Simplicidade em primeiro lugar. É essa a principal estratégia de “Um Verão Para Toda a Vida”. Filmes como esse sempre terá um ótimo espaço na estante de um cinéfilo que gosta de sentir e crescer junto ao filme que esta presenciando.
Título traduzido de “December Boys”, “Um Verão Para Toda a Vida” foi filmado majoritariamente na Austrália. A projeção acompanha uma inesperada viagem de férias de quatro garotos: Spit (James Fraser), Misty (Lee Cormie, de “No Cair da Noite”), Sparks (Christian Byers) e Maps (Daniel Radcliffe, famoso por interpretar o personagem principal da franquia “Harry Potter”). Eles todos são órfãos que vivem em um orfanato católico à espera de uma adoção. Todavia, encontrar uma boa família não é nada fácil. Por outro lado, no mês do aniversário dos quatro (dezembro, por isso o nome original), repentinamente, eles ganham uma viagem de férias para uma singela enseada. Lá, o grupo dos quase-irmãos terá a oportunidade de viver com menos regras, ter acesso a algumas novidades e, o melhor de tudo, se conhecer melhor.
Onde estão aqueles filmes que vão do nada para canto algum? Ficaram nos anos 80 e em meados dos anos 90? Onde foram parar as produções modestas que não levavam quase ninguém às salas de cinema, mas hoje figuram muito especialmente em prateleiras de DVD’s? Porque eles se foram? Será que é preciso muito dinheiro, atores super premiados e/ou diretores ultra mega consagrados para se ter um filme agradável? Será? Sentia falta de certos sentimentos advindos de um gênero específico do cinema, aquele gênero que prima pela simplicidade. Há muito tempo não sentia a história de um filme como se fosse minha. “Um Verão Para Toda a Vida” fez o favor de compensar essa minha carência.
Pelo início muito lento, morno diria eu, “December Boys” (permitam usar o nome original por conta do tamanho) pode passar a impressão de que não será um filme inovador, com um fundo dramático surpreendente ou um roteiro extremamente entranhado a ponto de ser indicado a várias premiações. De fato não é e nem almeja ser. Ainda mais. Por muito tempo ele mantém o tom lento observado no início. Todavia, com a simplicidade que uma boa comédia/drama pede, aos poucos vamos entrando no clima daqueles quatro garotos satisfeitos. Aos poucos vamos passando a sentir o filme e, tão logo, podemos nos ver apegado a ele. Aquela lenta condução do início até a metade, apresentando calmamente os elementos do roteiro, passa a ser compreendida. Um ótimo trabalho de direção de Rod Hardy aliado ao roteiro de Michael Noonan e Marc Rosenberg.
Vale ressaltar a performance dos atores, sobretudo dos quatro garotos. Lógico, o peso maior recai sobre Daniel Radcliffe por todo o seu trabalho prestado à franquia do bruxo Harry Potter. Não sou nenhum entusiasta do ator, mas gostei e consegui desprendê-lo do seu personagem mais famoso. Porém, não consigo realmente julgar o que era melhor: ele ou o personagem. Evidente que o ator tem grande parcela, mas, tal como aconteceu com Misty, senti uma aceitação muito grande de suas características. Quem for assistir a película por conta de Radcliffe (e muita gente fará isso) poderá se deparar com muito mais do que esperava.
No caso de muitas projeções após entrarmos no clima da história queremos saber o que vai acontecer no final. O mocinho vai salvar a mocinha? Como o vilão morrerá? Será que eles se casam? Sempre há uma dúvida para o final. Em “December Boys” isso até que acontece, mas pelo menos meu sentimento foi de não querer ver esse final. Por mim passava dias só curtindo os acontecimentos da história tal qual se curte uma longa e esperada viagem de férias.
Hoje com tanta tecnologia, super efeitos especiais e roteiros plenamente recheados de aventuras, o estilo de “December Boys” fica meio sumido. Estilo esse que nem todos gostarão, é fato, mas que para o cinéfilo mais sentimental, que gosta de simplesmente curtir o que está assistindo, ele é um estilo único. Faz você rir, você ficar aflito, faz você chorar. Chorar… e como faz. Tudo isso baseado na mais rica e pura simplicidade de como se deve tratar uma produção cinematográfica.
Ano passado tive uma boa surpresa com “Pequena Miss Sunshine”. O jeitão de condução se parece um pouco (eu disse: um pouco – os dois títulos têm temáticas totalmente diferentes, não tomem isso como uma comparação delas) com “December Boys”. Pois bem, gostei, indiquei, mas poucos gostaram. Talvez seja esse então o motivo desse gênero estar cada vez mais escasso. Veja só, assisti “Pequena Miss Sunshine” há mais de um ano para só agora ter acesso a uma produção parecida. Eu não preciso esperar tanto. Sinceramente, eu não preciso.