Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 30 de abril de 2008

Homem de Ferro (2008): grandes efeitos e um protagonista impecável

A temporada de blockbusters deste ano começa com pé direito com a aguardada adaptação de “Homem de Ferro”. Além de uma história eletrizante, o longa conta com Robert Downey Jr., responsável por boa parte do sucesso do filme, bem como a Marvel Studios, que mostra a seriedade com que se lança no mercado.

Sempre achei que ser herói fosse outro conceito do que se tem atualmente com obras para o cinema. Nunca achei que alguém que explodisse algo ou voasse por aí de vez em quando fosse realmente um herói. Minha infância foi marcada por heróis de verdade, que influenciaram em um mundo que não se restringe aos desenhos animados ou gibis. Mesmo assim, sempre fiquei na terceira fila observando aqueles cujos poderes tanto enlouqueciam os jovens e enlouquecem até hoje. Sem nenhum apego quanto à adaptação de “Homem de Ferro” em si, certamente esta crítica está isenta de qualquer fanatismo ou apuro técnico do que o herói significa para os fãs ou do quão fiel a obra ficou. A intenção é analisar o filme como cinema.

Tony Stark (Robert Downey Jr.) tem a vida mundana que qualquer um desejaria. Dinheiro, mulheres, bebida. Contrapondo o lazer em apostar e se divertir por aí, Stark é um exímio cientista cuja inteligência está praticamente além do possível. Ele constrói armas para os Estados Unidos se defenderem (ou não) dos inimigos. Stark tem um preço valoroso entre os ambiciosos e artilheiros americanos, e é sua cabeça, literalmente, que acaba servindo de isca para o jogo mudar. O mundo “calmo” de construir mísseis poderosos vira tormenta quando Stark é seqüestrado por inimigos que o força a construir uma máquina de morte. Sem querer ceder à pressão, Stark decide usar o material que lhe dão para construir uma armadura que o ajudará a fugir do lugar. E consegue. A partir daí, Stark percebe que sua missão não é construir armas para destruição, mas destruí-las para que inocentes não morram em vão.

Cinco nomes se envolveram no roteiro. Arthur Marcum, Matthew Hollaway, Mark Fergus, Hawk Ostby e Stan Lee. O resultado foi uma história que dá a liberdade de degustar cada momento em cena. Seja investindo no humor negro de Stark ou nas indelicadas batalhas de titãs, o longa agrada pela versatilidade que promove. O diretor Jon Favreau deixa claro o fanatismo pessoal pelo herói e conduz uma trama simplesmente envolvente. Favreau não deixa o ritmo cair nunca, sempre oferecendo novas possibilidades de interesse para o público, seja fã ou não. As seqüências que o diretor cria, aliadas a uma trilha sonora impecável e um elenco eficiente, deixa o filme imperdível. As referências existem e são deliciáveis por quem torce por futuras continuações para a película. Até aqueles que estão tendo o primeiro contato com o super-herói certamente irão torcer pelas próximas aventuras.

Como não são só com efeitos visuais que se fazem um bom filme, talvez melhor do que os excelentes efeitos do longa é somente a atuação de Robert Downey Jr. Ele é impecável do começo ao fim, seja soltando suas piadas verborrágicas ou mostrando momentos mais dramáticos. Por já ter passado por altos e baixos em sua carreira, assim como seu personagem, não havia melhor escolha do que Downey Jr. para o papel. Ele consegue variar muito rápido do carisma à ira, mexendo com o fervor do público que se entregar ao lema que o herói defende. Downey Jr. é impagável. Por mais que tenha em sua carreira bons filmes, como “A Pele” e “O Homem Duplo”, a cada trabalho ele proporciona algo novo. Viver Stark parece até ter sido uma brincadeira consigo próprio, mas a preparação que o ator deve ter passado para chegar a uma atuação praticamente perfeita valeu a pena.

Ao lado de Downey Jr., Gwyneth Paltrow encara com doçura a secretária Pepper Potts e cria o clima de romance que todo filme de herói precisa. Paltrow passa por momentos óbvios em que é ameaçada e defendida pelo herói do filme, como de costume. A relação e afinidade que tem com Downey Jr. tornam os momentos entre os dois bastante interessantes. Um deles é quando Stark pede uma mãozinha da assistente em uma “operação seca”. A cena é divertida e beira o improviso, o que ajuda bastante na simpatia por eles. O restante do elenco não se destaca tanto, nem mesmo o experiente Jeff Bridges, que veste a atuação clássica do vilão canastrão, ou Terrence Howard, que continua inexpressivo em mais um trabalho cinematográfico.

Favreau certamente receberá os elogios merecidos pela obra e entrará para o time de elite de adaptações ou obras grandiosas. Por mais que “Homem de Ferro” seja feito somente para diversão, sendo um grande blockbuster, o diretor não abandona a técnica e é detalhista em tudo que constrói, seja o que está ao primeiro plano ou não. Favreau tem o conhecimento pleno do roteiro e da história do herói para dar o acabamento necessário ao filme. Como nem tudo é perfeito, o trabalho do diretor é atrapalhado ao receber uma edição que nem sempre se preocupa com a continuidade, mas não chega a prejudicar o desempenho da trama.

“Homem de Ferro” é uma chuva de efeitos especiais com um protagonista extremamente impecável. Mais do que um bom exemplar de filme de super-herói, o longa dá início a uma provável franquia que fará bonito nas telonas, principalmente quando a Marvel começar a articular os filmes-solo com filmes em conjunto de seus personagens. “Homem de Ferro” abre uma era que promete não só fidelidade para os fãs, mas boas histórias nas telonas para o público em geral.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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