Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 02 de maio de 2008

Homem de Ferro (2008): um dos melhores filmes baseados em quadrinhos

Uma das melhores adaptações de quadrinhos para o cinema de todos os tempos, "Homem de Ferro" agradará tanto àqueles que não conhecem o personagem, quanto aos fãs da nona arte (quer sejam "Marvetes" ou "DCnautas").

Adaptações de quadrinhos viraram uma verdadeira febre entre os estúdios de cinema. Personagens da Marvel Comics têm chegado às salas de projeção todos os anos por produtoras diferentes – que nem sempre fazem o serviço do modo que os fãs saiam felizes do cinema. As franquias “X-Men” e “Quarteto Fantástico” ficaram com a 20th Century Fox, “Homem-Aranha” e “Motoqueiro Fantasma” com a Sony e por aí vai. Após algumas experiências com tais parcerias, a Marvel decidiu criar uma divisão própria de cinema, a Marvel Studios, com este “Homem de Ferro” sendo o primeiro longa dessa nova jogadora na indústria da sétima arte.

Foi uma aposta arriscada para uma iniciante. O currículo do diretor Jon Favreau não contava com grandes produções de ação. O astro do filme, Robert Downey Jr., é um ator que lutava para reerguer sua carreira após se recobrar do abuso de substâncias entorpecentes. Já o personagem principal, apesar de ser um veterano das HQs, era um desconhecido para o grande público. Tais fatos faziam a empreitada inicial da Marvel Studios um desastre esperando para acontecer. No entanto, tais ingredientes transformaram o longa em uma das melhores surpresas que os fãs de quadrinhos – e de bons filmes – poderiam ter.

A fita conta a história do inventor armamentista Tony Stark (Downey Jr.). Brilhante criador e um playboy bilionário, Stark adora belas mulheres, carros velozes e sua inteligência fora do normal, sempre trabalhando em seu próximo invento – além de sempre ter uma boa bebida ao seu lado. Em uma viagem ao Afeganistão para apresentar ao exército americano sua mais nova invenção – o míssil Jericó -, ele acaba sendo seqüestrado por terroristas de uma organização conhecida como “Os 10 Anéis”.

Mantido vivo graças às habilidades de Yinsen (Shaun Toub), outro cientista preso em cativeiro, Stark é obrigado a construir uma versão do Jericó para seus captores, todos munidos de armas por ele inventadas. No entanto, ele monta um traje que o ajudará a escapar do cativeiro, colocando-o em uma missão de redenção como o invencível Homem de Ferro.

Ao retornar, Stark tem de lidar com seu sócio, o ambíguo Obidiah Stane (Jeff Bridges), um empresário que visa sempre o lucro e que não gostou nada da iniciativa de Stark em levar a empresa para uma atitude mais pacifista. Além disso, o protagonista ainda tem ao seu lado sua fiel secretária Pepper Potts (Gwyneth Paltrow) e seu melhor amigo, o oficial do exército Jim Rhodes (Terrence Howard).

O arco narrativo do protagonista é muito bem explorado. A despeito de ser um homem buscando redenção, após se dar conta do impacto negativo de suas invenções, Stark jamais muda sua personalidade. Mesmo fazendo o bem, ele não deixa de ser um homem egocêntrico, cínico, mulherengo, prepotente e adoravelmente sarcástico.

No entanto, Robert Downey Jr. pega tais características – que geralmente alienariam o público do personagem – e consegue aproximar Tony Stark da audiência, tornando o personagem em uma figura absolutamente crível. A lista de falhas de caráter de Stark, ele próprio reconhece, realmente não o ligam ao arquétipo dos super-heróis certinhos que são habitualmente vistos nos cinemas.

No entanto, tal falibilidade não é a principal diferença do protagonista em relação a seus companheiros de profissão. Ao contrário de Peter Parker, Logan ou Matthew Murdock (só para citar heróis da Marvel), Stark gosta de ser um super-herói. Para ele, a idéia de sair por aí em uma armadura e combater vilões é fantástica e divertida demais para não continuar, principalmente após a adrenalina e a sensação de dever cumprido sentidas após a sua primeira missão.

O elenco de apoio do filme também está excelente. Paltrow tira leite de pedra e consegue transformar sua Pepper em uma figura adorável e tridimensional. Sua relação com Tony, que foge dos padrões convencionais mocinho-mocinha, é muito boa de ver na tela, graças à química entre ela e Downey Jr. O relacionamento entre Tony e Pepper deverá ser explorado com maior afinco nos próximos filmes da série.

Terrence Howard se sai bem como o militar certinho (mas nem tanto) Jim Rhodes. Os fãs irão delirar com uma frase específica do personagem, que já indica a direção futura deste. Já Jeff Bridges exagera na “vilanice” no último ato do filme, mas quando encarna o empresário voraz, Stane ganha toda uma conotação realista que faz bem ao filme.

Paul Bettany faz a voz do mordomo inglês Jarvis, cuja transposição para as telas ficou bem diferente da versão original, mas que delicia a audiência com suas frases altamente sarcásticas. Shaun Toub comove como o ético cientista Yinsen, enquanto o próprio diretor Jon Favreau aparece como o motorista e segurança de Stark, Happy Hogan – cuja importância fora bastante reduzida em sua versão fílmica.

Como diretor, Favreau surpreende. Apesar de ter dirigido filmes divertidos como “Zathura – Uma Aventura Espacial”, ninguém esperava que o cineasta entregasse uma obra de ação tão bem amarrada. Não é a toa que ele afirmou sempre que sua maior influência fora “Batman Begins”, com a verossimilhança dando o tom no filme. Vemos sempre como Stark trabalha em suas invenções e as dificuldades que ele tem com sua armadura, principalmente nas cenas de teste, brilhantemente filmadas à lá “Cloverfield – Monstro”.

Os efeitos especiais do filme são ótimos. As armaduras utilizadas por Stark são um mix do fabuloso trabalho feito por Stan Winston – que construiu as armaduras realmente – e dos magos da computação gráfica da Industrial Light and Magic, que deram os retoques digitais nas peças, com os complexos mecanismos das vestimentas sendo um colírio para os olhos. As cenas de vôo do Homem de Ferro também são simplesmente perfeitas, colocando seqüências similares no chinelo. No entanto, meus efeitos favoritos estão nos computadores da casa de Tony Stark, simples e elegantes.

No entanto, o filme não é tecnicamente perfeito, com sua montagem sendo um tanto arrastada por algumas vezes, mas nada que comprometa o resultado final. A trilha sonora, composta por Ramin Djawadi, se destaca pelo uso de instrumentos mais “rockers”. Além disso, em momentos determinados, podem ser ouvidas bandas como AC/DC e – obviamente – Black Sabbath, esta última com o clássico com “Iron Man”.

“Homem de Ferro” se junta a “Superman – O Filme”, “Batman Begins” e “X-Men 2” como um dos melhores filmes baseados em quadrinhos já feitos. Contando com um elenco afiado, efeitos especiais incríveis e um roteiro amarrado – e representativo -, o longa vale a pena ser visto e revisto. Agora é esperar para revermos Robert Downey Jr. como Tony Stark nas telas – algo que acontecerá mais cedo do que se possa imaginar…

Observação: Nem pense em sair da sala antes do fim dos créditos. Há uma cena surpresa MUITO importante para os fãs e que indica a direção a qual os futuros filmes da Marvel Studios tomarão.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

Compartilhe