Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 17 de fevereiro de 2008

Vestida para Casar

As comédias românticas sempre tendem a seguir os clichês. Com “Vestida Para Casar” não é diferente, ficando muito claro desde o início como o filme vai se desenrolar. Entretanto, o que faz da produção ser mediana é o carisma do elenco e as jogadas bobas, simpáticas e apaixonadas do roteiro.

A grande campanha de marketing de “Vestida Para Casar” é o referencial da roteirista, a mesma que assinou o sucesso de bilheteria "O Diabo Veste Prada". Apesar disso não ser garantia nenhuma de que o filme é realmente bom, o longa traz no elenco nomes em ascensão como Katherine Heigl e James Marsden. O casal bonitinho conquista a atenção do público logo no trailer, embalados por canções como “Fidelity”, de Regina Spektor, e “Makes Me Wonder”, do Maroon 5, que particularmente eu adoro e esperei tocar durante a projeção, o que não acontece.

O filme segue a vida de Jane (Heigl), uma moça dedicada ao trabalho e às amigas. Jane tem nada menos que vinte e sete vestidos, justificando o título em inglês “27 Dresses”, que foram usados em casamentos. Em todas as cerimônias, Jane é convidada para ser dama de honra, mas sempre sonha que algum dia ela que terá suas madrinhas a disposição enquanto diz o “sim” ao padre. Apaixonada platonicamente pelo seu chefe George (Edward Burns), Jane vê seu mundo cair quando sua irmã mais nova, Tess (Malin Akerman), se apaixona por George e pretende se casar. Agora tendo que organizar toda a festa e mais uma vez ser dama de honra, a protagonista fica entre o amor que sente pelo patrão e as constantes investidas de Kevin (Marsden), um jornalista que escreve sobre casamentos.

O roteiro é simples e objetivo. Existem as reviravoltas, momentos de mico e momentos piegas de declaração de amor. Mas o amor realmente é piegas. A roteirista Aline Brosh McKeena constrói seus personagens como pessoas carentes e que necessitam de alguém por perto. Ao se abster dos exageros amorosos, faz com que as cenas sejam muito mais naturais e que se aproximem da realidade de quem assiste. O problema da história é que ela não tem impulso para se sustentar em tanto tempo de projeção. Nuitos momentos que seriam cruciais para causar uma reação do público, seja de comédia ou de drama, acabam sendo prejudicados pela pouca eficiência do roteiro em ser completo. McKeena, aliás, realizou um trabalho muito melhor em “O Diabo Veste Prada”, ainda que este também seja uma sucessão de clichês, mas fez com que o toque contemporâneo do longa e seus aspectos técnicos como a trilha sonora e o figurino valessem mais a pena do que a história em si.

A diretora Anne Fletcher, que dirigiu o fraquinho “Ela Dança, Eu Danço”, assume o cargo em “Vestida Para Casar” de forma ineficiente. Ela não tem cuidado com os detalhes e se apóia no trabalho de pós-produção para que a narrativa do filme fique adequada com o que foi escrita por McKeena. Fletcher abusa dos erros de continuidade e de uma câmera fraca que não cria o clima de romance que seria primordial. Ela faz o básico, mas desse básico não é criado uma identidade que pudesse ressaltar a trama.

Ainda me impressionou muito que, após trabalhar em um musical e pegar um filme romântico, a diretora tenha pensado tão pouco em conduzir o filme com uma trilha sonora cativante, como tivemos no próprio “O Diabo Veste Prada” e no recente “P.S. Eu Te Amo”. Em “Vestida Para Casar”, vemos apenas a trilha instrumental aparecendo em último plano e não casando com a maioria das cenas, enquanto nos momentos finais é cantada “Like a Star”, música belíssima de Corinne Bailey Rae, que conseguiu ficar deslocada em cena e perder a beleza. Isso porque a música foi só um adicional ao momento, servindo de parapeito para o que estava acontecendo e não marcando a ação em si.

Katherine Heigl está trilhando os passos de muitas das grandes atrizes de Hollywood. Sendo uma atriz talentosa, Heigl chamou atenção com a atuação espetacular no seriado “Grey’s Anatomy”, principalmente durante a segunda temporada, e no recente "Ligeiramente Grávidos". Dona de uma beleza e carisma únicos, Heigl mostra que, mesmo participando de mais uma comédia no cinema, sabe usar do processo criativo para não se repetir, o que é muito raro no gênero. Heigl tem harmonia com todo o elenco e sabe dosar seus tiques e romantismo em cena. Em nenhum momento o roteiro a rotula como solteirona, mas dá a sensação que participar de todos os casamentos faz com que Jane se sinta mais completa consigo. E é feliz com isso. O que a faz é a entrada de Kevin na trama, abrindo os olhos dela para a própria vida que ela esquece de cuidar enquanto organiza a dos outros.

O elenco ainda traz James Marsden, mais um ator em destaque na indústria. Mesmo não convencendo muito como um jornalista, ele exerce a função de ser um conselheiro amoroso para a protagonista, até que ela se apaixone por ele. Marsden não está em uma de suas melhores performances, mas o charme do ator faz com que ele tenha carisma. Outra que se destaca em cena é Malin Akerman, que também está investindo nas comédias. Além de bela e talentosa, Akerman tem uma grande presença cênica, por mais que neste longa ela abandone o papel de loira sem inteligência e seja vista como anti-heroína. No elenco ainda aparece Edward Burns, que não abandona o piloto automático e incomoda com a voz rouca. Judy Creer como Casey, a melhor amiga de Jane, está impagável, apesar de aparecer pouco em cena.

Sendo apenas mais uma comédia bonitinha que todo mundo sabe como vai terminar, “Vestida Para Casar” tem seus momentos, mas sustenta a história na capacidade e carisma do elenco. Um melhor cuidado na hora de realizar a produção poderia ter evitado um rebaixamento na qualidade do longa, mas mesmo assim ver Katherine Heigl em ação é sempre bom.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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