Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 06 de fevereiro de 2008

Juno

A indicação ao Oscar, o falatório da imprensa norte-americana e a atuação de Elle Page tornam "Juno" um filme imperdível, mas a simplicidade do longa-metragem causa a impressão de ser uma obra dispensável.

Juno é uma garota de 16 anos que descobre estar grávida. Sua idade nada tem a ver com sua maturidade. A pequena mulher, brilhantemente interpretada por Ellen Page, sabe perfeitamente como enfrentar as conseqüências de seus atos e, ao invés de optar pelo aborto, decide dar seu bebê para um casal que há muito deseja um filho.

A história de "Juno" é extremamente simples e, talvez por isso, conquistou platéias americanas e uma indicação ao Oscar de melhor filme. O título do longa-metragem dirigido por Jason Reitman é preciso. O drama, o romance, o humor, tudo está presente em Juno. A franqueza da personagem não necessita de recursos além de diálogos bem construídos e referências culturais e, por uma exposição honesta, semelhante à que Reitman realizou em "Obrigado por Fumar", o filme independente tomou proporções épicas.

Juno descobre sozinha que está grávida, caminha sozinha para uma clínica de aborto e conclui sozinha que o melhor a fazer é beneficiar uma família a procura de uma criança para adoção. Quando, calma e racionalmente, a garota conta ao pai e à madrasta sua decisão, todas as precauções estão tomadas e os detalhes arranjados. Juno já escolheu os pais de seu bebê e, somente por imposição, visita o casal acompanhada por seu pai.

Jennifer Garner e Jason Bateman são Vanessa e Mark, um casal típico da classe média americana que, após o casamento, falharam na tentativa de ter um filho. O desejo de ser mãe faz parte da natureza de Vanessa e, como muitas mulheres que precisam recorrer a outras alternativas para a realização do sonho materno, sua ansiedade atinge em cheio o marido Mark, afastado das paixões de juventude, preso à carreira de marido e futuro pai.

O encurralamento de Mark no casamento e a chegada de Juno à vida do casal se chocam drasticamente. Juno representa uma divertida realidade há muito deixada para trás e sua maturidade, sua visão de mundo, despreocupada, mas mesmo assim realista, o atrai e o carrega de volta ao passado adolescente.

"Juno" é uma história sobre maturidade, sobre escolhas, corretas ou não, que resultam em novas ações e novas perspectivas. É sobre assumir suas preferências, seus desejos e decisões e mantê-los. Juno, apesar da pouca idade, é capaz de se prender aos princípios que tem e não se desvia deles nem mesmo quando parece estar perdida ou ameaçada.

É a simplicidade que faz de “Juno” uma obra interessante e, como foi com “Pequena Miss Sunshine” no ano passado, a Academia que escolhe os indicados ao Oscar e a imprensa americana agem como se tivessem descoberto uma pérola máxima do cinema. Não é o caso. O filme é realmente belo e interessante em sua execução, mas não há nada de extraordinário. Ellen Page é, sem sombra de dúvida, o destaque maior do longa-metragem e a razão pela qual o falatório em torno de “Juno” tem sua parcela de justiça. Sua atuação, entretanto, não justifica o endeusamento do filme.

O mérito no trabalho de Jason Reitman está em imprimir uma segura sensibilidade em uma garota de 16 anos e em apontar as falhas que carregamos desde a adolescência. “Juno” não deveria jamais ficar entre nomes obscuros do cinema independente, mas a expectativa criada por críticas exageradas e por uma indicação ao Oscar deve causar um leve desapontamento no espectador. “Juno” é ótimo, mas não fantástico.

Lais Cattassini
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