama que mais parece uma colcha de retalhos de outros filmes e séries e o gancho para continuação menos emocionante da história, “Crepúsculo” não vale nem um décimo do hype e das filas que vem gerando. Caso queiram ver uma história de amor entre uma humana e um vampiro, contada com densidade e inteligência, além de levar o tema a sério, sugiro que assistam ao seriado da HBO “True Blood”. Vai ser um uso mais proveitoso de tempo.