Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 14 de junho de 2008

Incrível Hulk, O

Se olharmos por um ângulo específico, a franquia “Hulk” sofre de um problema conjugal. A ação e a história nunca se relacionam da devida maneira. Portanto, nesse novo longa agrava-se o problema de tentar trazer algo tão gigantesco às telas. “Hulk” está longe de ser perfeito e “O Incrível Hulk” reafirma e agrava essa condição. A ousadia do primeiro, o prejudicou. A falta de ousadia do segundo, o prejudicou também.

Em tempos que o primeiro filme preocupava-se em desmistificar o herói de personalidade aparentemente rasa, pondo assim a ação para outro plano, o segundo filme aproveita-se dessa introdução para dedicar-se única e exclusivamente ao lado superficial do personagem; praticamente jogando fora tudo aquilo que Ang Lee, em um momento de extrema coragem e ousadia, construiu ao longo do primogênito da série. O resultado é um blockbuster inexpressivo que justifica-se unicamente devido à seu ato reparatório, ainda que um tanto dispensável.

Propositalmente ou não, esse novo filme apresenta um universo completamente diferente. Houve troca de diretor (devido às severas críticas), do elenco principal e do foco da franquia. Infelizmente é impossível não comparar constantemente os dois filmes, pois podemos considerar essa seqüência como, literalmente, uma conseqüência do seu antecessor. Os fãs não ficaram felizes. O dinheiro não deu. Os críticos não relevaram e a Marvel prometeu redimir-se. E realmente, tudo aquilo que se reclamou foi atendido. O novo filme tem mais ação, mais aventura, grandes e aperfeiçoados efeitos e tudo numa proporção muito maior. Agora, para aqueles que tanto condenaram: O problema realmente foi solucionado?

Por mais que gere rios de dinheiro, o velho lema de Hollywood, “Muito riso e pouco siso”, nunca adiantou. O resultado não passa de medíocre. “Transformers” é um grande exemplo disso. E por pouco, “O Incrível Hulk” não se iguala à tamanha megalomania inconsistente. O roteiro tenta se equilibrar em meio a tanta responsabilidade, mas não tem força suficiente, até porque ele tenta se agregar à sentimentalismos bobos e situações já apresentadas anteriormente.

A nova parte da história mostra a reclusão de Bruce Banner (Edward Norton), que pretende exterminar a “bela” maldição de transformar-se no gigantesco monstro verde-esmeralda quando ocorre uma brusca alteração em seu estado emocional. Mesmo ele estando escondido logo na favela da Rocinha no saudoso Rio de Janeiro, o incansável General Ross (William Hurt) ainda está à sua procura, para descobrir a origem de sua mutação e assim utilizá-la para fins de combate. Nesse mesmo paralelo, está Betty Ross (Liv Tyler), que ainda é apaixonada por Bruce e deseja reencontrá-lo. Está incluso na história também Emil Blonsky (Tim Roth), um ambicioso combatente do exército que quer descobrir e copiar todo o poder de Hulk.

O elenco do filme é uma característica positiva. Mesmo que Edward Norton seja tão inexpressivo quanto Eric Bana, e Liv Tyler tão bela quanto Jennifer Conelly, e considerando que mudanças dessa ordem sempre interferem, o resultado mostra-se tão bom quanto o anterior. Existe uma química legal entre os dois e muitas vezes são o foco dramático, diga-se de passagem salvador, da história. Tim Roth e William Hurt fecham o ciclo principal e também estão bem em seus respectivos papéis.

Como já foi citado, o roteiro é irregular e usa o casal do filme como foco dramático. Essa é praticamente uma das poucas características que prevaleceu do primeiro longa: A relação de Bruce e Betty. Inclusive, as melhores piadinhas vêm através da interação entre os dois. Zack Penn, que fez um trabalho relevante em “X-men: O Confronto Final”, agora não se mostra tão ousado como antes. Ele limita o roteiro. Na realidade, o roteiro não é de uma qualidade ruim, porém o conteúdo é fraco, se comparado ao antecessor, se tornando assim, menos ousado e muito mais pipoca.

Loius Leterrier apesar de ser eficaz em diversas seqüências do filme, em especial as de ação, não tem total domínio sobre o que está fazendo. Foi realmente um salto muito grande para quem só tinha feito filmes meia-boca como “Carga Explosiva” e o melhorzinho “Cão de Briga”. Infelizmente, ele não é nenhum Bryan Singer, Sam Raimi, ou até mesmo nenhum Peter Jackson (o que demonstra querer ser). Aliás, chega a ser inconveniente a seqüência em que Hulk leva Betty para a cachoeira. Leterrier poderia ao menos fingir que não estava copiando a cena de “King Kong”? Desde a situação na história até os ângulos de câmera. Tudo parece uma cópia de cenas do filme de Peter Jackson. Ainda mais, Loius não se preocupa muito em agradar aos olhos.

Sendo que o coitado não deu muita sorte de trabalhar com uma equipe um pouco mais competente. Pode-se observar na estética dos cenários e efeitos especiais, onde nenhum deles são belos o quanto deveriam. A fotografia é apática e o Hulk não é o que deveria ser. Se considerarmos o quanto se evoluiu em termos de efeitos especiais hoje em dia, o monstro verde era para literalmente sair da tela e ser o mais verossímil possível. Na verdade, é pouco evoluído em relação ao gigante do primeiro filme, capturado através dos movimentos de Ang lee. Felizmente o filme conta com uma edição relevante, que nem deixa ser o que a Marvel queria e não deixa ser o que Edward Norton (também co-roteirista) queria; respectivamente ação e história.

Após dois produtos da franquia, podemos chegar a seguinte conclusão: Cabia a um diretor mais competente assumir o comando do longa. Peter Jackson, por exemplo. Esse sim alcançou em somente um filme o equilíbrio que a franquia “Hulk” nunca encontrou. E se insistir nos mesmos valores, nunca encontrará.

Amenar Neto
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