Longa animado lançado direto em DVD, "Liga da Justiça - A Nova Fronteira" é bastante fiel aos quadrinhos da DC Comics e ao espírito dos imortais personagens mostrados no filme, sendo uma ótima diversão, quer você seja você fã da nona arte ou não.
É difícil não reparar quão empacada está a versão cinematográfica de "Liga da Justiça". A ser dirigido por George Miller, o filme está preso em um vai-não-vai interminável, parecendo que nem os maiores heróis do Universo DC seriam capaz de salvá-lo. No entanto, enquanto os fãs esperam que seus personagens favoritos se reúnam pela primeira vez no cinema, eles podem se deleitar com este maravilhoso "Liga da Justiça – A Nova Fronteira", longa-metragem animado lançado direto em DVD que coloca os famosos personagens em um contexto político que não poderia ser mais atual, mesmo com a produção se passando nos anos 1950.
Baseado na Graphic Novel escrita e desenhada por Darwyn Cooke, o filme nos apresenta a uma estranha e poderosa ameaça conhecida como "O Centro", um ser originado aqui na Terra, nos primórdios do nosso planeta, que vê a raça humana e seu potencial bélico como uma ameaça à existência de todos os seres vivos. Dando um salto no tempo, conhecemos nosso protagonista, Hal Jordan, um piloto da Força Aérea Americana no final da Guerra da Coréia, que se vê traumatizado por tirar uma vida quando em combate. Tal trauma o coloca em um hospital psiquiátrico por um bom tempo, praticamente acabando com seus sonhos de ir ao espaço.
Enquanto isso, somos apresentados aos heróis em conflito dos EUA marcado pela paranóia comunista. Obrigados a prestar um juramento de lealdade à América, apenas Superman e Mulher-Maravilha conseguem atuar como heróis em seu país, com os demais aventureiros mascarados relegados a vigilantes fora-da-lei. O Homem-de-Aço e a Princesa Amazona discutem várias vezes sobre seus pontos de vista diferentes sobre justiça. Vemos ainda a chegada acidental do marciano J'onn J'onzz à Terra e suas tentativas de viver uma vida pacífica entre nós.
Conhecemos ainda o superveloz Barry Allen, também chamado de Flash, um herói idealista que sofre de um pequeno senso de inferioridade. Não poderia deixar de aparecer o bom e velho Cavaleiro das Trevas, o sagaz Batman, que se vê em uma pequena encruzilhada sobre seu modo de agir. Enquanto o filme mostra e desenvolve esses personagens, cujos caminhos irão se cruzar durante a fita, a influência do Centro se torna cada vez mais presente, se manifestando de diversas maneiras.
A grande virtude de "A Nova Fronteira" é a sua paixão na exploração dos personagens menos conhecidos do Universo DC. A despeito dos grandes ícones da editora – Superman, Batman e Mulher-Maravilha – marcarem e muito bem sua presença no decorrer da fita, os grandes astros da produção são J'onn J'onzz, Barry Allen e Hal Jordan. Este último é o protagonista inquestionável do filme, já que acompanhamos sua origem e sua conseqüente transformação em Lanterna Verde. Além dos heróis, personagens secundários carismáticos como Íris Allen, a empreendedora Carol Ferris e a repórter Lois Lane aparecem com destaque, sem falar no misterioso King Faradey, que rouba todas as cenas em que aparece.
Além disso, mesmo apresentando o tal "Centro" como a grande ameaça da película, vemos que a divisão entre os heróis e a própria caça-às-bruxas empreendida pelo senador McCarthy são realmente os inimigos a serem batidos. Isto é algo que fica bastante claro em uma seqüência especialmente marcante protagonizada pelo Flash onde este desabafa seus sentimentos sobre seus governantes em rede nacional, fulminando o público com um sensacional "boa noite e boa sorte". Como em todos os longas de equipe, sempre têm aqueles fãs que reclamarão da falta de espaço para seu herói favorito, algo inevitável em uma produção com cerca de 80 minutos de duração. Porém, isto passará batido pela maioria dos espectadores em virtude das diversas qualidades narrativas da fita, que fecha todos os pontos propostos por sua trama e jamais perde seu ritmo.
Se em matéria de roteiro e desenvolvimento de personagens o filme beira à perfeição, tecnicamente a produção pode não ser nenhum "Ratatouille", mas honra as tradições das boas e velhas animações tradicionais, não comprometendo neste aspecto. As dublagens, tanto a original quanto a brasileira – com a maioria das vozes oriundas do desenho da TV , são muito boas.
Na versão americana, David Boreanaz (da série de TV "Angel") defende seu Hal Jordan com sucesso, colocando toda a entonação destemida que o personagem pede. Neil Patrick Harris ("How I Met Your Mother") nos mostra um Flash perfeito, exprimindo com sucesso a insegurança do velocista escarlate quanto a sua vocação. Miguel Ferrer ("Mulan") se sai muito bem com o seu trágico J'onn J'onzz. Kyle MacLachlan ("Sex and the City") dá uma entonação "anos 50" perfeita ao Superman. Lucy Lawless não faz nada diferente de sua clássica Xena como a Mulher-Maravilha (o que cai como uma luva à personagem), enquanto Jeremy Sisto ("Aos Treze") acerta na voz cavernosa do Batman. Em participações menores ainda temos Brooke Shields ("A Lagoa Azul") dublando Carol e Kyra Sedgwick (da série de TV "The Closer") como a voz de Lois.
"Liga da Justiça – A Nova Fronteira" é uma dos melhores filmes a adaptar quadrinhos para o cinema que já tive o prazer de ver, sendo divertido sem jamais esquecer de ter conteúdo. É estranho que a divisão de animações para DVD da Warner tenha aprontado uma obra tão fiel aos quadrinhos e ao espírito da Liga da justiça, enquanto o estúdio de cinema ainda tenta se acertar para começar a produção em live-action. Talvez se o diretor Dave Bullock e o restante da equipe técnica de "A Nova Fronteira" pudessem conversar com George Miller, as coisas por lá poderiam até começar a andar…