Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 16 de agosto de 2008

Zohan: O Agente Bom de Corte

Irritantemente imbecil e preconceituoso, além de ofensivo a quem quer que se dê ao trabalho de assistir. Este é "Zohan - O Agente Bom de Corte", um dos piores filmes a ser jogado nos cinemas de todo o mundo - e chamar isso de "filme" já demanda um tremendo esforço.

O conflito no Oriente Médio já dura mais de 2.000 anos e sem esperança de resolução. Como toda e qualquer situação bélica que ocorra no mundo, é natural que comediantes tentem se utilizar de tal situação para, através do humor, satirizar a insanidade de toda guerra e dos governantes que os perpetram, algo que Charlie Chaplin fez com maestria em “O Grande Ditador”. No entanto, a obra-prima de Carlitos está para este “Zohan – O Agente Bom de Corte” como Chaplin está para Adam Sandler, ou seja, é como comparar o céu com o inferno.

Não me entendam mal, não odeio Adam Sandler, mas acho que existem três atores dentro dele. Um realizou dois ótimos trabalhos de interpretação, em “Embriagado de Amor” e “Reine Sobre Mim”. Outro fez comédias divertidíssimas como “Os Cabeças-de-Vento” e “Como se Fosse a Primeira Vez”. Já o que realizou este “Zohan” é o mesmo pulha que participou de coisas como “Little Nicky – Um Diabo Diferente”, só que em seu pior momento.

O filme tem início apresentando seu personagem-título. Zohan aparece de férias realizando proezas na praia como embaixadinhas e grelhando peixes e, por algum motivo além da compreensão humana, colocando o peixe entre suas nádegas. Um dos melhores agentes do exército de Israel, ele é chamado para capturar um perigoso terrorista conhecido como Fantasma. No entanto, Zohan tem um sonho: ser cabeleireiro nos EUA, mas fazendo questão de afirmar sua masculinidade. Logo depois, ele é mostrado como uma mistura de Rambo com o Chuck Norris da internet, sendo capaz de parar balas com as mãos – e narinas -, realizando saltos impossíveis, etc. Parece um gaulês após tomar sua porção mágica. A questão é que o machão israelita quer sair do exército, portanto forja sua morte e vai para a América.

Uma vez na terra de Bush, Zohan assume a identidade de Scrappy Coco, se hospedando na casa de um rapaz que ajudou em Nova York. Indo atrás de seu sonho, ele arruma emprego no salão de uma jovem palestina, situado em uma comunidade de muçulmanos e judeus. Assim, o filme mostra a ascensão de seu protagonista como cabeleireiro que, após fazer o seu serviço com as senhoras do bairro, transa com elas nos fundos do salão. Isso é sério, ele é um gigolô e sua chefa nada diz, simplesmente deixa com que seu empregado “satisfaça” as necessidades de senhoras idosas nos fundos de seu local de trabalho.

Enquanto isso, em tramas paralelas, a fita mostra um grupo de palestinos tentando capturar Zohan, pois um deles teve sua cabra raptada pelo soldado. Outras tramas são a cadeia de restaurantes do Fantasma e a tentativa de dominação da comunidade judeu/muçulmana por um empresário inescrupuloso. Ah, para completar, Mariah Carey resolve aparecer no filme, fechando a trinca do desastre.

Não existem palavras para descrever quão péssimas são as atuações aqui. Adam Sandler não consegue ser engraçado em momento algum. Nada. Zero. O “comediante” não realiza uma só piada, gag ou careta que gere um sorriso que seja de qualquer um. Além disso, Sandler se mostra de um machismo inseguro quase arrebatador, insistindo em mostrar o seu traseiro e ressaltar para quem quiser ouvir o tamanho de seus genitais – completando depois que não é o seu pênis, mas seus pelos pubianos que são gigantes (!).

O egocentrismo do ator também reflete nos demais membros do elenco, já que ninguém consegue atuar de maneira decente, até porque o “astro” está em 90% das cenas do filme. Na maioria das cenas onde ele não está presente, é substituído por alguém a altura. Entre eles está o péssimo Rob Schneider, que não consegue ser engraçado nem para salvar a própria vida. John Turturro, ator que geralmente se sai bem em papéis exagerados, está totalmente perdido no papel do terrorista Fantasma. Já Emmanuelle Chriqui é linda, mas só.

O roteiro, escrito pelo próprio Adam Sandler, Robert Smigel e Judd Apatow, é simplesmente horrendo. Um festival de ofensas contra judeus, muçulmanos, homossexuais, machões, atores, jogadores de tênis, enfim… para qualquer um. De Sandler até que podia se esperar algo desse nível, mas Smigel já escreveu materiais muito bons para o “Saturday Night Live” e Apatow é um dos escritores mais engraçados de sua geração, sendo sua participação aqui uma mancha para sua carreira – aliás, não reconheci uma linha de diálogo que se ligue ao material produzido anteriormente por ele.

Na direção, mais catástrofes. Dennis Dugan não consegue nem repetir planos clássicos do cinema policial de maneira eficiente (vide a cena onde Zohan prepara sua arma no escuro), quanto mais criar algo decente. Várias gags se propagam por muito mais tempo do que deveriam, sua direção de atores é inexistente e seu senso estético é simplesmente ridículo (vide as sungas de Zohan, que deveriam remeter a Borat, mas não funciona)… enfim, desastre. A fotografia de Michael Barrett é medíocre, não variando nem mesmo nas cenas passadas no oriente médio ou nas que deveriam retratar o site YouTube.

Ainda há excesso de aparições especiais inúteis. O bom comediante Kevin James simplesmente surge do nada, juntamente do tenista John McEnroe para uma linha de diálogo sem sentido. Chris Rock participa de uma ponta sem-graça, George “Sr. Sulu” Takei aparece de maneira extremamente caricata e Mariah Carey comprova, mais uma vez, que seu talento está no busto – e que busto!

Ridículo e imbecil, “Zohan – O Agente Bom de Corte” deveria entrar na lista de drogas ilícitas e sua exibição ser considerada um atentado contra o bom-senso de quem quer que seja. Passe MUITO longe!

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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