Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 12 de abril de 2008

Um Plano Brilhante

Com história repetida e uma direção caindo pelas beiradas, “Um Plano Brilhante” torna-se uma decepcionante história sobre um roubo perfeito. Nem Michael Caine consegue salvar a película de se afogar em sua falta de criatividade.

Laura Quinn (interpretada por Demi Moore, de “Proposta Indecente”) é uma mulher que, em plena década de sessenta, ocupa um importante cargo em uma grande empresa londrina. Apesar do sucesso profissional, que faz com que sempre deixe a vida pessoal de lado, ela está insatisfeita: homens que são menos competentes que ela estão sendo promovidos enquanto Quinn permanece no mesmo lugar, como gerente da corporação. Seu talento não é reconhecido por ser mulher em um mundo extremamente machista, onde as mulheres precisavam provar duas vezes sua competência, para quem sabe concorrer com um homem.

Na outra mão do problema está o Sr. Hobbs (Michael Caine, de "Batman Begins"), que sempre assistiu ao sucesso alheio por trás de uma vitrine. Ele trabalha como zelador do prédio e sabe que não existe possibilidade de conseguir subir na vida a menos que realize um plano que alimentou durante anos a sua cobiça: roubar os diamantes do local. Porém, para isso, (todos de boca aberta) ele precisa da ajuda de alguém de dentro. Alguém suficientemente insatisfeito para arriscar o emprego no caso de qualquer coisa dar errada no plano de roubo. É aí que entra a frustrada personagem de Moore formará uma parceria inusitada com o ambicioso Hobbs.

De plano de fundo de toda essa história, estão os conflitos da década de sessenta, a luta das mulheres pelos direitos iguais, a polêmica acusação sofrida pela Inglaterra (de que usava escravos na indústria do diamante) e as grandes corporações em seu início de uma era de ouro. O problema é que falta criatividade à direção de Michael Radford. Ele, que assinou trabalhos como o clássico "O Carteiro e o Poeta" e o recente "O Mercador de Veneza", não conseguiu fazer com que sua história se sobressaísse a ponto de sair da mesmice.

Em um momento onde filmes de roubos espetaculares têm sido lançados praticamente todos os anos, você precisa ter uma carta na manga para fazê-lo render. É preciso ter um plus a mais, do contrário o longa-metragem corre o sério risco de ser mais um na multidão, e pior: ser um daqueles que você esquece cinco minutos depois de deixar a sala, sem sequer provocar comentários sobre o bem bolado plano. Ao invés de procurar seu viés necessário, Radford vai na mão contrária e, não só constrói uma trama sem brilho, como ainda por cima a torna mais óbvia.

A falta de leitura adequada do roteiro (ou falta de visão mesmo) faz com que ele seja duas vezes mais clichê do que deveria. Não bastasse ter uma trama não muito original, ele ainda cai na besteira de transformar em imagem as falas do filme – passo extremamente desnecessário que transforma a película em algo didático e sem noção. É como se chamasse o espectador de burro e achasse que ele não entenderia sua "complicadíssima" (insira um tom de ironia) história a menos que mostrasse por a+b exatamente o que se passa. É chato. É entediante.

Grande parte do fracasso, claro, cabe ao roteirista iniciante Edward Anderson, a quem também faltou iniciativa e coragem em propor algo novo. Apesar de ser quase interessante, seu escrito não aprofunda um dos temas mais interessantes da película, que acaba transformado segundo plano: toda a problematização política da época. Ele se deixa levar pelo simples e mero clichê e justifica sem sentido o roubo, querendo moralizar a situação de seus personagens, que não tem nem mesmo profundidade para se segurarem em suas funções. Todos estão bem colocados, bem guarnecidos, bem guardados. Quer coisa pior do que assistir a um filme em que você já sabe exatamente no que vai dar? Sem ser surpreendido em nenhum momento, nem mesmo em pequenos detalhes?

Tirando tudo isso, a sábia interpretação de Caine está, como de costume, impecável. É incrível a segurança que um ator de seu porte traz a qualquer produção que seja. Não fosse ele, o filme simplesmente não se seguraria. Em um filme onde a maior discussão está não só em quem tem mais dinheiro, mas em quem merece ter o dinheiro, é fundamental ter uma pilastra que sustente uma construção tão pobre – desculpe o trocadilho. Fato é que Radford deveria voltar a seus gêneros já conhecidos e estudados, pois no ramo do suspense, ele é um ótimo comediante.

Beatriz Diogo
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