Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Jogos do Poder

“Jogos do Poder” apresenta de forma envolvente a história de um congressista, uma socialite e um espião da CIA que acabam com a Guerra Fria praticamente sozinhos. Pouco aclamado pela crítica americana, o filme compensa por apresentar uma história verídica e pelo elenco maravilhoso.

Em 1979, a União Soviética invadiu o Afeganistão. Isso gerou uma grande resistência por parte da população do país, principalmente pelos mujahideen ('guerreiros sagrados' que habitavam as montanhas afegãs). Nessa época, os Estados Unidos contavam com um fundo de US$ 5 milhões anuais para operações secretas contra os soviéticos. Como essa quantia não era suficiente para quase nada, os afegãos estavam sendo massacrados. Eles precisavam de mais dinheiro e armamento para ter alguma chance de sobrevivência.

É aí que aparece Charlie Wilson (Tom Hanks), um congressista do Texas, democrata liberal. Incentivado, ou devo dizer praticamente obrigado, por sua amiga e às vezes amante Joanne Herring (Julia Roberts), ele e sua assistente, Bonnie Bach (Amy Adams), vão ao Afeganistão conversar com o presidente Mohammed Zia ul-Haq (Om Puri) e ver o campo dos refugiados com seus próprios olhos. Comovido com o que viu, Charlie aproveita sua participação no Subcomitê do Orçamento para Defesa e decide ajudar o país a conseguir o que eles precisam para combaterem os invasores.

Durante sua "luta", ele conhece Gust Avrakotos (Philip Seymour Hoffman), um agente da Agência Central de Inteligência Americana, a CIA, que também está tentando auxiliar os afegãos. Juntos, durante os nove anos de ocupação no Afeganistão, eles conseguem aumentar a verba direcionada dos Estados Unidos ao Afeganistão de US$ 5 milhões para US$ 1 bilhão e formar uma aliança sem precedentes entre países do Oriente Médio. Culminando com a retirada do Exército Vermelho, a guerra terminou em 1989.

Apresentando uma história real, porém conhecida por poucos já que o mérito pelo fim da guerra fria ficou para o presidente americano Ronald Reagan, o filme consegue falar de política e até sobre religião em alguns momentos sem ser chato. Pelo contrário. O diretor Mike Nichols (“Closer – Perto Demais”) e o roteirista Aaron Sorkin (“Studio 60 on the Sunset Strip”) fizeram questão de usar um toque de humor durante o filme.

Porém, é fato que o filme só pode ser levado a sério graças ao seu elenco muito bem escolhido. Entre as personagens principais, temos três ganhadores do Oscar. Interpretando o protagonista, Tom Hanks acrescenta um 'algo a mais' ao papel de uma maneira que só ele sabe fazer. A socialite Joanne Herring é vivida pela maravilhosa e sempre muito convincente Julia Roberts. Philip Seymour Hoffman vive o espião da CIA Gust Avrakotos. Não é novidade Hoffman receber elogios por suas interpretações impressionantes. Sua competência no papel ficou evidente ao ser indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante esse ano, mesmo tendo perdido o prêmio.

O elenco ainda é composto por outros nomes de destaque como Amy Adams interpretando a assistente Bonnie Bach, o veterano Ned Beatty no papel de Doc Long, chefe do Congresso do Subcomitê do Orçamento para Defesa e o famoso ator indiano Om Puri como Presidente Zia, além de participações de Emily Blunt e John Slattery.

O figurinista vencedor do Oscar Albert Wolsky (“Grease – Nos tempos da Brilhantina”) ficou com a difícil tarefa de vestir o elenco. Além de ter que em um certo momento vestir 900 figurantes, recriar roupas de um período tão recente acaba sendo mais desafiador do que se fosse um filme que retratasse momentos mais antigos, pois as pessoas ainda lembram bem como eram as roupas da época e a moda dos anos 80 está de volta.

O filme apresenta Charlie Wilson como um herói, mesmo isso sendo criticado por algumas pessoas já que ele era um bon vivant, sempre visto com um copo de uísque na mão e que cheirava cocaína eventualmente. O irônico da história é que os mujahideen acabaram se tornando o grupo radical conhecido como Taliban que usou as armas conseguidas tantas contra os Estados Unidos. No geral, “Jogos do Poder” é um filme interessante, bem feito, com um excelente elenco, mas que não chega a merecer presença em uma lista de filmes que devem ser vistos.

Cristiane Fernandes
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