Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 15 de julho de 2008

Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008): uma obra de arte do cinema

"Batman - O Cavaleiro das Trevas" é realista. Tão realista que torna heróis ainda mais humanos e vilões reconhecíveis. O novo filme do homem-morcego é magnífico ao deixar de lado a fantasia dos quadrinhos e ao encher a tela de personagens brilhantes.

Apenas com o logo do famoso homem morcego preenchendo a tela, o coração do espectador pula. Não é por acaso. Qualquer cinéfilo, e de fato qualquer pessoa que tenha assistido e gostado de “Batman Begins” deve considerar “O Cavaleiro das Trevas” o mais aguardado filme de 2008. A ansiedade justifica cada suspiro, cada choque e cada exclamação que escapa ao longo das cenas de ação, mas, mais do que isso, “O Cavaleiro das Trevas” é um excelente filme, digno de meses de espera, passível de críticas positivas e comentários acalorados. O longa-metragem é o tipo de filme que nos faz querer levantar da cadeira e pular para a ação.

Diferente dos quatro filmes inspirados do herói realizados anteriormente, “Batman Begins” prezou pela realidade, explicou cada alternativa fantástica que um homem comum criou para combater o crime em uma cidade violenta e tornou a história de Bruce Wayne ainda mais sombria. O personagem deixou de ser a figura impossível dos quadrinhos e se tornou um homem real, motivado pela vingança e orientado pela fibra moral que herdou de seu pai e cultivou com a criação do mordomo Alfred. Wayne, o milionário, se tornou um justiceiro verossímil. “O Cavaleiro das Trevas” retoma o espírito de “Batman Begins”, também é um filme pautado pela realidade e, mesmo com um vilão esquizofrênico, no limite da insanidade exagerada, é construído com perfeição.

Determinado a manter a paz em Gotham, o que significa não se render também às armas e à crueldade com seus inimigos, Batman assume bravamente o papel de vigilante da cidade. Com a ajuda do policial Jim Gordon, interpretado por Gary Oldman, o Cavaleiro das Trevas coloca atrás das grades os principais vilões de Gotham, mas também precisa enfrentar homens comuns que, como ele, mas sem muito preparo, se aventuram a combater o crime.

O outro extremo da personalidade de Batman é o Coringa. O homem perturbado, sem nome e sem controle faz sua parte para deixar os gângsters da cidade aterrorizados. O problema é que, ao fazer isso, espalha o pavor pelos cidadãos de Gotham. Interpretado por Heath Ledger, o palhaço tem sua parcela justa de comédia, mas é amedrontador.

A atuação de Ledger merece um parágrafo à parte. É graças a seu talento impecável que o Coringa ganha vida. A construção do personagem é, sem exageros, perfeita. Coringa, um palhaço terrorista, parece realmente saltar da tela e se torna uma figura possível em um mundo midiático e tomado pela loucura. Não é incorreto dizer que a atuação de Ledger é a alma de “O Cavaleiro das Trevas”, mas é, sem dúvida, injusto.

Além de um Coringa fantástico, o novo Batman possui uma história interessante e coadjuvantes carismáticos. Harvey Dent, o promotor que mais tarde se transforma no vilão duas caras, chega a ser mais importante do que o super-herói. Determinado a livrar Gotham do crime, Dent se torna um exemplo de caráter e ação para Wayne e guia as atitudes de Batman, mais preocupado em colaborar para, um dia, dar espaço para um novo heróis, mais digno.

A transformação de Dent no vilão Duas-Caras não acontece de uma hora para a outra. Podemos ver o personagem tomando forma ao longo da projeção e, quando o rosto desfigurado ilustra o estado mental do promotor, a imagem perfeitamente construída se torna um detalhe em meio a fatores mais relevantes.

A palavra que define bem “O Cavaleiro das Trevas” é “realista”. O longa-metragem perde um pouco do espírito de fantasia dos quadrinhos, mas não perde a qualidade. Falta um pouco mais de super-herói, algo que a direção brilhante de Christopher Nolan poderia favorecer. Se existe um defeito no longa é esse, ser tão perfeitamente justificável que perde a qualidade de quadrinho. Ainda assim, impossível não vibrar com cada segundo de filmagem.

Lais Cattassini
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