Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 25 de março de 2008

Um Amor de Tesouro

Misturando comédia romântica com aventura, “Um Amor de Tesouro” repete fórmulas e traz um filme longo que não faz a dosagem certa dos gêneros propostos, sempre trabalhando por conveniência. Apesar dos leves toques de humor, o filme não deixa de ser dispensável.

Finn (Mathew McConaughey) é um aventureiro que gosta de praia e emoção. Prestes a se separar de Tess (Kate Hudson), o garotão descobre que pode ter achado um tesouro perdido no mar desde 1715. Passando por um rapper ambicioso e inimigos também interessados no tesouro, Finn ainda precisa convencer Tess a não assinar o divórcio e acompanhá-lo nas descobertas marítimas. A loira acaba cedendo ao pedido e recebe a ajuda do milionário Nigel Honeycutt (Donald Sutherland) e de sua filha tapada Gemma (Alexis Dziena). Sob um refinado iate, o grupo vai fuçar a história antiga, procurar tesouros e tentar criar laços afetivos entre si.

Após protagonizarem juntos o mediano “Como Perder um Homem em 10 Dias”, McCounaghey e Hudson estão de volta como o casal em crise que pretende se resolver enquanto a aventura acontece. Ao contrário do primeiro filme juntos, os atores esbanjam falta de química em suas cenas compartilhadas. Não que sejam atores ruins, mas algo não permite que acreditemos que entre eles há uma tensão matrimonial, já que só é citada a fome deles por sexo. É tanto que, quando estão sozinhos em cena, eles acabam tendo uma interpretação bem mais satisfatória.

O fato é que o roteiro também não ajuda em uma maior harmonia entre o elenco. Ao passo que se preocupa em criar todo um histórico para justificar a causa da aventura, deixa de lado o desenvolvimento dos personagens. Os roteiristas Daniel Zelman e John Claflin se contentam em criar protótipos de índoles que se choquem junto a descoberta do tesouro, mas não agrada. O Finn de McConaughey quase nunca convence ser um estudioso de História, visto seu visual sempre com o corpo saudável a mostra e o cabelo assanhado. Ainda: o apelo que o personagem tem de estar constantemente apanhando de alguém é constrangedor.

Hudson se perde em comédias que não valorizam seu talento. Depois do fracasso de "Dois é Bom, Três é Demais", a atriz nada mais faz do que ser o objeto de conquista de Finn, valendo fazer doce, não resistir às tentações e correr perigo. Aliás, Finn é praticamente um super-herói. Aparece em todos os lugares quando menos se espera, está sempre correndo e esbanjando a vibe surfista descolado, clichê para seu porte. Ainda se perdem em atuações medíocres Donald Sutherland e Alexis Dziena, que interpretam pai e filha. Sutherland não passa de uma única expressão o filme todo, enquanto Dziena é expansiva em excesso e cria uma jovem tapada difícil de engolir, mesmo arrancando algumas risadinhas com suas conclusões dos fatos.

Não posso deixar de falar também da gangue do rapper Bigg Bunny, interpretado por Kevin Hart. Não ficou clara a relevância da profissão do personagem com o fato de ser dono dos mares a serem explorados pelos protagonistas. Ainda fica difícil de entender o porquê ele é tão poderoso, tem capangas babacas e protagoniza cenas ridículas de charlatanismo. Para fechar o elenco, Ray Winstone faz praticamente a ponta da ponta, sem importância mínima em cena.

Claro que o roteiro não funcionou mal sozinho. Andy Tennant (“Hitch – Conselheiro Amoroso”) assume a direção com a dúvida se estava trabalhando em uma comédia, em um romance ou em uma aventura. No fim das contas, faz uma misturada que não agrada. A relação de Finn e Tess fica superficial, além de tentar dar relevância aos conflitos entre Nigel e Gemma. Tennant se alonga nas cenas de ação, enfadando o espectador. Como se não bastasse a falta de criatividade para recriar o fim do mar, brinca com a inteligência do espectador quando usa dublês ou força o desfecho da trama, que já é aguardado por todos.

Vale a pena ressaltar que “Um Amor de Tesouro” acaba sendo apenas uma desculpa esfarrapada para seguir a onda de “A Lenda do Tesouro Perdido”, protagonizado por Nicolas Cage, com direito a explanações pseudo-interessantes e escavações “perigosas” para dar o clima cool da película. Entretanto, não consegue ao menos ser metade do que a franquia protagonizada por Cage é. Não que esta seja excelente, mas por ser bem superior e pelo menos se resolver como narrativa aventureira com pitadas de humor e romance aqui e acolá.

A má realização do longa também reflete na trilha sonora, que apela para o comum. Os efeitos visuais chegam a ser deprimentes, destacando a cena em que um avião desgovernado precisa pousar na água. Além do fundo verde evidente, os erros de continuidade explodem na tela e agridem os olhos mais exigentes. Talvez se não fosse pela tentativa do elenco em fazer algo ao menos divertido, o filme teria ido além do fracasso que é. Pode até divertir em alguns momentos, mas a mediocridade com que foi feito vence qualquer detalhe interessante.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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