Não é spoiler contar que o serial killer Jigsaw (Tobin Bell) foi objeto de uma autópsia no início de “Jogos Mortais 4”. Na ocasião, o detetive Hoffman (Costas Mandylor) escutou uma fita onde prometia que os jogos do vilão continuariam, mesmo com seu óbito. Ao final do mesmo filme, constatamos que o próprio Hoffman era um dos seguidores de Jigsaw, e não somente Amanda Young (Shawnee Smith), que também morreu ao final do terceiro longa.

Para “Jogos Mortais 5”, os roteiristas Patrick Melton e Marcus Dunstan têm como argumento abordar a relação de Hoffman e Jigsaw, além de dar um jeito de solucionar as suspeitas de Strahm (Scott Patterson) em relação a um possível envolvimento de Hoffman com os jogos de Jigsaw. No que convencionou-se fazer, “Jogos Mortais 5” começa com um prólogo onde um homem está amarrado a uma mesa. A fita de Jigsaw narra que ele precisa triturar suas mãos ou receber o corte de uma lâmina que está acima de sua barriga. Após o desfecho, a trama se inicia.

O que convencionou chamar de homenagem aos filmes trash e de terror, agora transforma-se literalmente em um filme B. “Jogos Mortais 5” busca motivações para, assim como foi feito com a relação de fidelidade de Amanda e Jigsaw, abordar o envolvimento do assassino com Hoffman. O grande problema em termos narrativos é que as motivações de Hoffman não convencem. Elas acabam simplesmente virando peças fracas para justificar que Hoffman é o homem certo para levar o legado de Jigsaw à frente.

Obviamente existem as ligações com os filmes anteriores, principalmente quando Strahm investiga o envolvimento de Hoffman com os assassinatos. Também é aí que o diretor David Hackl, em sua primeira inserção no cargo nesta franquia, usa sua criatividade. Aliás, não é algo novo, já que a mesclagem de passado e futuro ou de cenas que se fundem já era um dos traços de Darren Lynn Bousman, diretor dos outros filmes. Em outras ocasiões, Hackl não faz nada além de rebaixar “Jogos Mortais 5” a um filme fraco de suspense com traços policiais. Não há terror, nem mesmo nas armadilhas de Jigsaw.

Como trama paralela, os roteiristas decidiram fazer um massacre grupal. Agora, cinco pessoas acordam presas em uma sala e precisam saber por que estão lá. Jigsaw conta que só uma delas restará no fim do teste, que é composto por várias fases. Esta escolha como trama paralela não se sustenta, principalmente por um final pouco justificável. Os personagens envolvidos não têm carisma e em nenhum momento torcemos para eles realmente saírem dali. As armadilhas de Jigsaw, ou melhor, de Hoffman, parecem tão inferiores e pouco sangüinárias e, junto a pouca empatia de Costas Mandylor como ator, não dão crédito algum de sua maldade.

Aliás, jogar nas mãos de Mandylor o controle de uma franquia onde o assassino principal tornou-se um mito entre os filmes do gênero é uma escolha equivocada, e foi exposta de forma amadora em cena. A personagem Amanda tinha um caráter emocional e psicológico muito mais forte do que Mandylor, além deste não passar de um canastrão. Sua vida dupla de policial e seguidor de Jigsaw não gera movimento em cena e, por o público saber da “verdade”, imbeciliza as buscas dos personagens por quem possa estar levando o lema de Jigsaw a diante.

A ausência do diretor Darren Lynn Bousman é sentida por todos que, de alguma forma, simpatizaram com a franquia. Os filmes “Jogos Mortais” hoje movimentam um público vouyerista e que se sente órfão de franquias como “Sexta-Feira 13”. Atualmente, assistir a “Jogos Mortais” não necessariamente é buscar por uma inovação ou uma linguagem diferente, mas participar do que todos esperam: momentos de nojo, angústia e nervosismo. Essas eras algumas das características de Bousman que mais faziam da franquia um sucesso. Ele conseguia explorar sua trama da forma mais correta e causar nos espectadores a reação que eles queriam. O novato David Hackl deixa a desejar nisso e em tudo que se refere à direção. Não há apuro técnico e nem a trilha sonora marcante dos filmes anteriores resolvem os problemas de tensão ou de choque.

Até os efeitos especiais decaíram, sendo poucos os momentos em que temos uma visão tão clara de que as vítimas de Jigsaw estavam sendo mesmo mutiladas, esquartejadas, etc. O que temos em “Jogos Mortais 5” é a falsidade do sangue, da dor dos personagens e das próprias armadilhas. Os roteiristas que criaram tantos testes psicóticos de Jigsaw no filme anterior agora decepcionam com a escassez do que falar. Particularmente, acho uma pena, já que eu, como espectador, ainda era um dos poucos que se divertia vendo as investidas cinematográficas de Jigsaw.

Desde o primeiro filme, os desfechos de “Jogos Mortais” ficaram conhecidos por chocar e pôr o público em uma situação incômoda. Em “Jogos Mortais 5”, é previsível como os protagonistas irão se relacionar ao fim da projeção, sendo frustrante constatar apenas que há um gancho para mais outros filmes da série. É lamentável que o nível tenha caído e que a indústria financeira continue sendo a arma que impulsiona a realização de seqüências desnecessárias. Resta também lamentar o próximo filme, que deve chegar com a mesma sensação que “Jogos Mortais 5” acaba: impotência.