Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 17 de agosto de 2008

Quebrando Regras

"Quebrando Regras" nada mais é uma tentativa de atrair o público que gosta de ver pancadaria, mulheres quase nuas e abdomens sarados de bad boys. Com um discurso pouco convincente, é o tipo do filme que você pode sair a qualquer momento durante a projeção que não será surpresa o que vai acontecer no final.

Na trama, Jake Tyler (Sean Faris) é um esportista que sempre está se metendo em confusão, principalmente quando é provocado por alguém. Após a morte do pai em um acidente de carro, Jake leva uma vida sem sintonia com a mãe Margot (Leslie Hope) e com uma afetividade interessante com seu irmão mais novo, Charlie (Wyatt Smith). As constantes desavenças continuam quando eles se mudam para Orlando, após Charlie ganhar uma bolsa para estudar tênis e se tornar um profissional.

Largando o esporte e as memórias do passado, Jake precisa se adequar às regras da nova cidade. Ou seria "a" regra? Na escola que começa a estudar, Jake percebe o quanto os alunos adoram assistir a lutas, repletas de sangue e ossos quebrados. Lá, ele conhece Baja (Amber Heard) e logo se atrai por ela. Sua fama de encrenqueiro logo se espalha pelo colégio e chama a atenção de Ryan (Cam Gigandet), o rei da confusão do local, conhecido por vencer todas as brigas que entra.

Daí o resto todo mundo já sabe. No começo, Jake tenta não se envolver nessas brigas, como uma forma de provar para a mãe que pode ser menos violento. Porém a todo instante insultam seu pai e contrariam o jovem, então ele tem uma luta com Ryan, onde perde e descobre que a garota dos seus sonhos namora com o exibido lutador. Neste meio tempo, Jake faz amizade com Max (Evan Peters), um fracote que adora filmar lutas. Para se redimir de Ryan, Jake procura uma academia que ensina a arte de luta como forma de defesa. O técnico Jean Roqua (Djimon Hounsou) passa a treinar Jake, que em breve poderá ter sua vingança contra Ryan.

A história parece familiar? Pois é, "Quebrando Regras" não é nada mais do que uma trama high school que investe em demasia na violência corporal. Nada contra filmes deste nível, já que eles acabam tendo seu público fiel, vide a franquia "High School Musical", mas chega uma hora em que as histórias já são tão reutilizadas que não convencem mais. A primeira observação em "Quebrando Regras" é que os protagonistas já são bem crescidinhos para ainda estarem no colégio. Aliás, creio que seja o colégio, e não uma universidade, já que há pouco esclarecimento sobre o ambiente em que se passa o longa. Só sabemos que é em uma Orlando em que todos adoram ver duas pessoas se partindo ao meio, inclusive sempre filmando as disputas para colocar na internet.

Neste sentido, o roteiro de Chris Hauty é bem parcial. Todos os jovens participam de alguma forma dessas matanças físicas, deixando a cargo do protagonista Jake fazer a negação de que a violência não leva a nada. Porém, cinco minutos depois já vemos um Jake motivado pelo orgulho para que possa quebrar a cara de seu rival. Ainda: a academia de Jean tem uma filosofia um pouco controversa. O treinador afirma que suas técnicas não devem ser usadas fora de lá, porém não poupa ensinamentos sobre o por quê de entrar em uma luta. Aliás, o sentido de luta até chega a ganhar motivações bonitinhas quando Hauty nos deixa enjoados com os conflitos familiares de cada personagem, onde "cada um tem sua luta". É quase dispensável toda a carga dramática que é posta para cobrir os buracos deixados entre uma seqüência de luta e outra.

As lutas iniciais são até interessantes, porém o filme não sai da mesma idéia. Os treinos são excessivamente longos e não passam ao público a idéia de que Jake está aprimorando suas técnicas, principalmente porque não temos ciência de quanto tempo (em termos de dias, semanas e meses) aquele treino está durando. Quando já não aguentamos mais ver tanta gente se batendo, o ato final em que Jake finalmente tem sua vingança é extremamente longo. Chega a ser patético em um determinado momento em que confundem o sobrenome de Jake, que é Tyler, com Taylor.

Como protagonista, Sean Faris até faz o que pode com uma história que realmente deve ter exigido bastante de seu ótimo porte físico. Até consigo imaginar que os treinos para o filme devem ter sido duros, já que ele encara com muita coragem muitos de seus desafios em cena. Entretanto, como ator dramático, Faris deixa a desejar. Talvez sua semelhança com Tom Cruise e o toque esnobe de seu olhar e seu sorriso de lado afastem uma identificação primordial com o público, que fica sem imparcial em relação a vingança que o motiva. O vilão vivido por Cam Gigandet não passa do esterótipo do mau-caráter que tem tudo na vida e se sente o máximo por isso. Sua atuação chega a ser sacal, e talvez a única coisa de positiva do ator para o papel tenha sido a exibição de seu corpo definido para ganhar o fanatismo das espectadoras.

Ainda no elenco temos a apática Amber Heard, que só tem duas expressões durante todo o filme. Nem sua beleza aparece como diferencial para a trama, já que ela é simplesmente um desastre como atriz. Outro que decepciona com seu personagem é Djimon Hounsou, que se restringe ao modo mecânico de atuar, sem ao menos se aproximar da gigante atuação que fez em "Diamante de Sangue" e que foi indicado ao Oscar. Na cena do supermercado, onde o roteirista se supera ao pôr seus personagens em uma situação constrangedora, Hounsou tem uma reação simplesmente deprimente, com direito a olhar cabisbaixo e tudo mais enquanto o protagonista se lamenta e chora por algo.

A direção de Jeff Wadlow pouco acrescenta ritmo à trama e ainda favorece a irregularidade da edição da película. Como ponto positivo, a trilha sonora do filme segue a linha básica para filmes adolescentes, sempre apelando para diferentes nuances do rock, o que consegue ser bem atrativo. O filme mistura desde My Chemical Romance a Limp Bizkit e Papa Roach. Entretanto, não há história nem adrenalina que sustente as ótimas músicas escolhidas, que acabam sendo somente genéricas.

Nada mais do que um filme previsível que vende a violência com um leve toque de ato correto que deve ser praticado como solução para conflitos pessoais, "Quebrando Regras" acaba sendo interessante por mostrar a alienação de jovens que procuram neste "esporte" algo para se divertir. Talvez isso acabe estando diretamente ligado à fácil digestão de alguns filmes americanos enlatados que julgam seu público alvo como alienados e que consomem qualquer bobagem que seja filmada.

Há comparações do longa com o estilo de "Clube da Luta" e "Velozes e Furiosos", entretanto não devem ser levadas em consideração por "Quebrando Regras" não ter o mínimo conhecimento do que um filme de luta precisa para realmente ter sucesso junto à crítica e ao público mais exigente: originalidade.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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