Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 09 de janeiro de 2008

P2 – Sem Saída

“P2 – Sem Saída” é mais um filme onde a mocinha fica nas mãos de um vilão malvado, já que não tinha muito o que fazer na noite de Natal. O filme todo mostra a luta pela sobrevivência e como a personalidade da protagonista vai se alterando para tentar, mesmo com a unha quebrada, sair ilesa no final da projeção.

A exuberante Rachel Nichols interpreta Angela Bridges, que está tentando fechar um complicado contrato na véspera do Natal. Sendo praticamente a última a sair da empresa onde trabalha, a moça vai até o estacionamento P2, mas percebe que seu carro não liga. Minutos mais tarde, vê que as possibilidades de sair do local são remotas e não consegue nem usar o telefone corretamente para avisar do contratempo à família. No estacionamento, Angela conhece Thomas (Wes Bentley), um segurança que tenta ajudar a moça a sair de lá, mas ela acaba descobrindo as verdadeiras intenções do não tão simpático vigilante. Ele quer apenas uma companhia para o Natal, com direito a uma pequena ceia na qual começa a explicar sua obsessão por Angela. A partir daí, o psicopata mostra que não é tão gente boa como aparentou e faz da noite natalina da loira do decotão uma verdadeira corrida para sobreviver e poder comer o peru de Natal.

O argumento do filme segue por todas as linhas previsíveis de um possível seqüestro da protagonista. Ela corre pelos andares do estacionamento, mas acaba se prendendo no elevador do local, onde seria muito mais fácil ser achada. O roteiro desenvolvido pelo trio Franck Khalfoun, Alexandre Aja e Grégory Levasseur fica no óbvio, mas apela para o grotesco para causar momentos com mais adrenalina. E fica só nisso. O vilão não consegue ao menos ser convincente que era encantado pela mocinha, muito menos que sua solidão no Natal era uma desculpa para ter um momento a dois com ela. Será mesmo que ele já tinha certeza que ela ficaria até mais tarde na empresa, sendo a última a sair? O vouyerismo pelas câmeras de segurança dá mais superficialidade ao olhar de Thomas, o Tom. Além disso, Angela também não é lá essas coisas de profunda, se limitando a andar direto com presentes e roupas de Papai Noel na primeira parte do filme, quando seria mais fácil se preocupar em sair dali.

O roteiro é tão medíocre que chega a um ponto que ele próprio reconhece sua insignificância. Em um determinado momento de apuros, Angela começa a implorar por piedade a Tom, e repete várias vezes o nome do vilão. Assim como o espectador, o vilão afirma que não agüenta mais ela falando aquilo. E assim vai. Vários dos diálogos são sem propósito, fazendo com que Rachel Nichols use seu talento para exibir um os belos seios ou para gritar, correr e quebrar a unha. Sim, porque a tosqueira começa com uma unha quebrada sendo arrancada do dedo e termina em uma explosão (tem que ter uma explosão). Enquanto isso, Tom afirma tanto que não quer machucar a garota, que a prende com algemas e depois solta um cachorro atrás dela. A eficácia da história se perde do meio para o final, quando o filme só tem a investir na carne e vira praticamente um “Jogos Mortais”. E como se não bastasse, a trilha sonora é errônea, sumindo quando é preciso ou exagerando em outros.

Para não dizer que só tem erro, os roteiristas criam uma personalidade inicialmente interessante para Tom, que mostra-se belo e carismático, mas depois revela-se um desequilibrado. Wes Bentley mostra bem essa transição, mas acaba sendo incompreendido por falta de argumento. Atualmente está difícil criar vilões que realmente saibam se movimentar entre os conflitos de uma trama, e Tom não é um deles. Outro acerto é transformar Angela em praticamente uma sanguinária. Ela fica tão farta de ser a caça que, em determinado momento, muda a personalidade e vê que o único jeito de sair dali é caçando também. Não que isso seja inovador ou mérito, mas para a loira frágil que só grita, ter essa atitude ajuda em muito seu personagem. Ambos os atores têm talento, mas ficam limitados a obviedade da história.

O diretor Franck Khalfoun transita em momentos satisfatórios e deprimentes durante o longa. Em vários momentos, a tensão é quebrada sem justificativa, ou então para introduzir um seqüencial que não sustenta o suspense. Além disso, a beleza de Nichols acaba sendo prevalecida em diversas cenas, até quando ela fica toda suja de sangue ou com o vestido sujo. Sem esquecer dos terríveis erros de continuidade. De qualquer forma, Khalfoun consegue ser eficaz em um ou outro momento que leva a poucos sustos, ou quando possibilita que a edição seja interessante o suficiente para transformar um simples momento em grande. Entretanto, o diretor mostra a necessidade constante de mostrar em todos os ângulos um “P2” pintado na parede, na coluna, no chão. Claro que isso era o mínimo que ele podia fazer, mas não com tanta freqüência. Todos já sabem que aquilo está acontecendo no P2. É tanto que já não tem tanto efeito quando a trama sobe ou desce de andar e é possível ver P1 ou P3.

O principal destaque da condução de Khalfoun fica mesmo com a sádica visão de ferimentos que ele tem. O diretor não poupa sangue, carne exposta ou tortura, chegando a apelar de uma forma tão bizarra que fica até engraçado. Além disso, ele faz com que a história canse tanto o espectador, que nos aliamos à heroína e ficamos torcendo para ela sair logo dali e o filme acabar. Quando acaba, nada foi acrescentado à vida do público, e você percebe apenas que poderia ter escolhido outro filme ou ter perdido quase duas horas do seu dia com outra coisa. De qualquer forma, “P2 – Sem Saída” vale para quem gosta de entretenimento meia-boca, não sendo um exemplar decente de terror ou suspense. Apenas uma forma de admirar a beleza da protagonista e torcer para que ela não precise fazer filmes assim de novo para ganhar uma graninha.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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