Os órfãos de “Sex and the City” agora podem comemorar: um filme fabuloso chegou às telonas trazendo as quatro amigas que marcaram a história de muitos espectadores e dos seriados televisivos. Quem ainda não conhece as protagonistas, certamente terá uma oportunidade deliciosa de se apaixonar por Carrie, Samantha, Miranda e Charlotte.
Foram seis temporadas, quatro amigas, muito sexo, vários casos e um desfecho. Em 2004, acabava o seriado que tinha se tornado a inspiração de vida de muita gente. Quer queira, quer não, “Sex and the City” é sucesso de público e crítica. A receita para isso veio devido a mistura de muito humor, situações clichês e soluções de tirar o fôlego. A priori um seriado feminista, “Sex and the City” tinha a função maior não somente de fazer um discurso feminino dentro da sociedade, mas de trabalhar a guerra dos sexos de uma forma mais original. Os debates das protagonistas em pequenos bares da Big Apple ou as burrices que as faziam perder os grandes amores de suas vidas se misturavam a consciência de que a vida de uma mulher beirando os quarenta anos continua tão complicada como se fosse adolescente.
Amores desperdiçados, vidas opostas, impossibilidade de amar e tantos outros temas movimentaram os episódios de “Sex and the City”. As personagens, cada vez mais afiadas, tinham seus próprios arcos narrativos, o que, quando misturava as quatro, fazia um efeito devastador em quem se entregava a cada drama. Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker) é a jornalista que ascendeu após o sucesso de sua coluna sobre Sexo e a Cidade em um periódico popular. Em constante laboratório para seus textos, a escritora viveu como cão e gato com Mr. Big (Chris Noth), seu grande amor que, assim como em toda história, só terminam juntos no final. Ao lado de Carrie, a relações públicas Samantha Jones (Kim Cattrall) fugia de relacionamentos e se apaixonava apenas por sexo. Meio a coquetéis e muitos homens, até relações lésbicas ela encabeçou. Porém, sua vida mudou quando se descobriu com câncer, logo na época em que mantinha um relacionamento “parcial” com Smith Jerrod (Jason Lewis), modelo em ascensão que dá apoio e mostra que é possível amar alguém.
Ainda na história temos Miranda Hobbes (Cynthia Nixon), a típica trabalhadora e o “homem” do grupo. Centrada em sua carreira profissional, Miranda só se sente mais viva quando trabalha, nunca sabendo o que fazer em seus tempos livres. Em sua história, sexo casual e um grande amor: Steve (David Eigenberg). Ao engravidar dele, ela descobre que na sua vida existe espaço para um grande amor. Também temos Charlotte York (Kristin Davis), que sonha em seguir o tradicionalismo do casamento e ter um final feliz com um amor de verdade. É quando ela encontra Harry (Evan Handler), um cara totalmente sem atrativos, mas que a deixa completamente apaixonada. O que parecia ser um casal perfeito acaba sendo abalado pela infertilidade de ambos, que optam por adotar uma filha, Lily.
No filme, todos esses personagens que fizeram o seriado voltam. Este é o primeiro feito positivo. O importante deste “Sex and the City – O Filme” não é só trazer de volta os momentos fabulosos vividos pelas protagonistas ou enlouquecer os fãs, mas sim manter uma linha que foi respeitada durante seis temporadas. Por mais que o filme seja assistido por pessoas que não acompanharam os episódios, há o tratamento coerente para que entenda os argumentos do filme. Claro que se você for um conhecedor do seriado, a chance de rir e se emocionar é bem maior, já que tudo ganha um significado especial para o espectador. Não é uma história “para mulher”, mas sim uma trama que pode ser degustada por qualquer um que se interesse em discussões sobre homens, mulheres, amantes, sociedade, sexo, moda, etc. A maquiagem de um seriado feminista esconde muita relevância na personalidade de cada personagem, sendo praticamente impossível não se identificar com alguma delas (ou com um pouco de cada uma).
Michael Patrick King volta como diretor e produtor em um roteiro mais uma vez baseado na obra de Candace Bushnell e é responsável pelo sucesso imediato do filme. Com a duração de 148 minutos, o diretor consegue gerar interesse e envolver os espectadores do começo ao fim, sem nunca temer em estar mostrando bobagem na telona. Aliás, qualquer que seja a bobagem mostrada acaba tendo um toque característico da série que é inexplicável (destaque para a eventualidade sofrida por Charlotte na viagem ao México). King conhece suas personagens como ninguém, talvez até mais do que o próprio quarteto de atrizes. O diretor sabe explorar os momentos cômicos, a sensualidade e a comoção de acordo com a necessidade do roteiro, que possibilita uma variável incrível de sensações. Isso tudo, bem amarrado a um eixo principal: o amor. O amor entre as amigas, o amor com seus maridos e namorados, o amor com a vida em si. Afinal, “Sex and the City” é um seriado que fala de relações, ou seja, de amor, amizade e tudo aquilo que os envolve.
Sarah Jessica Parker traz sua Carrie mais madura. Além da idade e dos anos de namoro firme com Mr. Big, a jornalista ainda tem sim seus problemas de personalidade que tanto irritam, mas ao mesmo tempo se assemelham às escolhas que nós fazemos. Ela é a personagem mais palpável e Parker continua com esse tom, proporcionando momentos incríveis como a parada em plena Big Apple onde uma multidão presencia uma das cenas mais avassaladoras já vistas desde o seriado. Kim Cattrall traz Samantha em sua melhor forma. Prestes a entrar nos 50 anos, a personagem também está mais humana, sem esquecer, claro, do que lhe foi ditado para toda a vida: sexo. Cattrall é fantástica.
Cynthia Nixon como Miranda continua sendo a personagem mais interessante, particularmente falando. Nixon é rápida e dispara sua personalidade aos poucos. Com um poder incrível de comover, Nixon encanta juntamente com David Eigenberg, vivendo a crise de um casal que se ama. A cena de reencontro em uma ponte ao som de “How Can You Mend a Broken Heart” é outra que ficará na memória por muito tempo. Ainda, Kristin Davis retoma sua Charlotte com mais graciosidade e vivendo momentos hilários, mas que comove quando dá uma notícia importante à Carrie, por exemplo. Fechando o elenco principal, a vencedora do Oscar (merecido, diga-se de passagem) Jennifer Hudson vive Louise, assistente de Carrie que, por mais que sua participação seja inferior ao que lhe concedeu prêmios por “Dreamgirls”, é um personagem extremamente importante para o desenrolar do drama vivido por Carrie.
Muito mais do que um episódio grande do seriado, “Sex and the City – O Filme” é uma comédia romântica cuja qualidade é inquestionável. O elenco forma uma trupe praticamente imperdível, a trilha sonora arrasa os corações e a moda… bom, a moda deixa qualquer “O Diabo Veste Prada” em segundo plano. Inúmeras roupas e acessórios são responsáveis por tirar a atenção de qualquer cena. O cuidado com os mínimos detalhes da produção constroem um filme bem acabado e que deixa o gosto de quero mais. Altamente recomendável pela sua graciosidade, carisma e saudosismo. Get carried away!