Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 13 de setembro de 2008

Perigo em Bangkok

Repleto de clichês e diálogos pedantes, “Perigo em Bangkok” comprova a franca decadência da carreira de Nicolas Cage e quase nada agrada como filme de ação.

Via de regra, remakes geram filmes inferiores aos originais, se não longas completamente esquecíveis. Algumas vezes, refilmagens de fitas de sucesso, quando colocadas nas mãos de diretores capazes, geram boas obras (vide “Os Infiltrados”) mas, na maioria das vezes, o resultado é mais uma bomba ocupando uma sala de cinema. O que dizer, no entanto, de um longa que é refilmado pelo próprio diretor do original? Não parece fazer sentido nenhum um cineasta querer refazer um trabalho que fora elogiado da primeira vez e tentar refazê-lo, arriscando um resultado pior. Bem, foi o que os irmãos Pang fizeram com este “Perigo em Bangkok” e falharam miseravelmente.

Não assisti ao filme original, escrito e dirigido pela dupla em 1999. No entanto, ao ver este remake, tive uma clara sensação de deja vu. Um matador em seu último serviço tentando sair rico e vivo deste derradeiro trabalho, mas acaba se complicando por arrumar uma consciência.. hum, onde já vi isso mesmo? Ah, em “O Matador”, lançado três anos atrás, feito com maior competência e contando com personagens infinitamente mais carismáticos!

Aqui, temos um decadente Nicolas Cage vivendo o sério e profissional Joe, um assassino cheio de regras e que anseia conhecer uma boa mulher e viver uma vida normal. Contratado por um poderoso gângster tailandês, ele vai à Bangkok eliminar quatro alvos e sair desta vida. Lá ele contrata um trambiqueiro chamado Kong como seu novo parceiro (que deverá ser morto após o trabalho) e começa a cumprir o seu contrato. No entanto, ele não contava que acabaria se acostumando com a amizade de Kong (que acaba virando seu “aluno”) e que se apaixonaria por uma atendente de farmácia muda.

Ok, vamos ignorar o fato de que Kong aprende a lutar em pouquíssimo tempo e de que o romance a jato entre Joe e sua amada não empolga de maneira alguma. Afinal, este é um filme de ação e são as seqüências de luta que deverão atrair ao público. Vamos a um triste fato: elas são chatas. Sim, CHATAS! Pouco imaginativas, excessivamente curtas e nada empolgantes, tais cenas estão entre as mais arrastadas que já vi em um longa “de ação”. Para piorar, elas são protagonizadas por um personagem que, ora mais parece um morto-vivo em cena, ora é um pateta romântico.

O Joe de Nicolas Cage é mais um tropeço deste rumo ao fundo do poço. Sério, o que diabos aconteceu com ele? Aqui temos o astro com uma atuação quase tão patética quanto a vista em “Motoqueiro Fantasma”. Troque as jujubas no copo de martíni pelo prato de comida apimentada que dá na mesma! Fora isso, a narração do personagem é a coisa mais clichê do mundo, dando quase para adivinhar o que ele vai “pensar” depois. Além da falta de carisma, a coerência também passa longe do trabalho de Cage aqui. Apresentado inicialmente como um homem frio, Joe passa a sorrir como se estivesse bêbado assim que encontra sua amada, “interpretada” por Charlie Yeung.

As aspas aí estão pela falta de interpretação da “atriz”, pois a inexpressividade desta não tem nada a ver com o fato de sua personagem ser surda-muda, mas sim porque esta não arranca um pingo de reação da platéia em momento algum, a não ser incredulidade pelo fato desta trabalhar como balconista em uma farmácia! O único ator que ainda chega a escapar no filme com uma atuação mais do que razoável é Shahkrit Yamnarm, que traz uma vivacidade e carisma a seu Kong e chega a destoar completamente de seus companheiros de cena.

Já nos aspectos técnicos, os irmãos Pang parecem estar no piloto automático. Esteticamente, o filme até apresenta alguns poucos momentos interessantes (como no tiroteio sob a luz vermelha), mas isso deve-se mais ao trabalho do diretor de fotografia Decha Srimantra do que à dupla. Os cineastas teimam em mostrar a cidade-título do filme como um ambiente sujo e decadente, empurrando esta visão goela abaixo do espectador, sem se utilizarem de argumentos narrativos para tanto. Outro exemplo da falta de sutileza dos diretores está na seqüência que mostra a tentativa de assassinato do bom político tailandês, na qual eles e o roteirista Jason Richman (do terrível “Em Boa Companhia”) tentaram transformar o personagem em John Kennedy!

Contando ainda com uma trilha sonora aborrecida e uma edição apenas comum, “Perigo em Bangkok” já ocupa um local de destaque dentre os piores filmes da carreira de Nicolas Cage. Considerando que nesta lista estão o já citado “Motoqueiro Fantasma” e “O Sacrifício”, eu diria que é hora do ator contratar um novo agente. E rápido.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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